Natal no Porto: Tradições que Atravessam o Tempo

Natal no Porto: Tradições que Atravessam o Tempo

Quando chegam as datas festivas, muitos perguntam: como seria o Natal de antigamente? Na cidade do Porto a pergunta não fica sem resposta.
Explorar a história das tradições natalícias no velho burgo portuense leva-nos numa viagem ao coração da cidade e da alma tripeira, onde a tradição natalícia, rica em história e simbolismo, moldou o espírito natalício que ainda hoje se sente.

O centro das festividades em família no Porto do século XIX era à mesa. O Natal era sinónimo de uma consoada "pantagruélica", como descreveu, no ano de 1885, o jornalista, poeta, historiador e arqueólogo, Francisco Marques de Sousa Viterbo. 

À volta da mesa, reuniam-se famílias e amigos para partilhar o bacalhau, uma iguaria acessível aos mais pobres, acompanhado pelos "belos olhos de couve galega e cebolas". A refeição era regada com vinho quente e animada pelos cantares em torno da lareira, enquanto o pinheiro ardia simbolicamente na queima do tronco de Natal.

A consoada portuense começa à volta da mesa, onde o bacalhau com batatas e couves cozidas reina como prato principal. Esta tradição, que remonta à Idade Média, emerge de uma prática cristã de jejum que proibia o consumo de carne durante o Advento. Para muitos, o bacalhau ainda representa um elo com o passado, embora outras iguarias como o polvo ou o peru assado também se tenham tornado comuns.

A doçaria, claro, não pode faltar. O Bolo-Rei, introduzido no Porto no século XIX pela Confeitaria Cascais, ocupa um lugar de destaque, ao lado das rabanadas embebidas em Vinho do Porto, uma delícia que combina história e sabores locais. Sabia que as rabanadas, inicialmente conhecidas como "fatias douradas", surgiram em Madrid como alimento fortificante pós-parto e que depois se espalhou pelos tascos da capital espanhola?

O mercado da Praça de D. Pedro (que já se chamou de “Campo das Horas do Bispo” da Natividade, da Praça Nova e atualmente ostenta a toponímia de praça da Liberdade) fervilhava de atividade, oferecendo doces tradicionais como o pão-de-ló decorado, nogada e bonecos de massa açucarada, típicos da confeitaria local. 

A animação não se limitava às mesas: as ruas enchiam-se de vida com vendedores ambulantes de mel, compradores de pão de trigo – novidade no Porto de oitocentos e as feiras repletas de povo em trajes domingueiros.

O Espetáculo da Primeira Árvore de Natal Pública

No Natal de 1865, a cidade foi palco de uma "inovação" que marcaria a sua história: a inauguração da primeira árvore de Natal pública no antigo Palácio de Cristal. Com dez metros de altura, o pinheiro encantou os portuenses com a sua iluminação deslumbrante e enfeites de bonecos de Nuremberga, bombons e presentes infantis. O evento, promovido pela direção do Palácio, incluía um concerto e a distribuição de prendas para as crianças, num gesto de pura magia natalícia.

Como descreveu o extinto diário O Comércio do Porto, esta celebração “não iludiu a expectação”. A árvore tornou-se o centro das atenções, desafiando as pequenas ambições das crianças e iniciando uma tradição que, em 2024, continua a encher de luz a Praça do General Humberto Delgado, no topo da Avenida dos Aliados.

Hoje, o Porto mantém viva a essência do Natal de outros tempos. A consoada mantém o bacalhau como rei da mesa, lado a lado com as rabanadas embebidas em Vinho do Porto e o icónico Bolo-Rei, introduzido na cidade em 1890 pela Confeitaria Cascais. As luzes, presépios e a majestosa árvore de Natal são um reflexo do espírito de união e celebração que a cidade preserva com orgulho.

A  Missa do Galo reúne fiéis à meia-noite de 24 de dezembro. Instituída no ano 143 pelo Papa São Telesforo, esta celebração marca simbolicamente o nascimento de Cristo. As lendas sobre a origem do seu nome são tão fascinantes quanto a própria cerimónia: de um galo que cantou à meia-noite até à doação de aves aos pobres.

Mas nem sempre foi assim. Até princípios do séc. XX a missa do galo era apenas realizada no seio de famílias que tivessem membros do clero no seu seio e uma capela no seu reduto habitacional. O escritor Ramalho Ortigão foi, inclusive, um dos mais vorazes opositores a essa tradição. Quando se mudou para Lisboa, no final do século XIX, manifestou a sua indignação perante o que descreveu como "uma invasão do lar pela sacristia" e um "intrometimento sacerdotal" o de interromper o jantar e salutar convívio familiar com a celebração de uma missa.

Apesar de, uma vez mais, a tradição da missa do galo ter perdido o fulgor de outros anos, são ainda muitos os portuenses que se juntam em igrejas icónicas da cidade como a da Lapa ou da Trindade para assistir a uma missa do galo, muitas vezes, acompanhadas de vozes que não se cansam de cantar louvores ao nascimento do menino Jesus.


Gostou do texto? Deixe abaixo a sua reação e comentário... smiley


Ver também |

Comprar ou Arrendar Casa: O que devo fazer?

Comprar ou Arrendar Casa: O que devo fazer?

Vida em Casal: Objetivos Financeiros

Vida em Casal: Objetivos Financeiros

Pronto para embarcar na próxima aventura? Garanta seu alojamento com o Selo Draft World Magazine e descubra o mundo connosco!  Reserve agora