A Criptomoeda é Pouco Amiga do Ambiente
Verdes…mas pouco!
Na última década, acima de tudo por razões ecológicas, temos assistido à redução do uso e impressão de papel, hoje, antes de usarmos as nossas impressoras pensamos duas vezes. Será que é mesmo importante imprimir isto? Quantas árvores serão abatidas por conta do meu umbigo? Uma verdadeira consciência ecológica invade-nos, tem vindo (e vai continuar) a mudar as nossas rotinas e redefinir as prioridades, o que é de saudar.
Decerto já se deu conta que já não aparecem na caixa de correio as “velhinhas” contas em papel, seja da internet, água, eletricidade ou mesmo gás. A maioria das empresas já mudaram de paradigma, enviam-lhe tudo por correio electrónico e/ou sms, algumas delas, ainda lhe fazem um desconto se aderir à fatura eletrónica.
Tenho ouvido com alguma frequência algo que me deixa perplexo, felizmente não da boca de familiares, mas acima de tudo de amigos e colegas de trabalho que muito prezo. Temos uma relação excecional, partilhamos muitas ideias, comungamos muitos valores, temos gostos de vinho muito similares e, em muitos casos até torcemos pela mesma cor no futebol. Mas não consigo estar de acordo com uma teoria verde que ultimamente tem surgido…No “coffee break”, vindo do nada, ouço a seguinte afirmação: “Para bem do planeta temos de reduzir o consumo de papel, já era tempo de mudar o paradigma e passarmos para as moedas digitais, poupava a vida de muitas árvores”.
Uma justificação ecológica para abandonarmos o dinheiro físico e adotarmos a criptomoeda a 100%? Fiquei a pensar na afirmação, algo não bate certo nesse raciocínio, as minhas narinas foram invadidas por um forte odor a populismo. Em bom rigor não tenho nada contra as criptomoedas, em poucos segundos consigo imaginar diversas razões para as adotarmos no nosso dia-a-dia, mas razões ambientais? Não encaixou…O dia de trabalho continuou e ao final da tarde voltei para casa, até vinha a ouvir música no caminho, mas não conseguia esquecer aquelas palavras aparentemente pouco sábias, mas precisava de investigar o caso…
As moedas digitais podem trazer várias vantagens, faz sentido que o dinheiro programável seja necessário e desejável, uma vez que a nossa economia é gerida em e por computadores. A criptomoeda tem potencial para resolver os principais problemas que têm sido atribuídos à moeda física, mas para já, não será a salvação da camada de ozono.
A maioria das criptomoedas são mineradas em super computadores, que trabalham 24 horas por dia, fazem milhares de cálculos por segundo de forma a verificar continuamente cada peça da “blockchain”, fazendo com que a falsificação da moeda seja muito mais difícil. Estes computadores têm um gasto energético muito significativo.
A verdade é que há muito que a comunidade científica manifesta-se preocupada com a crescente quantidade de energia necessária para minerar Bitcoin. Segundo a Cambridge Bitcoin Electricity Consumption Index (CBECI) atualmente, a Bitcoin usa cerca de 149 terawatts-hora (TWh) de eletricidade por ano, valores superiores por exemplo ao consumo anual da República da Irlanda. Segundo a mesma fonte, a mineração de Bitcoin na China produz anualmente cerca de 130 milhões de toneladas de carbono, o que representa uma emissão superior a vários países.
Atualmente, uma simples transação de Bitcoin gasta a mesma quantidade de energia que uma família americana durante um mês e é responsável por cerca de um milhão de vezes mais emissões de carbono do que uma transação Visa.
Segundo as últimas estimativas, a mineração de Bitcoin representa 0,6% do consumo total de eletricidade do mundo.
Na primavera passada Elon Musk, o patrão dos veículos elétricos americanos, divulgou no Twitter:
“Por razões ambientais, a minha empresa vai deixar de aceitar bitcoins. Vai ser imediatamente suspensa a compra de automóveis com criptomoeda”
Elon Musk
Estão em cima da mesa várias ideias e estratégias para reduzir a pegada de carbono das criptomoedas. Uma das ideias que conquista mais adeptos já está em experimentação na “blockchain” da moeda Ethereum, a designada prova de compra, que depende da propriedade da moeda em vez de mineração computacional.
Ver gráfico ► Cambridge Bitcoin Electricity Consumption Index