Conhecimento e Sabedoria Nunca Envelhecem
A troca de experiências é a base do ensino...
O conhecimento e a sabedoria nunca envelhecem! A Universidade Sénior Contemporânea nasceu em 2005, com o objetivo de colmatar uma carência formativa que naquela época se fazia sentir ao nível das pessoas seniores, que, apesar de já se encontrarem reformadas, mantinham-se ativas, faltando-lhes um espaço de conhecimento que os desafiassem, e um local onde pudessem expressar as suas ideias, partilhar as suas experiências de vida.
Neste sentido, Marta Loureiro dos Santos, fundadora, diretora-geral e financeira, mas também docente da instituição criou “a USC com o desígnio fundamental de aproximar o saber académico sem necessidade de quaisquer tipo de avaliações, de despertar a curiosidade para os novos conhecimentos que se estavam a desenvolver ao nível da ciências sociais, das novas tecnologias, assim como levar os nossos alunos a descobrir um Portugal que não vem nos roteiros turísticos, explorando o património cultural edificado, natural e imaterial do território nacional e no estrangeiro”, alimentando o interesse pelas artes, a música, o teatro, a pintura, entre outras áreas.
Para conhecer melhor a Universidade Sénior Contemporânea estive à conversa com Marta Loureiro dos Santos, a fundadora partilhou connosco a missão da USC, assim como alguns dos momentos mais marcantes passados na instituição ao longo dos quase 17 anos de atividade, mencionando também as dificuldades e desafios trazidos pela pandemia covid-19.
Fotografia | À direita - Fundadores: Marta Loureiro dos Santos e Artur Filipe dos Santos. À esquerda - Fernando Ramos Fernández, professor convidado, de Espanha.
Qual é a missão da USC?
A missão essencial da USC é de desenvolver práticas de lecionação e dinâmicas culturais que possibilitem constantemente a partilha de experiências entre estudantes e professores, para que os nossos alunos nos “contaminem” positivamente com a sua experiência de vida (a melhor escola), as suas muitas histórias que têm para contar, enquanto os docentes partilham os seus conhecimentos atuais, fruto da atividade que desenvolvem no setor do ensino e em muitas atividades de âmbito profissional, social, entre outras.
É essa “manifestação de interesse” em dinamizar uma troca constante de experiências que permite o sucesso desta instituição, construindo assim uma comunidade coesa, focada em “deixar à porta” os problemas que assolam a sociedade atual e aproveitar ao máximo o tempo investido na USC.
À medida que o projeto ia crescendo, também fomos incluindo novas ideias na missão, por exemplo, na aposta em desenvolver conhecimento próprio, com a criação da Revista Transdisciplinar de Gerontologia e a criação das edições de manuais da USC, que permitiu levar, em forma de livros e cadernos impressos mas também digitais, o conhecimento que se desenvolve nas nossas salas de aula para as mais variadas localidades portuguesas e para países com comunidades portuguesas de considerável dimensão (ou falantes da língua portuguesa) como a Espanha, Brasil, Bélgica, Alemanha, Suíça e Timor-Leste, este último ao abrigo de um protocolo de amizade que temos desde sempre com a Ordem dos Frades Franciscanos Capuchinhos do Porto.
Devo referir que esta missão nunca poderia ser implementada no terreno, das palavras aos atos, sem o contributo dos nossos docentes, que ao longo dos anos, estão na primeira linha do sucesso da nossa instituição, assim como as entidades parceiras que nos têm apoiado no desenvolvimento das muitas iniciativas que temos realizado nestes mais de 16 anos, destacando o contributo de profissionais de excelência como Miguel Costa, Teresa Fernandes e Filipe Teixeira, representantes das empresas Costa Ferreira (aluguer de transportes), Cobalto (artes Gráficas) e Geostar (agência de turismo) respetivamente.
Quem pode frequentar a USC?
Em teoria, quem procura a USC são pessoas reformadas acima dos 60 anos, com ensino secundário ou superior, mas a nossa instituição pauta-se por ser inclusiva, uma estratégia de sucesso que nos permite ter estudantes das mais variadas idades (o nosso estudante mais jovem tem 55 anos, a mais experiente 92 e com uma vitalidade invejável, sendo que a média anda nos 61 anos) e formações. Posso ainda referir que, segundo os últimos dados disponíveis, referentes a 2021, temos dois por cento de estudantes com o ensino primário, por exemplo, 55 por cento com o ensino secundário e a restante percentagem com o ensino universitário, num universo de 260 alunos inscritos.
