Danças Tradicionais Portuguesas: A Alma e o Património do Povo

Danças Tradicionais Portuguesas: A Alma e o Património do Povo

O Património Intemporal das Danças Tradicionais Portuguesas...

As danças populares portuguesas são muito mais do que simples expressões artísticas regionais; são a alma em movimento de um povo que encontra na música e na dança a sua forma mais pura de celebrar a vida. De norte a sul do país, cada dança é um reflexo da identidade e da história das comunidades que as mantêm vivas, desde as festas nas aldeias até aos palcos de festivais internacionais. 

Estas manifestações culturais, que atravessam séculos, mostram como a tradição e a criatividade se entrelaçam para criar um legado único e inestimável.

Espalhadas por todo o território português, ilhas incluídas, encontramos todo um conjunto de dança que ajudam a preservar o legado de outras artes à volta da dança, como por exemplo os instrumentos musicais, os trajes, as lenga-lengas, expressões idiomáticas, cantares, artes e ofícios imortalizados nas letras de canções.

No Minho e no Douro, a energia das danças como o Malhão (o de Braga, por exemplo) o Vira e a Chula captam a essência vibrante das gentes do Norte. O Vira, com os seus giros e passos marcados, simboliza a união e a alegria, enquanto a Chula, com os seus cantos ao desafio e refrões instrumentais, preserva a riqueza musical das paisagens minhotas e durienses. 

Mais a sul, o Ribatejo acolhe o Fandango, uma dança que traduz a força e a precisão dos movimentos inspirados no trabalho rural, executada ao som de instrumentos como a harmónica e a gaita-de-foles. Nas Beiras, a Farrapeira emerge como um tesouro cultural de origem antiga, que continua a encantar com as suas melodias e o papel de um marcador espirituoso que guia os dançarinos.

No Alentejo, a melancolia e a força emocional traduzem-se no Fado Batido, ao passo que, no Algarve, o Corridinho conquista pela sua energia contagiante e passos sincronizados. Este último, que nasceu como uma dança de cortejo, é hoje um dos maiores símbolos das festividades algarvias, mostrando como as tradições se transformam sem perder a sua essência. Outras danças, como a Cana-Verde e a Farrapeira, refletem a memória de tempos remotos, quando a dança era sinónimo de convívio e partilha comunitária, um momento onde os laços sociais se fortaleciam.

Nas ilhas de Bruma, as danças de São Macaio (na ilha Terceira), a Chamarrita (também presente na Madeira) ou dança dos Cadarços fazem as delícias das gentes dos Açores. Já na “Pérola do Atlântico” o bailinho da Madeira é a rainha das danças, sem esquecer, contudo a Charamba ou o Bailinho das Camacheiras.

A importância dos instrumentos musicais tradicionais na preservação do património das danças

A música desempenha, como é natural, um papel central em todas estas danças, para além dos passos. Instrumentos como a gaita-de-fole, o cavaquinho, a rabeca, a viola campaniça, a viola toeira, ou mesmo, a viola amarantina, o acordeão e a concertina conferem a cada dança uma identidade sonora única, sem esquecer o contributo dos instrumentos de percussão, como o bombo, a caixa, as castanholas portuguesas, o reco-reco, os ferrinhos ou a expressiva sarronca (ou zamburra) de Elvas. Juntos com as vozes, os instrumentos formam a tocata das danças folclóricas.
É nas mãos dos tocadores que estas melodias ganham vida, ecoando as emoções e histórias das comunidades, muitas vezes isoladas do resto do mundo. 

A integração destes instrumentos varia de região para região, tornando cada dança uma experiência singular, adaptada aos costumes locais. Por exemplo, a Chula do Douro Litoral destaca-se pelo uso da rabeca chuleira, a dança dos pauliteiros da inconfundível gaita-de-fole mirandesa, enquanto o Corridinho algarvio é inseparável do som do acordeão.

No norte do país, instrumentos como a rabeca chuleira e a viola ramaldeira assumem um papel de destaque. A rabeca, com o seu som marcante, é muitas vezes associada à Chula, uma dança que percorre o Alto Douro até à Beira Alta, e que depende da intensidade sonora para realçar os seus desafios vocais e refrões instrumentais. Por sua vez, a viola ramaldeira, também conhecida como viola "de brincadeira", complementa melodias com o seu ritmo vibrante, sublinhando o carácter lúdico das danças da região.

