Igrejas que Medem a Passagem das Estações
Igrejas que Medem a Passagem das Estações
Igrejas que Medem a Passagem das Estações

Igrejas que Medem a Passagem das Estações

Ao longo dos séculos algumas igrejas por essa Europa fora ajudaram os homens a medir a passagem das estações, realidade fundamental para a sobrevivência das populações, face à necessidade de saber quando plantar e qual o momento certo para colher. San Petronio, em Bolonha, Saint Sulpice em Paris, San Juan de Ortega, em Burgos e Santa Marta de Tera, entre Zamora e Puebla de Sanabria, em Espanha, são alguns dos templos que na altura da passagem dos equinócios tornam-se autênticos lugares de peregrinação “new age”.

O Hemisfério Norte acaba de celebrar o equinócio da Primavera. Sabemo-lo porque dos milénios que a Humanidade já leva de existência, sempre fez parte da sua natureza desenvolver esforços para contar o tempo, impulsionar a evolução da nossa tecnologia e ciência ao longo da história. A necessidade de medir as divisões do dia e da noite levou os antigos egípcios, gregos e romanos a criarem relógios de sol, relógios de água e outras ferramentas cronométricas. Os europeus ocidentais adotaram essas tecnologias, criando, inclusivamente, relógios mecânicos a partir do séc. XIII. E se as sociedades alcançaram com sucesso a mediação relativa dos dias, tão ou mais necessário seria medir a passagem das estações, a posição do Sol ao longo do ano, de forma a calcular o momento certo para semear esta ou a aquela cultura agrícola ou de apanhar os frutos que a natureza, ano após ano, oferecia.

Se os egípcios, gregos, celtas e romanos conseguiram medir com mais ou menos eficiência a passagem da primavera para o verão e assim sucessivamente, a partir da Idade Média também as igrejas cristãs ofereceram um precioso contributo nessa demanda em medir as estações.

E se é verdade que, no ponto de vista de calendário, solstícios e equinócios divergiam nos dias, fosse esse o calendário judaico, juliano ou gregoriano, a realidade é que as medições geométricas que calculavam a posição dos templos face, por exemplo a Jerusalém, mostravam-se minuciosamente precisas quanto à viagem do Sol pela elíptica celeste ao longo dos meses, atestando a qualidade de arquitetos e mestres pedreiros medievais. 

Existem um pouco por essa Europa fora (mas com enfoque em Itália, França e Espanha), exemplos extraordinários de igrejas que apresentam características únicas da sua arquitetura e que demonstram uma finalidade comprovada em medir a passagem das estações, seja por intermédio de linhas no chão, óculos ou orifícios, pedras ou aras, marcas, rosas do vento ou esculturas.

Igreja de San Petronio_ Bolonha

A título de exemplo destaque-se a Basília de San Petronio, em Bolonha, datada do séc. XIV, onde um simples orifício, que se encontra no ponto em que a abóboda de cruzeiro se une na nave central, a meio caminho entre a entrada do templo e a abside, deixa entrar um raio de luz precisamente nos solstícios de Verão e de Inverno, iluminando uma linha que se encontra no chão da basílica, que divide o momento de cada solstício.

Gnomon e linha orientadora das estações do ano_igreja de Saint Suplice

Fotografia | Gnomon e linha orientadora das estações do ano, igreja de Saint Suplice ► Andy Hay

E se neste templo é um óculo e uma linha que permitem a orientação das estações, na extraordinária igreja parisiense de Saint Sulpice (séc. XVII) é o “gnomon” que permitiu às gentes da capital francesa descobrir o início de cada estação do ano. Sistema astronómico de medição da passagem dos equinócios criado pelo matemático e construtor de relógios Henry Sully (inventor do primeiro cronómetro marinho, em 1716), o “gnomon” é um obelisco que se encontra no transepto, do lado norte do cenóbio e uma linha que acompanha longitudinalmente o desenho do obelisco pelo chão do templo e que, com a ajuda de um orifício que se encontra em frente ao obelisco, ilumina marcas específicas na linha, que indicam a passagem das estações.

Nos Caminhos de Santiago Francês e na Via de La Plata, outros dois templos se destacam pela sua capacidade em medir as épocas do ano, com a curiosidade de ambas serem caracterizadas pela iluminação de um capitel específico que marca essa passagem do disco solar. Em Burgos, ponto fundamental do Caminho Francês a caminho de Compostela, a igreja do mosteiro de San Juan de Ortega (séc. XII) vê o capitel da Anunciação ser iluminado duas vezes no ano, em setembro e em março, precisamente nos equinócios de outono e primavera respetivamente e, por incrível que possa parecer, sempre à mesma hora: às 5 horas da tarde.

Já em Zamora, na Via de la Plata, a igreja do mosteiro de Santa Marta de Tera (séc. XI) destaca-se por ser conhecida por muitos entusiastas “neo-pagãos” (surgidos no período cultural que o séc. XX conheceu como a onda “New Age”) como o “Templo da Luz Equinocial”. Para além desta igreja guardar a imagem escultórica mais antiga da iconografia de Santiago Peregrino, em 1997 o padre Julián Acedo descobriu que o capitel da Ascensão da Alma se iluminava entre os dias 21 de março e 23 de dezembro, por volta das 9 horas da manhã. 

Após a descoberta, ano após ano, são cada vez mais os turistas (mas também peregrinos) que não perdem a oportunidade de vislumbrar o acontecimento astronómico e isotérico.  


Fotografia de capa | Fenómeno de luz equinocial que ocorre na igreja de Santa Marta de Tera, na província de Zamora, o fenómeno ocorre nos equinócios de primavera e outono. ► Canaidu

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