O Desafio da Liderança Atual
Um dos impactos mais significativos da pandemia mundial da covid-19 foi, sem dúvida, fazer-nos parar e pensar. Ficar isolados e alterar, de um dia para o outro, as formas de trabalho e de comunicação com os outros, obrigou-nos a sair da nossa zona de conforto e a repensar as nossas vidas.
A nova realidade de trabalho, o recolhimento dentro de casa e o convívio com a nossa família mais restrita trouxeram uma consciência mais profunda da importância e da quantidade de funções que desempenhamos nas nossas vidas: a que vem no nosso recibo de vencimento, ser pai, mãe, filho, irmão, primo, amigo, vizinho, cidadão. Algumas destas funções têm a nossa prioridade, o nosso comprometimento consciente, mas todas exigem de nós um investimento em tempo e em energia e contribuem para a nossa felicidade e realização pessoal. Em todas as funções tomamos decisões, agimos, motivamos e inspiramos os outros para um objetivo comum, isto é, atuamos como líderes. Num jantar com amigos, num desporto em equipa, numa reunião de condomínio, quando organizamos as atividades das crianças ou nas empresas, desde o segurança até ao Conselho de Administração, estamos constantemente a exercer um papel de liderança.
Estarei a ser bom líder em todas as funções que desempenho?
A dificuldade que temos no reconhecimento da nossa capacidade de liderança está relacionada com o autoconhecimento, com o tempo que dispensamos a nos conhecer, a perceber o que nos motiva, o que nos faz feliz, qual o nosso propósito, quais os nossos pontos fortes e competências distintivas, quais os nossos valores que orientam os nossos comportamentos. E a pergunta mais desconfortável que é: qual o meu propósito de vida? Estarei a seguir o meu propósito de vida?
Muitas pessoas aproveitaram os desafios apresentados pela pandemia, quer pela alteração dos seus trabalhos quer pela oportunidade de estarem consigo próprias, para refletirem e se alinharem com o seu propósito de vida. E saíram da sua zona de conforto, mudaram, muitas vezes até de forma radical, as suas atividades, as suas funções, as suas missões. Fizeram formações, mudaram de áreas de trabalho, criaram novos negócios. Por outras palavras, assumiram a liderança das suas próprias vidas.
A Liderança não é uma competência exclusiva nem inata dos grandes líderes reconhecidos mundialmente, como o Dalai Lama, Martin Luther King, Nelson Mandela, Steve Jobs. A liderança tem a ver com a capacidade e a vontade intrínseca de cada um de nós em aprender e melhorar constantemente as competências que nos tornam líderes inspiradores e autênticos.
Para liderarmos a nossa vida, temos que analisar as nossas competências interiores e atuar de forma consciente, procurando aprender e desenvolver o nosso potencial enquanto pessoas e enquanto profissionais. Algumas das competências de um líder autêntico e inspirador incluem a capacidade de ouvir os outros, perceber o que os motiva, estar presente, apoiar a procura de soluções para os objetivos comuns e inspirá-los para que possam dar o seu melhor, seja qual for a sua função. Esta disponibilidade vem de uma consciência de contribuição e das competências emocionais de cada um.
Nunca como agora o tema da inteligência emocional foi tão pertinente e tão desenvolvido a nível mundial. Os vários estudos realizados sobre a liderança nos últimos anos apontam a inteligência emocional como uma das competências chave para o desempenho e para o sucesso das pessoas e das organizações. Daniel Goleman, considerado o “pai” da inteligência emocional, tem liderado vários estudos sobre o tema, apontando como foco do sucesso dos líderes as competências emocionais individuais como a autoconsciência, a autogestão dos nossos sentimentos e paixões, do que nos motiva, do que nos torna mais eficazes e o que diminui o nosso desempenho. Estas competências centram-se na própria pessoa e podem ser desenvolvidas através do seu desempenho, disciplina, motivação, foco e experiências individuais.
No entanto, segundo o mesmo autor, a inteligência emocional não é suficiente para um desempenho eficaz dos líderes, uma vez que este está relacionado igualmente com o desempenho dos outros. O desenvolvimento da inteligência social é igualmente fundamental para o sucesso individual e organizacional. Dentro das competências sociais estão a empatia (reconhecer as emoções dos outros, a forma como estes veem as coisas, como se sentem, as suas necessidades de desenvolvimento, para além da orientação para o serviço e a consciência política) e a capacidade de induzir respostas positivas nos outros.
Então, para sermos bons líderes temos que ter consciência das nossas competências de inteligência emocional e social e ter a capacidade de as desenvolver através das nossas experiências diárias, estando conscientes de nós próprios, dos nossos sucessos, dos nossos insucessos e das lições que vamos aprendendo com a vida. Temos que encarar a liderança com a atitude de um aprendiz: curiosidade, vontade de aprender com os outros e com a vida, fazer sabendo que errar traz uma aprendizagem, ser otimista e positivo em relação ao sucesso de todos à nossa volta.
Como faço para me tornar um melhor líder?
É necessário determinação e foco para desenvolver o potencial máximo do nosso líder interior. Tornar-nos o melhor do mundo, um “Cristiano Ronaldo” nas nossas funções. Como dizia Martin Luther King: “Se alguém varre as ruas para viver, deve varrê-las como Michelangelo pintava, como Bethoven compunha e como Shakespeare escrevia.”
Começar por nós próprios, pelo nosso autoconhecimento e desempenho enquanto líderes é o verdadeiro desafio. Se não nos conseguirmos liderar a nós próprios não conseguimos liderar os outros.
A nossa sociedade e a forma como vivemos o nosso dia-a-dia projetam-nos para fora de nós, para o que nos rodeia e para os acontecimentos que nos trazem distrações e ansiedade, mas que não controlamos. O autoconhecimento traz a responsabilidade pelos nossos pensamentos, emoções e ações. A capacidade de aceitar o passado como foi e o presente como é, com uma capacidade de resiliência e uma confiança inabalável nas nossas competências, nos nossos dons e, sobretudo, na nossa missão de vida.

"O caminho faz-se caminhando"
António Machado (Poeta)
É um caminho que se faz caminhando (como dizia António Machado) e que podemos não conseguir fazer sozinhos. Existem atualmente inúmeros recursos relacionados com a inteligência emocional, com a liderança e com o desenvolvimento pessoal, como livros, formações online, Podcasts, Master Classes, Success Summits e serviços de Coaching, mas que dependem sempre do nosso empenho e, sobretudo, da capacidade de integrarmos essas aprendizagens nas nossas funções como líderes, seja nas empresas, seja na família ou nas nossas atividades de lazer.
Cada um de nós pode tornar-se num líder bem-sucedido sendo um eterno aprendiz de si mesmo e da vida. Melhores líderes fazem pessoas mais felizes e bem-sucedidas.
Autora | Ana Vaz, Consultora Sénior de Recursos Humanos. Diretora de Recursos Humanos. MBA em Gestão de Recursos Humanos. MBA em Desenvolvimento Organizacional. Membro da Direção do Clube Women in Business da Porto Business School. Vogal da Direção da Associação de Interin Management