
Palmela: A última sede da Ordem de Santiago?
Na primeira parte deste artigo (leia aqui), mencionei a Ordem de Santiago, explicando que esta foi responsável pela conquista de grande parte do atual território português a sul do rio Tejo, promovendo as principais ações de povoamento e o ordenamento socioeconómico de vastas extensões do Alentejo e do Algarve durante a Idade Média.
A ordem era gerida por um grão-mestre, eleito por 13 cavaleiros, em memória do grupo que terá fundado a comunidade no século XII. A disciplina religiosa era mantida por um prior-mor, ao passo que a gestão das muitas comendas estava a cargo de um comendador-mor. A comenda era a unidade fundamental da gestão administrativa territorial da Ordem, que era comandada a partir de um castelo que dominava o território.
Em pouco tempo, passou para sul do rio Tejo, atuando assim ativamente no esforço de guerra do reino. A ordem estabeleceu-se no castelo de Palmela em 1186.
Mas a reconquista islâmica de 1191 interrompeu a construção do convento ali instituído. A vila foi a capital portuguesa santiaguista até à conquista definitiva de Alcácer do Sal (1217). Para apoiar as ações no sul, a sede da ordem deslocou-se depois para Mértola. Formalmente instalada nesta antiga cidade muçulmana a sede do ramo português ficaria aqui instalada entre 1248 e 1482.
Na antiga mesquita de Mértola, atual Igreja Matriz (ou de Nossa Senhora da Anunciação”, o comendador da Ordem, D. João de Mascarenhas encomenda, na primeira metade do sé. XVI, a criação de um grandioso retábulo para a igreja), no qual se glorificava a vida de Santiago (desaparecido).
D. Pedro Escacho, foi eleito no ano de 1316 em Mértola. Daqui mudou a sede e convento para Alcácer do Sal.
O Infante D. Fernando, filho del Rey D. Duarte “O Eloquente” foi eleito 12º grão-mestre em Alcácer do Sal por Bula Pontifícia em 1430, acabando a Igreja e Convento de Palmela e outras obras que estavam começadas.
Estava dado o mote para tornar Palmela aquela que seria a última sede da Ordem de Santiago.
O último Mestre de Santiago antes da união dos mestrados à Coroa em 1551, no reinado de D. João III, foi D. Jorge da Costa Lencastre, Duque de Coimbra, filho ilegítimo de D. João II, que reformulou a Ordem com novos estatutos e que ficou sepultado na Igreja do Castelo de Palmela.
A partir dessa data a ordem transformou-se ao longo do tempo em ordem honorífica com Rainha D. Maria I a decretar a integração da insígnia de Sant’Iago na Banda das Três Ordens (juntamente com a de Avis e de Cristo) determinando que “os despachos em beneficio de Pessoa que sirva na magistratura até ao lugar de Desembargador dos Aggravos da Casa da Suplicação inclusive, será o Habito de Sant-Iago”, dispondo ainda que “alem dos Magistrados, serão premiados com esta Ordem outros Serviços que pareçam dignos della, segundo a qualidade, e importancia das Pessoas, dos Empregos, e dos Serviços”.
Um outro documento exulta a comenda como “Antiga, nobilissima e esclarecida ordem de S. Tiago do merito scientifico, litterario e artistico” determinado que se agraciaria “o assignalado merecimento pessoal e relevantes serviços prestados ás sciencias, ás lettras e ás boas artes, tanto em ensino público, como em obras escriptas e obras artisticas”.
A Ordem de Sant’Iago foi extinta, junto com as demais Ordens, com exceção da Torre e Espada, depois da Implantação da República. Só em 1 de Dezembro de 1918, no mandato do Presidente Sidónio Pais, voltou a ser restabelecida, ficando determinado que “a Ordem de S. Tiago da Espada é destinada a premiar, em nacionais ou estrangeiros, o mérito científico, literário ou artístico”. O seu grão-mestre é o chefe de Estado Português, o Presidente da República.
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