A Caminho do Templo do primeiro Bispo de Braga
A Caminho do Templo do primeiro Bispo de Braga
A Caminho do Templo do primeiro Bispo de Braga
A Caminho do Templo do primeiro Bispo de Braga
A Caminho do Templo do primeiro Bispo de Braga

A Caminho do Templo do primeiro Bispo de Braga

Entre campos, pontes, ermidas e bouças, o Caminho Português ruma a norte até S. Pedro de Rates, com Barcelos no horizonte.

Acordar logo cedo no albergue de peregrinos do Mosteiro de Vairão é uma sensação que apenas o Caminho de Santiago nos oferece. Instalado nas camaratas do antigo mosteiro de S. Salvador de Vairão, este equipamento, idealizado por Ana Lobo e Pedro Macedo, dois peregrinos que se conheceram e se apaixonaram no Caminho (segundo rezam as lendas), e inaugurado em 2013, encontra-se num lugar rodeado por quintas, milheirais, vacarias e, muito perto dali, um mirante para o Mar da Póvoa, no alto do Monte de Santo Ovídeo.

Antes de partir, já com a mochila às costas, vale a pena dar um salto ao pequeno mas interessantíssimo Museu do Peregrino - Centro de Interpretação do Caminho de Santiago, um espaço que abriu portas a 25 de julho (dia de Santiago) de 2015, e que contou com o precioso auxílio da associação norte-americana “American Pelegrims on the Camino”. Com placas explicativas que nos fazem refletir constantemente sobre o imaginário jacobeu e as manigâncias do Caminho, o museu está recheado com todo o tipo de objetos alusivos à rota, oferecidos por peregrinos de todo o mundo: botas, bastões, camisolas, vieiras com por poemas e desenhos, estatuetas alusivas ao Apóstolo, lenços, etc.

Rumamos agora em direção a Macieira da Maia e a Vilarinho, bem no “countryside” de Vila do Conde. No largo de Vilarinho espera-nos uma escultura estilizada de Santiago Peregrino, da autoria do escultor (e peregrino) Carlos Rodrigues, uma estrutura de três metros, esculpida em granito angolano.

Estátua de Peregrino e Arco na Maia

Fotografias |  Portas da Maia, Macieira da Maia. Escultura de Santiago, Largo de Vilarinho.

Passando pelo “Castelo” de Macieira da Maia, este torreão recorda-nos os antigos limites, até 1836, das terras da Maia, um dos maiores concelhos (em território) do norte de Portugal e que deve muito do seu prestígio histórico à figura do cavaleiro Gonçalo Mendes da Maia, o “Lidador”.

Azenha do Rio, rio Ave, Macieira da Maia

Fotografia | Azenha do Rio, rio Ave, Macieira da Maia.

Ao atravessarmos as icónicas “portas da Maia”, um arco granítico que podemos ultrapassar ao descermos por uma encosta, um tanto ou quanto íngreme, chegamos às margens do rio Ave e deparamo-nos com uma das mais bonitas pontes do Caminho Português, a ponte medieval de D. Zameiro, rodeada por uma paisagem idílica, onde podemos contemplar o pequeno declive no curso de água e dois moinhos: a Azenha do Rio, quase no meio do leito do rio, e a Azenha do Campo.

Ponte D. Zameiro, rio Ave

Fotografia | Ponte D. Zameiro, rio Ave.

Começamos a subir até à povoação de Ponte de Ave e, à direita, surge-nos a Ermida do Senhor do Padrão, uma pequena capela do séc. XVII e de enorme devoção pelas gentes destas terras. Já em superfície mais ou menos plana, atravessamos os lugares de Ponte de Ave e Santagões e passamos ao largo de Baguntes, povoação conhecida pelo seu castro de origem celta, datado da Idade do Ferro. O Castro ou Cividade de Bagunte é monumento nacional desde 2010.

À medida que nos aproximamos da freguesia seguinte, Arcos, o Caminho recupera uma visão mais verde e florestal. Aproximamo-nos, a passos largos, do rio Este e, para o cruzarmos, descobrimos a Ponte de S. Miguel de Arcos. Estrutura em cavalete, comum neste tipo de construções medievais, assim que pisamos a tabuleiro sentimos a sensação de sermos transportados para um tempo em que a jornada de um peregrino era bem mais difícil e perigosa.

O Mosteiro de S. Simão da Junqueira é já ali. Fundado no séc. XI, ainda antes dos inícios da nacionalidade portuguesa, foi uma importante comunidade religiosa, chegando a receber Carta de Couto das mãos de D. Afonso Henriques, um privilégio ao alcance de poucos.

Deixamos para trás o concelho de Vila do Conde, adentramos no reduto da Póvoa de Varzim, a S. Pedro de Rates, um dos lugares fundamentais do Caminho Português de Santiago. Para percebermos a simbologia deste lugar e da sumptuosa igreja românica que podemos contemplar, temos de partir à descoberta da personagem histórica de S. Pedro de Rates.

Igreja de S. Pedro de Rates

Fotografia | Igreja de S. Pedro de Rates.

A tradição diz-nos que, na sua evangelização pela Hispânia, terá logrado converter um grupo de homens que se tornaram os seus mais íntimos discípulos, conhecidos como os “Varões Apostólicos”. Entre as terras do que viriam a ser o Porto e Póvoa de Varzim, Santiago terá convertido Pedro, ordenando-o primeiro bispo de Bracara Augusta e de toda a península. Por essa razão, um dos títulos outorgados ao clérigo que se senta na cátedra bracarense é precisamente o de “Primaz das Espanhas”.

Conta ainda a lenda que Pedro de Rates terá sido martirizado depois de ter salvo de uma doença incurável a filha de uma personalidade romana importante. A rapariga, perante o milagre perpetrado pelo discípulo de Santiago, terá abraçado a fé cristã, fazendo votos de castidade. O pai da jovem, ao saber da sua conversão e o responsável por essa decisão terá mandado decapitar S. Pedro, no momento em que dava uma missa, precisamente no lugar de Rates. Quis o destino que, séculos mais tarde, um ermita, de seu nome Félix, terá avistado uma estranha luz no mais alto monte da Serra de Rates. Curioso, aquele que mais tarde também ascenderia à condição de santo, adentrou no monte, descobrindo o corpo do Varão Apostólico. No mesmo lugar foi implantada, a partir do séc. XII, a igreja românica de S. Pedro de Rates, para guardar as relíquias do Santo. Inserida num mosteiro clunicense, este templo albergou o corpo de Pedro de Rates até 1552, ano em que as suas relíquias foram trasladadas para a Sé Bracarense.


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