Turistas e Residentes

Turistas e Residentes

Relação de amor ou de ódio?

De "ano dourado" a "ovelha negra"! O turismo em Portugal há vários anos que vinha fazendo uma trajetória crescente, chegando mesmo em 2019 a atingir a incrível fasquia de 70 milhões de dormidas, simplesmente o maior valor de que há registo, o que deu origem a receitas na ordem de 18,4 mil milhões de Euros, segundo o INE. Até ao ano de 2019 não há dúvida que o turismo era, se não a mais importante, uma das mais importantes atividades económicas em Portugal representando cerca de 15% do produto interno bruto (PIB).

Já em 2020, devido à situação pandémica, às consequentes restrições de viagens e a uma queda sem precedentes na procura, foi registado uma diminuição nas dormidas de cerca de 75%, o que retirou da economia Portuguesa uns estonteantes 10 mil milhões de euros. O que podemos dizer sobre isto? Um rombo colossal ou talvez, um golpe desferido nas “partes baixas”!

Os dados de 2021 ainda estão a ser cozinhados, mas para já a realidade não me deixa muito otimista, creio que a ambição já há muito que deixou de ser a comparação com 2019 (o ano dourado), mas sim com o ano passado (a ovelha negra).

Apesar do setor do turismo ser fundamental para a geração de riqueza e emprego em Portugal, às vezes, dá a sensação que tudo é belo, que é a solução para todos os problemas, como se fosse uma espécie de medicamento que não provoca efeitos secundários, o que não é verdade.

Quando se fala de turistas e de residentes, fala-se de dois grupos importantes para o desenvolvimento da atividade turística, no entanto essa relação é muitas vezes conturbada, pois uns estão interessados no lazer e usufruir o local, enquanto os outros estão preocupados com a rotina do dia-a-dia e a geração de lucros.

Não é de todo fácil criar um ecossistema equilibrado e sustentável entre estas duas espécies tão diferentes, mas ao mesmo tempo completamente dependentes uma da outra, podia mesmo dizer que é um casamento difícil. Tudo indica que há amor, o que em nada impede que em simultâneo também surjam alguns “arrufos”.

Ao visitar um destino, o turista interage com pessoas que trabalham para melhor atendê-lo, que tudo fazem (ou deviam fazer) para proporcionar satisfação, para que o visitante se sinta confortável a abrir os cordões à bolsa. Também é sabido que uma pessoa satisfeita em média, divulga e recomenda a boa experiência que teve a pelo menos 5 outras pessoas. Mas quando as coisas não correm bem, a mesma pessoa divulga a má experiência a pelo menos 15 pessoas. É uma informação incontornável quando o objetivo é promover uma cidade, uma região…um país.

Se o objetivo é voltar a atingir ou mesmo superar os valores dourados de 2019, ao fim ao cabo de uma forma natural, Portugal tem de ser uma espécie de “vendedor de boas experiências”, só assim conseguimos melhorar a adesão e a retenção do capital estrangeiro.

Os residentes, que normalmente trabalham muito, por uma remuneração baixa, disponibilizam o seu espaço, o seu habitat e, vão assistindo e sentindo as alterações no seu modo de vida em função do fluxo de turistas que por ali passam.

Uma boa parte dos turistas, simplesmente não se importam ou, não têm a noção de como a sua forma de agir traz benefícios ou malefícios ao local e aos seus moradores. O turismo de massas contribui para que isto aconteça, fomenta uma falta de consciência no que toca às responsabilidades individuais de cada pessoa e na sua relação com o outro, com pouca ou nenhuma participação ou respeito pelas normas e condutas locais.

A massificação das viagens, a organização racionalizada e o desenvolvimento padronizado normalmente são um empecilho às relações calorosas e a qualquer tipo de troca intelectual.

Felizmente existem várias exceções, é disso exemplo o turista explorador, que tenta integrar-se e interagir com a população local, chegando mesmo a manifestar vontade de aprender a língua do país.

Em jeito de conclusão, o sentimento dos residentes perante os turistas resume-se de uma forma simples…

Amo o teu dinheiro, mas os teus maus hábitos não me atraem!