Quais são os cursos disponíveis?
Atualmente a USC desenvolve os seguintes cursos, divididos em matérias teóricas ou práticas como inteligência Emocional, História do Porto, Informática, Mitos e Ritos da Humanidade, Fotografia Digital, Pintura, Sabedoria Universal, Internet, Património Cultural e Paisagístico Português, História Universal, Dança, Inglês, Teatro, Espanhol, Património Mundial e Turismo Cultural, Relaxamento e Movimento Corporal.
É importante referir que, para além da atividade letiva, a USC desenvolve com elevada periodicidade visitas de estudo, conferências, colóquios, atividades físicas ao ar livre, ciclos de cinema, exposições de pintura e fotografia, grupo coral e um programa de dinamização cultural do património dos Caminhos Portugueses a Santiago de Compostela (Caminhos de Santiago).
Nestes 16 anos, quais os momentos a destacar?
Foram muitos e variados, desde logo a inauguração da USC, a 18 de maio de 2005, cuja cerimónia causou um impacto positivo despertando uma grande curiosidade à volta do projeto. Outro momento que recordamos foi a primeira edição do nosso encontro “Envelhe[Ser], um projeto de âmbito científico idealizado pelo psicólogo e docente da USC, Vítor Fragoso, que teve lugar em Maio de 2012 e que desde logo se destacou como a mais importante iniciativa de caráter científico focado nas problemáticas do envelhecimento e nas melhores práticas com vista à melhoria da qualidade de vida da população e que tem contado com a participação de investigadores e personalidades ilustres como Daniel Serrão, José Pinto da Costa, Sobrinho Simões, a investigadora Maria de Sousa, a psicóloga Ângela Escada, entre outros. Este ano contamos realizar o quinto encontro.
No ponto de vista emocional devo destacar a apresentação pública do livro que o nosso aluno Porfírio Mendes (conhecido por ser o Decano dos Estudantes da USC), em 2013, que narrava com uma mestria impressionante as mais variadas experiências vividas na nossa instituição, numa altura em que este aluno havia já comemorando quase 90 anos de vida.
Importante referir as muitas atuações que o Coro da USC (fundado em 2008) já teve oportunidade de realizar, assim como as experiências inesquecíveis passadas em visitas de estudo, onde destaco as viagens à Escócia, aos fiordes da Noruega ou a peregrinação cultural realizada em 2019 pelo Caminho português de Santiago. A chegada a Santiago de Compostela, mais de 200 quilómetros depois, foi de uma transcendência emocional inesquecível.
Como é que lidaram com a pandemia Covid-19?
Tal como em todos os setores da sociedade, não escondo que a pandemia levou-nos a enfrentar toda uma série de desafios que nos levaram a uma ponderada reflexão que nos permitisse, inclusive, sobreviver perante o fecho da atividade económica. Valeu-nos e muito o manancial de confiança que fomos construindo ao longos dos anos junto dos nossos alunos que, mesmo perante as adversidades, nunca deixaram de estar presentes na hora de “gritar” presente. Para a nossa comunidade vai a nossa primeira palavra no que diz respeito às soluções de mitigação da crise que se abateu. A segunda vai para o espírito empreendedor dos nossos docentes, que em conjunto com a direção, engendraram um plano inovador que nos permitiu ser novamente inovadores no que diz respeito ao ensino sénior em Portugal, inaugurando, três dias depois do início do primeiro confinamento, em março de 2020, uma série de vídeo-aulas online, para que a corrente do conhecimento não parasse, desenvolvemos podcasts e, uma semana depois entravam em ação as aulas online que tiveram desde logo, uma forte aceitação, criando-se uma dinâmica que ultrapassou em larga medida, as nossas melhores expectativas, ao ponto de se ter desenvolvido um curso internacional no âmbito dos Caminhos de Santiago (e que em breve terá a sua terceira edição), com professores portugueses, brasileiros e espanhóis, conferências e até sessões de cinema online.
Tudo isto só foi possível pelo exemplo de vida dos nossos alunos, que mesmo perante as grandes adversidades provocadas pela situação pandémica, não desistiram nunca de viver nem de apoiar a instituição em que que confiam.