Comemoração de um milagre

Comemoração de um milagre

Dia 3 de junho de 2021, foi celebrado o dia do Corpo de Deus, soube bem fazer uma pausa a meio da semana, apesar do vento desagradável que se fez sentir, neste caso em Cascais, não deixou de ser um bonito dia de sol. Vi algumas famílias a passear perto do mar, os gelados venderam-se bem, outros aproveitaram o feriado para almoçar fora, dar uma volta pela marginal. Da minha janela deu-me a sensação que o meu bairro aproveitou o dia para descansar, algumas limpezas, engomar roupa e usufruir do conforto do lar. A forma como as pessoas decidiram passar o dia faz parte da liberdade de cada um, tenho é pena que poucos sabem a razão de ser deste feriado. Escrever estas palavras, foi a minha forma de comemorar este dia de grande importância no seio do Cristianismo.

O Dia do Corpo de Deus é um feriado nacional religioso que se celebra sempre a uma quinta-feira. Em Portugal desde que há memória sempre foi feriado e sempre houve comemorações nas diversas Paróquias. Por decisão do Governo Português, deixou de ser feriado nacional em 2013, 2014 e 2015, mas felizmente com o novo executivo, voltou a sê-lo em 2016. Lembra-se da "Troika"? Exato, foi nesse período conturbado que até a fé Cristã teve de ajudar.

O Dia do Corpo de Deus ocorre sempre na segunda quinta-feira que segue ao domingo de Pentecostes (que é celebrado 50 dias após a Páscoa). A designação vem do latim Corpus Christi, trata-se de uma celebração com vários séculos, onde os católicos normalmente vão à missa, este ano e pela segunda vez, a pandemia volta a interferir na festividade.

Em 1263, o Milagre de Bolsena impulsionou a celebração do Corpo de Deus em todo o mundo. Bolsena é um município da região de Lácio no centro de Itália a cerca de 130 quilómetros de Roma, muito próxima do lago de Bracciano, de origem vulcânica e que abriga crateras cheias de água na cor azul.

Reza a história que um sacerdote de nome Pedro, originário de Praga, a caminho de Roma fazia numa peregrinação para revigorar a sua fé vacilante, pois sua identidade sacerdotal estava a viver um período difícil. Ao passar por Bolsena, decidiu entrar na cidade para prostrar-se diante do túmulo de Santa Cristina e ali celebrar uma eucaristia.

Durante a Missa, ele pediu com insistência a intervenção da Santa no sentido em que esta o ajudasse a restaurar a sua fé, eis quando que, no momento da consagração tendo a hóstia nas suas mãos, pronunciou as palavras rituais: “Isto é meu Corpo…”. Imediatamente a hóstia tomou uma tonalidade avermelhada e começou a gotejar sangue, que caiu sobre a toalha (corporal) de linho, ocorreu um milagre. Os fiéis presentes também puderam contemplar o acontecimento e, estupefactos, comentavam-no vivamente. Nesse momento, Pedro voltou a sentir a sua alma cheia da Fé, e o coração transbordante de gratidão a Deus e à santa Cristina.

Pedro foi sem demora comunicar o milagre ao Papa Urbano IV, que na altura residia na vizinha cidade de Orvieto e, seguidamente foi confessar-se e pedir absolvição pelo seu pecado da dúvida. O Papa, depois de ouvir com atenção todos os detalhes do acontecimento, enviou a Bolsena uma comissão chefiada pelo Arcebispo de Orvieto, da qual faziam parte São Tomás de Aquino e São Boaventura, incumbidos da missão de averiguar os fatos de forma rigorosa e, em caso de confirmação, trazer as preciosas relíquias.

Após cuidadosa verificação, a comissão concluiu que tinha havido realmente um milagre. Formou-se então uma esplendorosa procissão para conduzir as relíquias. Nessa procissão participavam uma multidão de fiéis da cidade de Bolsena agitando ramos de oliveira. Ao seu encontro, veio outra procissão de Orvieto, da qual fazia parte o Papa, a sua corte, diversos membros do clero e populares. Urbano IV prostrou-se de joelhos para receber a Sagrada Hóstia envolta no corporal de linho impregnado do Precioso Sangue. Em seguida, dirigiram-se todos para a velha catedral. Ali, o corporal de linho foi mostrado ao público, antes de ser colocado no sacrário.

Assim, no dia 11 de agosto de 1264 foi instituída a Festa de Corpus Christi, que era comemorada apenas em algumas dioceses, por influência de Santa Juliana. Cinquenta anos mais tarde, o Papa Clemente V tornou obrigatória a celebração dessa Festa da Eucaristia e, o Concílio de Trento, em meados do século XVI, oficializou as procissões eucarísticas, como ação de graças pelo dom supremo da Eucaristia e como manifestação pública de fé na presença real de Cristo na Hóstia Sagrada.

Estava, assim, instaurada em toda a Igreja a:

 “Festa em que o Povo de Deus se reúne à volta do tesouro mais precioso herdado de Cristo, o Sacramento de sua própria Presença, e o louva, canta e leva em procissão pelas ruas da cidade”

João Paulo II, em 2001

Desejo sincero de bom feriado!

Fotografia | Robert Cheaib