O cavaquinho, um dos instrumentos mais emblemáticos de Portugal, é amplamente utilizado no Minho e noutras partes do Norte, acompanhando danças como o Vira. Pequeno em tamanho, mas grandioso em impacto sonoro, este instrumento de cordas oferece ritmos leves e ágeis, ajustando-se perfeitamente ao dinamismo das coreografias. Nos mesmos territórios, a presença da gaita-de-foles reforça a ligação às raízes celtas (ou celticizadas) da região, enchendo o ar com sons profundos que evocam tempos imemoriais.

À medida que descemos pelo país, outros instrumentos começam a marcar presença. No Ribatejo, o Fandango é frequentemente acompanhado pela harmónica, também conhecida como gaita-de-beiços, e mesmo pela gaita-de-foles. Estas combinações criam uma base sonora vigorosa, essencial para sustentar os passos rápidos e precisos desta dança, que exige tanto do corpo dos dançarinos como da música que os guia. Em certas localidades ribatejanas, como Ferreira do Zêzere ou ainda Mação, a guitarra ganha protagonismo, oferecendo uma sonoridade distinta que se ajusta às variações locais do Fandango.

O acordeão, introduzido em Portugal no final do século XIX, transformou profundamente o panorama musical das danças populares, especialmente no sul do país. No Algarve, tornou-se indispensável no Corridinho, onde as suas notas vibrantes se tornaram inseparáveis da energia contagiante desta dança de roda. A versatilidade do acordeão permitiu-lhe adaptar-se a diferentes contextos, enriquecendo danças de salão e tradicionais, como polcas, mazurcas e sarilhos, que coexistem nas festividades locais.

No Alentejo, a viola campaniça destaca-se como um símbolo cultural da região. Este instrumento de cordas, com a sua sonoridade grave e melancólica, acompanha danças como o Fado Batido, traduzindo a profundidade emocional característica do Alentejo. Para além disso, nas Beiras, instrumentos como o pífaro e o bombo aparecem frequentemente associados à Farrapeira, complementando as suas melodias de caráter arcaico.

As regiões montanhosas de Trás-os-Montes são marcadas pela presença da gaita transmontana e mirandesa, que conferem uma atmosfera única às danças locais. Ao som deste instrumento, frequentemente acompanhado por caixas e bombos, o espírito comunitário das terras mirandesas ganha vida, reafirmando a importância dos instrumentos musicais na coesão social e cultural.

As cantigas açorianas, conhecidas como as Liras ou as suas danças insulares com destaque para as modas de S. Macaio ou as Chamarritas são habitualmente acompanhas pela viola da Terra, instrumento aparentado da vila braguesa e da viola de arame, esta última que ainda acompanha os movimentos das danças  madeirenses.

Os tocadores, muitas vezes figuras centrais nas festividades, desempenham um papel essencial na perpetuação deste património. Não são apenas músicos, são intérpretes da alma das comunidades, dando voz aos sentimentos, às memórias e aos anseios de um povo. A sua habilidade em extrair sons únicos destes instrumentos transforma cada dança numa experiência rica e envolvente, onde a música e o movimento se fundem em perfeita harmonia.

Neste universo de cordas, sopros e percussões, cada instrumento contribui para a celebração da diversidade cultural de Portugal. 

O contributo dos que estudam e divulgam as danças, os cantares e os instrumento tradicionais de Portugal

Uma última palavra para os musicólogos e antropólogos que estão por detrás da preservação da memória destas danças. Personalidades como Armando Leça, Ernesto Veiga de Oliveira (com a sua extraordinária obra “Instrumentos Musicais Populares”), Frederico de Freitas, mas também Júlio Pereira ou, mais recentemente, nomes como Napoleão Ribeiro e Tiago Manuel Soares (autores do livro recentemente publicado intitulado “Os Zé Pereiras”) ou ainda os músicos Nuno Dias e António Freire, que dedicaram as suas vidas ao estudo e à divulgação das danças e músicas tradicionais portuguesas. O seu trabalho, que inclui a criação de arquivos sonoros e a publicação de obras de referência, é um testemunho do valor inestimável deste património cultural.


Imagem de capa: Representação das danças tradicionais portuguesas criada por AI.


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