Não tem tempo de fazer o Amor…

Não tem tempo de fazer o Amor…

Paz…a eterna busca que não chega para grande parte da humanidade. Circula timidamente em decretos, declarações, enunciados, aí é essencialmente letra morta. A sua transferência para a realidade viva está maioritariamente quebrada, as pontes que a vinculam estão rotas. Em muitos dos locais do globo terrestre não tem terreno fértil para germinar, pois o deserto afetivo conquistou lugar, a perversão enraizou-se no íntimo dos corações humanos e a crueldade materializou-se nas ações brutas perpetradas pelos cobardes.

Mais do que letra morta a Paz é essencialmente vida pulsante que vibra no coração e na ação de muitos homens e mulheres anónimos como reflexo do seu fazer relacional quotidiano. A Paz faz-se no silêncio do fluxo vital. Fluxo livre, solto, desimpedido, sem ruído. Por ser tão discreta, enraíza-se na serenidade dos dias, floresce para quem a alimenta e dela se nutre. O seu destaque é a naturalidade e a simplicidade do gesto.

Para que a Paz geste em horizontes futuros a nossa aposta é que perante a sombria realidade atual ela se nutra pela esperança, para que esta ilumine e desobstrua o caminho. Percurso desafiante para quem se oculta pela sombra da morte, quando a morte é artifício que se revela em ações desmedidas, excessivas e transbordantes de terror.

A sombra da morte pervertida revela-se em ações violentas exercidas pelos Homens. Ela só pode ser dissipada pela luz da esperança que a Paz transporta.

A morte tem lugar e direito à sua naturalidade, não ao abuso dos atos que a trazem como consequência. A morte “sem terra”, sem lugar e sem direito, só pode ser transformada através de uma cultura de convivência humana, quando fundada na legítima igualdade entre pares de uma mesma Vida. Igualdade que vai muito além de um território, de uma bandeira, de uma língua, de uma religião ou de uma cultura em particular.

Haja esperança. Não apenas a que espera, mas a que age dinamicamente em humanidade, através da humanidade e pela humanidade. Como afirma Erich Fromm, a esperança é um estado, uma forma de ser. É uma disposição interna, um intenso estado de prontidão. A grande obra a realizar aqui e agora é a de que no presente se possa gestar um futuro em que a vida que pulsa em cada um e cada uma seja efetivamente o nosso território, para que o corpo vibrante do ser humano seja sua terra santa. Para que a nossa bandeira seja a da Paz, para que a nossa língua seja aquela que une, uma língua que fale ao coração, para que a nossa religião seja o Amor, para que a nossa cultura seja o Homem - terra fértil. 

Canta a canção, “o homem que faz a guerra não tem tempo de fazer o amor, manipula a vitória, muda o rumo da história, feito dono da razão. […] Ele perdeu o pôr-do-sol, ele não viu a lua no seu quintal” (Cidade Negra). Não viu, porque é reflexo do esquecimento da sua humanidade. Esquecido de si, não sabe verdadeiramente quem é, não se vê bem, nem reconhece o outro como seu par. Pois tal como nos diz o Principezinho: “só se vê bem com o coração”. O homem que faz a guerra, ou melhor o que manda fazer a guerra, tem coração frio e petrificado. O seu coração não pulsa, ele não vê, porque não lhe entra a luz, ele confunde-se com o jogo de sombras que lhe obscurece a realidade e que lhe amputa a vitalidade. Morrerá só, sem reconhecimento, porque não se estabeleceu um laço amorosamente humanizado.


Sugestões de Leitura |
Fromm, E. (1969). A revolução da esperança. São Paulo: Círculo do Livro.


Imagem de capa gerada com IA.


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