À Descoberta da Islândia
À Descoberta da Islândia
À Descoberta da Islândia
À Descoberta da Islândia

À Descoberta da Islândia

Diário de um Viajante Compulsivo

1ª paragem: Reiquiavique

Desde que me conheço que sou um viajante compulsivo, uma necessidade que por centímetros escapa a matéria de foro psicológico, mas que me leva muitas vezes a isolar-me do mundo em que habito para me materializar em novas culturas, hábitos, tradições, experiências gastronómicas, línguas difíceis. Já perdi a noção ao número de países por onde passei, trabalhei, estudei ou visitei. Recordo-os a todos, com visão e memória fotográfica, dos amigos que fiz, das vivências transcendentais, dos “tropeções” que vivenciei num ou outro lugar. Mas de todos, há sempre um ou outro lugar ou mesmo país que suplanta, quase de forma telúrica, o rol de histórias exploradas em todos os outros. Foi o caso da Islândia, um amor à primeira vista.

O “país do gelo e do fogo” sempre gerou em mim forte expectativa. A minha viagem à ilha encaixada entre as placas tectónicas da Europa-Ásia e da América do Norte, entre o Mar do Norte ao sul, o estreito da Dinamarca a oeste, o Mar da Noruega a leste, o Oceano Ártico a norte, há muito que andava a planeá-la e, quis o destino profissional, que 2022 fosse o ano.

Foram seis dias à descoberta de cidades e aldeias, glaciares, vulcões, praias de areia negra e penedias basálticas, lagoas luxuriantes de água quente, géiseres escaldantes cascatas épicas, sabores a bacalhau fresco e a truta do Ártico, fragrância da lupina do Alasca, mas também de um folclore ímpar, do “Povo Escondido”, dos elfos (e das suas minúsculas casas), dos trolls transformados em pedra, dos Yule Lads e das grossas e quentes camisolas de lã de carneiro: as Lopapeysa.

Islândia

Fotografias de Artur Filipe dos Santos
1 ► Formações basálticas presentes na praia de Hálsanefshellir (conhecida como a “Praia Negra”)  
2 ► Cascata de Seljalandsfoss, uma das imagens de marca da Islândia.

Se é verdade que a Islândia é um país relativamente recente, com a sua independência a ser confirmada a 17 de junho de 1944, ao instituir uma república, quebrando desta forma os laços definitivos com a coroa dinamarquesa, a sua riqueza histórica, construída à volta do legado viking, faz-nos esquecer também de que estamos a falar de uma nação que não chega a 400 mil habitantes.

A primeira paragem é Reiquiavique. Na capital concentra-se mais de 60% do total da população da Islândia. “Baía Fumegante” é o que quer dizer o seu nome em islandês. A sua fundação está intimamente ligada ao líder da primeira exploração colonizadora viquingue da ilha, Ingólfur Arnarson. A tradição conta, a partir do Landnámabók, o livro da Colonização, que o lugar foi descoberto a partir do velho costume dos homens do Norte em atirarem pilares de madeira ao mar. O lugar onde estes tocassem a terra seria o local onde construiriam o seu assentamento. O livro, redigido no séc. XIII e que fala da exploração da Islândia a partir do séc. IX, relata que os exploradores esperaram três anos até que os pilares alcançassem as praias de um lugar enigmático. Ao avistar aquilo que séculos mais tarde se tornaria Reiquiavique, Ingólfur Arnarson terá avistado fumarolas a brotarem da terra. Por essa razão terá batizado o lugar de “baía da fumaça”.

É uma cidade em constante construção, motivada pelo seu desenvolvimento ainda muito nupérrimo. Apesar de por aqui terem passado os ferozes nórdicos há já muitos séculos atrás, mas também alemães, ingleses e americanos, que assentaram arraiais durante a II Guerra Mundial, Reiquiavique conserva ainda vestígios do passado escandinavo, seja em exemplos arqueológicos dos primeiros assentamentos (um deles ficava precisamente junto a um dos hotéis onde pernoitei, o Reykiavik Centrum), nas poucas mas antiquíssimas casas ainda existentes, seja no rico espólio que o Museu Nacional ainda conserva, onde encontramos a relação do país com a sua história, arte e religiões, explorando a introdução do cristianismo na ilha e o surgimento do luteranismo, introduzido no séc. XVI. É indiscutível a importância desta corrente cristã na Islândia, à semelhança do que acontece com a grande maioria dos países do norte europeu. Afinal, 69% da população é luterana e Reiquiavique guarda autênticas pérolas da arquitetura religiosa desta vocação protestante, que, apesar de serem exemplares modernos e vanguardistas, geram curiosidade e espanto.

Islândia edifícios e Arte Sacra

Fotografias de Artur Filipe dos Santos
1 ► Museu Nacional da Islândia, onde podemos encontrar espólio do origem viquingue e da introdução do cristianismo na ilha.
2 ► Háteigskirkja, igreja que pontua a paisagem de Reiquiavique pelos coruchéus das suas quatro torres em basalto negros.
3 ► Harpa Concert and Congress Hall 
4 ► Catedral luterana de Reiquiavique

Destas merece destaque — para além da catedral (que se encontra ao lado do parlamento, o Halthing) e da Háteigskirkja (reconhecida pelas suas quatro torres com coruchéus negros basálticos) — a excêntrica igreja de Hallgrímskirkja. Um dos cartões-postal da capital islandesa e do próprio país, esta igreja, inaugurada em 1986, desenhada pelo arquiteto Guðjón Samúelsson, marca pela sua arquitetura arrojada, assemelhando-se mais com uma nave espacial pronta a descolar do que a um cenóbio cristão. Subir à sua torre (cuidado para a escalada não coincidir com o toque ensurdecedor dos sinos) permite-nos vislumbrar uma vista invejável para a cidade. Daqui avistamos outros dois edifícios icónicos de Reiquiavique: o Harpa Concert e Congress Hall, a mais importante sala de espetáculos da Islândia, com uma arquitetura que se destaca pela sua cobertura em vidro a representar as formações basálticas da costa islandesa e o brilho da Aurora Boreal; o edifício Perlan, antigo reservatório geotérmico, agora transformado em espaço de exposições, planetário e núcleo museológico das maravilhas naturais islandesas. 

Na próxima crónica parto à descoberta dos glaciares, a bordo de um mega-camião.


Gostou do texto? Deixe abaixo a sua reação... smiley


Ver também |

É Possível Prevenir Doenças e Retardar o Envelhecimento

É Possível Prevenir Doenças e Retardar o Envelhecimento

"Helping With Satya" Recebe Louvor Oficial da Ucrânia

"Helping With Satya" Recebe Louvor Oficial da Ucrânia

Viaje em Portugal... Alojamentos  AQUI