O Caminho Ganha Nova Dimensão
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Património Cultural das rotas portuguesas a Santiago de Compostela
A História, as Lendas e o Património dos Caminhos de Santiago

Finalmente o Porto...

Capítulo XII – Pelo Caminho Central, de Lisboa ao Porto tanto património para descobrir – Parte 8

Ao deixarmos Oliveira de Azeméis, o Caminho começa a conhecer um misto de paisagem entre pequenas serras, com uma natureza cada vez mais diminuta e uma visão industrial que nos remete para a proximidade de uma grande urbe, sem, contudo, perder a autenticidade que a rota nos proporciona.

Mal nos fazemos ao piso encontramos a igreja de Santiago de Riba-Úl, datada de 1712, plantada numa paisagem rural que nos fará suspirar de saudade assim que pisarmos a faceta fortemente industrial desta região.

À medida que vamos ganhando quilómetros, aproximamo-nos de uma das localidades mais importantes das cercanias do Porto: São João da Madeira, conhecida como a cidade do “Labor” (como atesta o seu brasão municipal). Por essa razão, a grande faceta de S. João da Madeira é o encontro da atividade industrial com as suas gentes e com todos os que visitam esta cidade, ao promover os primeiros exemplos de turismo do património industrial em Portugal, com destaque para a sua fábrica de chapelaria.

Continuamos em direção a Malaposta, toponímia que nos remete para a importância da antiga estrada real como eixo fundamental de comunicação entre o sul, centro e norte do país. E eis que chegamos enfim a Vila Nova de Gaia.

Um dos maiores concelhos do país, já fez parte do “termo” do Porto e em 1834 viu duas das suas localidades (Gaia e Vila Nova) juntarem-se numa única e grande cidade que cresceu - defendem vários investigadores - à volta de um antigo castro virado para o rio Douro e que ainda hoje se conhece como o “Castelo”, aludindo à antiga lenda da fortaleza do mouro Alboazer Almuçadam, conquistada pelo rei Ramiro II de Leão.

A importância da Igreja nestas terras proporcionou a edificação de mosteiros e conventos extraordinários como os de São Salvador de Grijó (922), de Pedroso (822) e o convento Corpus Christi (1345). Descobrir estes locais de culto é viajar pelos tempos anteriores à nacionalidade, por entre manifestações românicas (como em Pedroso), góticas, barrocas e neoclássicas (como em Grijó e Corpus Christi). Mas de todos os espaços religiosos que podemos descobrir sobressai o Mosteiro da Serra do Pilar, que se encontra junto à artéria que nos levará à ponte Luiz I, porta de entrada na cidade do Porto: a Avenida da República. Por esta estrada a Gaia moderna cresceu, sem esquecer o seu passado, preservando a memória no alto da serra que já se chamou de S. Nicolau.

Foi a dinastia filipina que introduziu o culto à Senhora do Pilar em território português, iconografia intrinsecamente conectada com a tradição jacobeia, por via da aparição de Nossa Senhora (no alto de um pilar de jaspe) a Santiago, que terá tido lugar na atual cidade de Saragoça, no ano 39 da nossa era.

mosteiro grijó

Fotografias | Altar mor do mosteiro de S. Salvador de Grijó e Porta com Vieiras.

Conduzido pelas setas amarelas ao longo da avenida (passando inclusive por uma porta de madeira de rara beleza, com vieiras esculpidas na face, e que se encontra depois de um conhecido shopping de uma cadeia espanhola) o peregrino acerca-se do morro e, num último esforço, acerca-se do terreiro do mosteiro, proporcionando uma vista privilegiada para a cidade do Porto. No interior do mosteiro, fundado por uma comunidade de cónegos regrantes de Santo Agostinho provenientes do mosteiro de Grijó, em 1672, podemos contemplar uma das raras estruturas religiosas em círculo, ao mesmo tempo em que descobrimos o claustro também em forma de infinito.

mosteiro do pilar

Fotografias | Imagem da Senhora do Pilar no interior da igreja do Mosteiro da Serra do Pilar

Classificado como Património Mundial em 1996 (juntamente com o centro histórico do Porto), o mosteiro da Serra do Pilar assistiu a acontecimentos trágicos, desde as invasões francesas à luta entre liberais e absolutistas, esteve durante largos anos votado ao abandono e grande parte do espaço serve ainda hoje como estrutura militar (quartel de artilharia nº 5 do exército português).

Agora afastamo-nos da panorâmica fotográfica e adentramos na verdade calcorreante do património da cidade invicta. Chegamos finalmente à cidade do Porto e a partir daqui o Caminho ganha uma nova dimensão!


Fotografias | Artur Filipe dos Santos

Lê toda a rubrica  | 
Capítulo I – Entre a história e a Tradição, um nome para a eternidade
Capítulo II – Antes do Caminho de Santiago, o Caminho pré-cristão
Capítulo III – Fernando I de Leão, o primeiro peregrino do Caminho Português
Capítulo IV - Os Caminhos Portugueses a Santiago
Capítulo V – Rota do Património da Costa Atlântica Portuguesa
Capítulo VI – Da Capital do Gótico ao Reduto dos Templários
Capítulo VII – Tomar: O bastião Templário que salvou Portugal
Capítulo VIII – O Tesouro da Rainha Santa na cidade dos Estudantes
Capítulo IX – Em Santiago para Agradecer o Milagre das Rosas
Capítulo X – O Caminho na rota da Gastronomia
Capítulo XI - O Caminho passa pela Rua Colorida
Capítulo XII - O Caminho Ganha Nova Dimensão
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