A Magia de Ravena: Mosaicos Dourados e Histórias Centenárias
Dia 6...
Ravena foi uma das pérolas deste roteiro pelo património italiano. Aquela que foi a terceira e última capital do Império Romano do Ocidente, é um destino épico para quem procura uma experiência cultural única. Para o final do dia “a cereja no topo do bolo”: Pádua.
Do berço do renascimento italiano à cidade “dos mosaicos” leva pouco mais que duas horas e meia. Ravena, a cidade que deslumbra pelas suas igrejas cravejadas de ícones em forma mosaica, é um tesouro para os amantes de história do último período do esplendor romano. Entrar, por exemplo, na basílica de Sant’Apolinare Nuovo significa dar um salto até ao séc. VI, ao tempo de Teodorico, que se tornou “Grande” ao derrotar Odoacro, personagem que a história relata como o artífice do fim Império do Ocidente.
Consagrada primeiramente a São Martinho de Tours, duzentos anos mais tarde viu as relíquias de Santa Apolinário entrar pelas suas naves, motivo pela qual ostenta o nome atual.
A profusão e colorido dos seus mosaicos de inspiração bizantina impressionam de tal forma que, ainda no séc. VI, surgiu a lenda de que o Papa Gregório I (mais conhecido como São Gregório Magno) mandou escurecer os mosaicos para que o brilho dos mesmos não perturbasse as orações dos crentes presentes no santo lugar.
Fotografia de Artur Filipe dos Santos | Piaza dei popolo.
Rumo à basílica de San Vitale, e passando pela bonita Piazza dei Popolo não pode faltar a referência a Dante Alighieri, que, a convite do príncipe Guido Novello da Polenta, viria a residir em Ravena, a partir de 1318. Terá sido nesta cidade que terá terminado o capítulo do “Paraíso”, da obra “A Divina Comédia”. Aqui faleceu o virtuoso poeta, vítima de malária, em 1321.
Fotografia de Artur Filipe dos Santos | Mausoléu de Gala Placídia.
Chegados a San Vitale, desviamos as atenções para o Mausoléu de Gala Placidia, personalidade feminina transcendental da reta final do império. Filha e esposa de imperadores (de Teodósio e Constantino III respetivamente), Gala Placídia desempenhou um papel crucial durante os turbulentos anos finais do Império Romano do Ocidente, marcado por invasões bárbaras e instabilidade governativa. Reconhecida pela sua habilidade no tabuleiro político, a sua sensibilidade para o universo das artes está bem patente no seu mausoléu. A sua arquitetura paleocristã (que faz lembrar a nossa capela de S. Frutuoso de Montélios ou a de San Miguel de Celanova, na Galiza) denota características que irão marcar muitos dos edifícios religiosos da Alta Idade Média, influenciados tanto pela arquitetura da antiguidade greco-romana como pela nova dinâmica apresentada na arte bizantina, com destaque para a visão iconoclasta que ainda hoje identificamos na religião cristã ortodoxa. Os mosaicos revestidos a ouro que os tetos e as paredes do mausoléu têm tornam esta estrutura única no contexto da arte que proliferou pela bacia do mediterrâneo entre os séc. IV e VIII.
Fotografia de Artur Filipe dos Santos | Basílica de San Vitale. Grupo com os participantes do roteiro, alunos da Universidade Sénior Contemporânea.
Deixando o mausoléu e adentrando pela Basílica de San Vitale (santo nascido em Milão, no séc. III. Depois do seu martírio, as relíquias foram trazidas para a cidade de Ravena por Gala Placídia, no séc. V), temos a sensação de que a enorme estrutura paleocristã (também de inspiração bizantina) continua imersa no séc. VI, quando Maximiano, o primeiro arcebispo de Ravena, a sagrou em 547. As suas cúpulas adornadas por mosaicos, o chão a recordar o esplêndido passado romano fazem-nos querer parar para mergulhar fundo no passado, já que a basílica é um imenso “livro” de história, onde podemos descobrir mais sobre a vida e os hábitos daqueles que viveram os tempos dos imperadores Teodoro ou Justiniano, mas também pelas crónicas da vida dos profetas do Antigo Testamento e dos evangelistas.
Para o final estava guardado outra das extraordinárias pérolas do património Raveno, o batistério Neoniano, classificado, em conjunto com os demais monumentos históricos de Ravena, como Património da Humanidade em 1996. Edificado no séc. V, foi mandado construir pelo bispo Orso e concluído no tempo de Neone (que dá o seu nome ao batistério). Inspirada na basílica palatina de Constantino (na cidade Trier, Alemanha) e na de San Simpliciano (Milão), o seu interior, também profusamente adornado de mosaicos, coberto por uma cúpula impressionante, guarda uma bacia batismal (do tamanho de uma piscina, diga-se) de mármore, construída no séc. XVI.
E porque a manhã já passou e a tarde já vai a meio, é tempo de seguir para uma cidade que diz tanto aos portugueses: Pádua.
Apesar de nesta cidade estarem presentes as relíquias do São Mateus Apóstolo e de Lucas, o Evangelista, grande parte das atenções militam à volta de Santo António, nascido como Fernando de Bulhões, em Lisboa, por volta do ano de 1195. Inspirado por personagens transcendentais da Igreja como Santo Antão, é no exemplo de S. Francisco de Assis e dos seus mártires de Marrocos que Fernando decide viver, deixando para trás os Cónegos Regrantes de Santo Agostinho e Santa Cruz de Coimbra. Depois de uma vida cheia que o levou a Marrocos, Sicília, Assis e Bolonha, foi em Pádua que viria a falecer, com 35 anos, em 1231. Famoso pela sua eloquência, um ano bastou para ser canonizado como santo, por Gregório IX. Dois anos depois, começaria a ser construída a sua majestosa basílica, finalizada em 1310. Hoje nas mãos dos frades franciscanos conventuais, a basílica espanta pela enorme riqueza do seu interior, em que se destaca o túmulo do Santo e a capela do Tesouro, onde se encontra hábito franciscano original de Santo António e algumas das suas relíquias. Misto de estilos arquitetónicos, com as suas cúpulas a lembrarem a arquitetura bizantina, aqui trabalharam mestres do românico, do gótico, da arte renascentista e do barroco, com destaque para artistas como Altichiero da Zevio, Jacopo Sansovino ou Donatello.
Mas Pádua vai para além de basílica do santo que os portugueses apelidam como o “de Lisboa”. Nesta cidade encontra-se a maior praça de Itália, a “Prá dela Vale”, com 90 mil metros quadrados, enriquecida com esculturas e pontes. À sua volta, palácios e a basílica de Santa Justina, outra gigantesca igreja de notável beleza arquitetónica. É neste cenóbio, esquecido por muitos em detrimento da basílica de Santo António, que se encontram, segundo a tradição, e para além das relíquias da santa que lhe outorga o nome, os tesouros relicários de S. Mateus e São Lucas.
Agora é hora de seguir para a “pérola do Adriático”: Veneza, tema da próxima crónica do roteiro pelo património italiano.
Gostou do texto? Deixe abaixo a sua reação e comentário...
Ver também |
Não tem tempo de fazer o Amor…
Casa: um bem essencial
Pronto para embarcar na próxima aventura? Garanta seu alojamento com o Selo Draft World Magazine e descubra o mundo connosco! ► Reserve agora