Banca: os Impactos da Pandemia
A crise pandémica que vivemos desde março de 2020, tem tido impacto em todas as áreas da nossa vida, alterando a forma como vivemos e como convivemos em sociedade e à medida que caminhamos para uma normalização desta mesma situação, percebemos que muitas destas alterações vieram para ficar, logo muitos dos nossos hábitos e rotinas, serão irremediavelmente modificados.
Também, na atividade bancária sentiram-se muitas alterações, de um modo geral bastante positivas para o cliente, quer em termos de operacionalidade, bem como em termos económicos e ambientais.
Uma das mais visíveis, foi a extraordinária aceleração do processo de digitalização e informatização de todos os processos bancários, o que era essencial, face às restrições impostas à nossa mobilidade devido aos sucessivos confinamentos, como forma de combate à disseminação do vírus SARS-CoV-2.
Esta restrição à mobilidade conjuntamente com os enormes incentivos das entidades públicas, com especial ênfase no espaço Euro para desenvolvimento de processos de digitalização, eliminação de papéis e de deslocações, tornaram a conjuntura ideal para um conjunto de inovações que criaram formas mais céleres e práticas de fazermos quase tudo o que fazíamos presencialmente e com segurança.
No setor da Banca, podemos pensar que era um caminho que já vinha a ser trilhado, mas que nunca conseguiria os avanços que conseguiu atualmente, num período de tempo tão curto. A verdade, é que todos os bancos já tinham grande parte dos seus clientes a efetuar operações através do site e aplicações, no entanto, não era possível uma série de operações que agora são oferecidas pela generalidade dos bancos.
Uma das principais alterações bancárias verificou-se nas aberturas conta, com um processo 100% digital, num período de tempo muito mais curto e com segurança. Todos nós nos lembramos dos processos de abertura de conta em que era necessário levar todos os documentos, o colaborador do banco tinha de tirar fotocópias e autenticá-las, para depois digitalizar essas mesmas cópias e preencher uma série de dados nos formulários, e por fim, imprimiam-se algumas 60 a 70 páginas, que tinham que ser todas rubricadas por cada um dos titulares da conta.
Sendo esta alteração a mais visível, existem muitas outras que melhoraram a eficiência do processo, nomeadamente a redução dos custos para o cliente e a necessidade das deslocações ao banco. Por exemplo, existem plataformas que permitem transferir dinheiro entre contas ou cartões, sem custos e com disponibilidade de saldo imediato, ou seja, como se as contas fossem da mesma instituição.
Outra alteração bastante considerável, foi o comportamento dos bancos, dada a urgência de ajuda aos agentes económicos, por forma a não se verificar um colapso da nossa sociedade. A Banca teve um papel preponderante, sendo que será ainda de maior relevância nos próximos tempos.
Os apoios públicos dos governos locais e da União Europeia, permitiram fundos àqueles que não conseguiram rendimentos da sua atividade profissional, para além das moratórias de crédito, tanto a particulares como a empresas. Os bancos tornaram possível operacionalizar todas estas operações, muito embora não se trate de um esforço financeiro próprio.
Mas a postura dos bancos tem-se revelado bastante cooperativa e é fundamental nesta fase em que estão a terminar as moratórias de crédito. Em termos regulatórios, os bancos são obrigados a avisar o cliente 3 meses antes do final da moratória, devem estar atentos aos sinais de alertas no último período de carência e em caso de dificuldades do cliente, devem apresentar uma alternativa não onerosa. Penso que todos, ou quase todos os bancos têm tido uma postura responsável e cuidada com o cliente apresentando, com bastante antecedência, alternativas sem custos e sem alteração de preçário.
Uma destas medidas permite, a quem usufruiu das moratórias, que possa agora ter mais 9 meses de carência para conseguir algum fôlego financeiro, não pagando nenhuma prestação ou pagando só os juros, mas alterando o prazo final do crédito por mais 9 meses, não aumentando desta forma a prestação quando retomar os pagamentos.
Por último, o setor da banca tem tido um papel fulcral no objetivo da descarbonização da economia, sendo que esta alteração tem vindo a ser imposta, tanto pela regulação como pelas políticas dos diversos países, condição essencial dos planos de recuperação e resiliência e por imposição dos investidores e da sociedade bastante desperta para esta temática.
Assim, a banca tem sido fundamental, não só na criação de instrumentos de investimento que potenciem a captação de poupanças para investimento sustentável, bem como através da emissão de divida verde, das suas próprias políticas de eficiência energética e da maior penalização das empresas que não estejam alinhadas com os famosos ODS da ONU. (ver aqui)
Como já referido em artigos anteriores, estas alterações para a economia verde fazem com que a perspetiva de gestão passe do curto prazo para o longo prazo, motivando outra postura com todos os “stakeholders”, não procurando o lucro imediato, mas a melhor solução, que seja boa economicamente e sustentável no tempo.
Acredito que estas foram três grandes alterações positivas na banca nesta fase de pandemia: a digitalização, o apoio à economia e o papel fundamental na transição para a economia verde.