O Fruto Proibido é o Mais Apetecido

O Fruto Proibido é o Mais Apetecido

Eu queria muito viajar para os U.S.A.

Costuma-se dizer que o fruto proibido é sempre o mais apetecido, nem mais… Já há cerca de um ano que ando a sonhar com uma viagem. Neste momento aposto que o meu clube começa a ganhar fãs, afinal de contas quem não anda com vontade de viajar?

Não uma viagem qualquer, quero ir à América. Não consigo vislumbrar nenhum racional nessa vontade. O que criou esse desejo? Estará relacionado com o consumo excessivo de séries?

Preciso desconfinar os neurónios, abrir os horizontes que a pandemia de forma abrupta e repentina fechou e, ao mesmo tempo apoio a economia mundial, nomeadamente o setor da aviação, restauração e hotelaria, é uma situação “win win”.

Qual NASA, Nova Iorque ou Hollywood, quero é ir ao museu da McDonald´s em San Bernardino Califórnia, uma verdadeira referência cultural do “uncle Sam”. Não consigo imaginar nada mais aliciante do que visitar o local onde tudo começou, que marcou uma era e as futuras gerações, que fez com que a obesidade e saúde cardíaca nunca mais fossem as mesmas. Estou com a sensação que a popularidade do meu grupo, após no início do artigo ter atingido máximos históricos, neste momento está em queda livre… O meu índice de popularidade, em muito faz lembrar a cotação das criptomoedas.

Com a situação pandémica mais controlada, já vacinado, "super" habituado a usar máscara e sempre com o frasquinho de álcool gel no bolso, após ponderar todos os prós e contras (em homenagem à Fátinha), finalmente tomei a decisão. Agarrei no "smart" e telefonei à minha agente de viagens… eis a conversa:

- Estou Dona Odete?

- Sim bom dia! Responde-me a senhora com a simpatia que lhe é característica.

- Está tudo bem consigo? De Saúde?

- Está tudo bem felizmente, e consigo?

- Por aqui está tudo ótimo, olhe… preciso que me arranje uma viagem para os Estados Unidos da América ainda este mês, com preferência para a costa oeste… California.

- Olhe Zé Carlos… (pausa de uns eternos segundos) não é possível neste momento, não sabe que as fronteiras americanas estão fechadas aos Europeus?

- Mas eu estou vacinado dona Odete.

- Pois… mas mesmo assim. O bloqueio já vai em 18 meses e neste momento ainda não se consegue prever quando vai terminar… [talvez dia 1 de novembro]

- Hum… Olhe, fiquei sem palavras.

- Lamento muito Zé… E porque não ir às Maldivas? Tenho aqui um preço incrível para si.

- Não obrigado, deixe estar dona Odete. Vou pensar um pouco e depois digo-lhe alguma coisa. Obrigado e boa tarde!

Após esta troca de palavras fui invadido por uma desilusão sem precedentes, o designado “caiu-me tudo no chão”.

A maior parte dos países mundiais têm manifestado preocupação com os custos económicos e humanos da longa paralisação das viagens internacionais, é um facto.

Como abrir as fronteiras e ao mesmo tempo proteger os cidadãos?

É a pergunta que está na ordem do dia. Em rota de colisão com o bom senso, os Estados Unidos da América, ao contrário do resto do mundo, tem agravado as restrições aos estrangeiros, bloqueando o acesso ao seu território a inúmeros países. Já não se pode dizer que é mais uma das loucuras de Trump…

Que razões objetivas podem existir para este bloqueio ao espaço Schengen?

Já há algum tempo que deixei de acompanhar numa lógica diária a evolução dos números COVID, não por não achar pertinente, mas para evitar certos níveis de ansiedade.

Está na altura de consultar as últimas notícias, certamente este bloqueio estará relacionado com os números, preciso descobrir a justificação, nunca consegui lidar bem com o “não… porque não”!

Ora vejamos, em relação aos casos de COVID-19 diários, os EUA apresentam cerca de 153.000 novos infetados, enquanto a Europa tem mais ou menos 121.000. Bem, este critério não justifica a situação.

Quando analisamos os números de óbitos, vemos que os EUA têm tido cerca de 2.000 mortes diárias atribuíveis ao vírus, a Europa mais ou menos 1.800. Por aqui também não vamos lá.

A resposta deve estar então na vacinação, eles devem ir muito à frente, pensei.

Os EUA neste momento têm cerca de 55% da população com a vacinação completa e quase 65% com pelo menos uma dose. Já a Europa apresenta 61% da população com a vacinação completa e 66% com pelo menos 1 dose.

A campanha de vacinação dos EUA estagnou nos últimos meses e ficou significativamente atrás dos esforços de vacinação da UE.

Será um mal português? Portugal tem mais de 83% da população com a vacinação completa e cerca de 87% com pelo menos 1 vacina. Claramente estamos muito acima da média europeia, impossível ser uma descriminação aos tugas.

Portanto, ao dia de hoje, a Europa tem:

Menos (cerca de) 32.000 novos casos de covid diários
Menos (cerca de) 200 mortes por dia
Mais (cerca de) 6% da população com a vacinação completa
Mais (cerca de) 1% da população com pelo menos uma dose da vacina

WTF?

Nós é que devíamos fechar as fronteiras com eles, grande descaramento…que hipocrisia!

Vou mandar estas contas à senhora Odete, pode ser que ela, com os seus 40 anos de experiência em viagens, consiga fazer “lobby” ao Bide(n).