
As Sanções Económicas à Rússia afetam Portugal?
O Impacto no Sistema Financeiro Mundial e na Banca Portuguesa...
Após o inicio da invasão da Ucrânia, por parte da Rússia a 24 de fevereiro de 2022, começámos a ouvir falar das sanções económicas a ser impostas ao regime russo, não só sanções conjuntas da União Europeia, Estados Unidos e Reino Unido, também, diversas sanções e restrições aplicadas pelas mais diversas empresas, que se uniram a este esforço para isolar a economia russa, num movimento sem precedentes da união do Ocidente, de forma auxiliar a Ucrânia.
Este movimento, para além das restrições tem contado com todo o tipo de ajudas à Ucrânia, desde financiamento, fornecimento de alimentação, medicação e armamento, ajuda no acolhimento de refugiados, ao fornecimento de todo o tipo de informação e comunicações. Tudo o que é possível fazer, sem entrar no conflito armado propriamente dito para evitar a escalada deste conflito para uma guerra mundial.
Todas as empresas que se associaram a estas restrições e sanções económicas à Rússia, fizeram-no não só como imperativo moral, mas por uma exigência da própria sociedade, uma vez que não participar neste esforço pode trazer grandes prejuízos reputacionais, que acabam por refletir-se nos números do seu negócio, de tal forma, que é preferível aceitar alguns custos imediatos por implementar estas medidas.
Todas estas ações combinadas, vão sem dúvida, criar alterações significativas na vida de todos aqueles que vivem na Rússia, o que se pretende que seja também um fator de pressão interna, para que haja uma alteração da postura do regime russo neste conflito. Mas vamos agora olhar para as sanções sobre a banca russa e como essas sanções podem refletir-se na banca e na vida dos europeus, em particular dos portugueses.
Genericamente, as sanções aplicadas à Rússia, decididas pelos líderes da União Europeia, em conjunto com os EUA, o Reino Unido e o Canadá, consistem em bloquear o acesso de grande parte do sistema financeiro russo ao sistema SWIFT, bem como impedir o banco central russo de usar as suas reservas financeiras localizadas fora da Rússia.
O bloqueio do acesso ao sistema SWIFT, que começou por incluir sete instituições bancárias russas, depois foi alargado a mais três instituições bancárias bielorrussas, pretende isolar a economia russa e cortar os fluxos de dinheiro que permitam continuar a pagar o esforço de guerra. O sistema SWIFT é vital para os bancos, uma vez que permite que as instituições financeiras troquem de forma rápida e eficiente as mensagens eletrónicas necessárias para operações bancárias, como transferências ou ordens de pagamento.
Esta rede é gerida pela Sociedade de Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais, com sede na Bélgica, e funciona como uma associação de 11 mil bancos, oriundos de mais de 200 países que permite a rapidez e facilidade em transações entre países e bancos.
Esta retirada do sistema SWIFT, traz consequências para empresas e instituições financeiras europeias, uma vez que empresas ocidentais com presença na Rússia, em especial instituições financeiras, vão ter de assumir perdas, dados que a Rússia é o quinto maior cliente de exportações da EU, também pelo negócio que deixa de ser feito nesse mercado e, no caso particular da banca, por existirem bancos europeus com exposições de milhares de milhões ao mercado russo.
Ora, este efeito conjugado com os movimentos de mercado das instituições financeiras em desfazerem-se das suas posições expostas ao mercado russo, faziam antever um tumulto nos mercados financeiros, motivo pelo qual, já no início de fevereiro o BCE prevenia os bancos europeus para se desfazerem das suas posições como forma de limitar as suas perdas.
O impacto das sanções económicas e financeiras é muito grande na economia russa, mesmo após a anexação da Crimeia, em 2014, a Rússia ter criado um sistema alternativo ao SWIFT, denominado SPFS. Este é constituído por 400 bancos russos e de antigas repúblicas soviéticas, e mesmo nas suas transações domésticas, apenas 20% das transações são realizadas por sistemas alternativos ao SWIFT.
Tendo em conta tudo isto, não demorou muito para que as agências de notação financeira, como S&P, Fitch e Moody’s alterassem o rating da Rússia para o nível de “lixo”, alegando, de acordo com relatório da S&P (25.02.2022):
"Acreditamos que as sanções anunciadas podem ter um efeito direto significativo e repercussões na atividade económica e comercial, na confiança dos consumidores e na estabilidade financeira, e também antecipamos que as tensões geopolíticas tenham impacto na confiança do setor privado, atingindo o crescimento económico."
Para além destes aspetos, as agências alertaram também, para a possibilidade de a Rússia não ter capacidade para reembolsar os investidores no que se refere à sua própria dívida soberana.
Assim, o impacto para a banca europeia é bem visível, como podemos constatar pelo anúncio de dia 10 de março de 2022 do Credit Suisse, onde indicou uma exposição de cerca 1.100 milhões de dólares à Rússia e de acordo com uma análise do Financial Times, há empresas gestoras de fundos com exposições muito avultadas à dívida soberana Russa. Verificou-se ainda vários bancos americanos a sair da Rússia, assumindo avultadas perdas, como foi o caso da BlackRock que assumiu perdas de cerca de 17 mil milhões de dólares em ativos russos.
No caso português, o impacto é muito reduzido no setor bancário, segundo dados do Banco de Pagamentos Internacionais (BIS), o sistema financeiro português como um todo tem uma exposição global de 149 milhões de dólares à Rússia, que dizem respeito às responsabilidades que têm entidades russas como contraparte imediata, ou seja, incluem todos os empréstimos ou títulos de dívida relacionados com qualquer entidade fisicamente localizada na Rússia.
Ainda assim, também neste setor em particular, apesar de a exposição ser muito pouco relevante, devemos contar com alguns impactos, pois como referiu Miguel Maya (28.02.2022), presidente executivo do BCP, durante a apresentação de resultados anuais do banco “o sistema financeiro está todo interligado, nada é neutro”. Referindo:
“O aumento dos custos da energia a nível mundial e o agravamento das tensões geopolíticas vão afetar a economia mundial e poderão afetar a política monetária. Aí, haverá impacto para o BCP.”
Em resumo, os impactos diretos das sanções à Rússia, no setor bancário português são pouco expressivos, no entanto, os impactos que terá em todo o sistema financeiro mundial vai provocar alterações em todo o mundo, num sistema altamente interligado.
Ver também |
É urgente apostar numa economia sustentável
Ucrânia e Rússia: A Origem do Conflito
A Bondade é Subversiva
Gostou do Texto? Deixe abaixo a sua reação...