
Obesidade: uma Epidemia Mundial
Considerada pela O.M.S. como a maior epidemia crónica não transmissível do planeta, a obesidade é definida pelo excesso de gordura corporal em quantidade que determine prejuízos à saúde. Dados desta mesma Organização apontam para cerca de dois bilhões e trezentos milhões de pessoas acima do peso no mundo e mais de quatrocentos milhões de mortes anualmente.
As taxas de obesidade triplicaram desde 1975. Atualmente a doença afeta pessoas de todas as idades e de todos os grupos sociais, seja em países desenvolvidos ou em desenvolvimento. Ela é um dos principais fatores de risco para doenças não transmissíveis, como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, hipertensão, acidente vascular cerebral e várias formas de câncer.
Uma pessoa é considerada obesa quando seu Índice de Massa Corporal (IMC – calculado pelo peso em quilos dividido pelo quadrado da altura em metros) é maior a 30 kg/m2; a faixa de peso normal (segundo o IMC) varia entre 18,5 e 24,9 kg/m2. Os indivíduos que possuem IMC entre 25 e 29,9 kg/m2 são diagnosticados com sobrepeso e já podem apresentar alguns prejuízos pelo excesso de gordura.
Atualmente muito se conhece da fisiologia da obesidade. Sabe-se que o transtorno nada tem a ver com autoindulgência, falta de caráter ou de disciplina. O indivíduo obeso apresenta uma inflamação insensível que altera mecanismos sinalizadores de fome e saciedade (sinalizadores hormonais), bem como o gasto metabólico. Fatores genéticos também participam do processo (apesar de a obesidade monogénica ser muito rara).
O início do ganho ponderal acontece em um determinado momento da vida da pessoa, quando essa, por alguma razão, passa a adquirir mais energia (através da alimentação) do que o corpo necessita. Toda essa energia sobressalente será estocada, aumentando o volume e a quantidade das células de gordura. Isso instala o processo de inflamação e de resistência às hormonas insulina e leptina, dentre outros, acarretando uma tendência à perpetuação do processo.
Muitas são as razões para as falhas nos tratamentos clínicos, abaixo listo três importantes:
1. Falta de informação e comprometimento do paciente com o processo (bem como informações preconceituosas ainda alimentadas por profissionais da saúde); muitos acreditam não se tratar de doença e sim de problema estético, então acabam não se comprometendo adequadamente com as modificações de estilo de vida necessárias ao emagrecimento.
2. Outro importante aspeto se dá quando as pessoas relacionam ganho de peso com a quantidade de comida... é frequente ouvirmos "eu como pouco, não sei porque engordo". O ganho de peso não tem relação com a quantidade de comida, mas sim com a quantidade de calorias ingeridas. Se mesmo comendo pouco, ingerirmos mais do que o organismo necessita, o excesso de peso acontecerá.
3. Por fim, estamos vivenciando tempos em que as pessoas têm "comido suas emoções", ou seja, o mundo atual está carregado de ansiedade e para suprir o vazio e a angústia causadas por esse mal, tem-se buscado algo atrativo... Esse algo, frequentemente, é a comida. Aspetos mentais muitas vezes relacionados a lembranças de momentos felizes acabam estando envolvidos nesse processo.
Por fim, o tratamento da obesidade deve envolver campanhas sérias de conscientização popular, bem como o trabalho de uma equipe multidisciplinar composta por médico, nutricionista, educador físico e psicólogo. Mudança do estilo de vida e promoção de um balanço calórico negativo é essencial à perda ponderal.
Em pacientes obesos (IMC > 30kg/m2), o uso de medicamentos que atuam controlando a fome e aumentando o gasto metabólico costumam ser de grande utilidade. Nos casos graves (obesidade mórbida – IMC > 40 kg/m2 ou obesidade moderada com comorbidades – IMC >35 kg/m2), a cirurgia bariátrica é uma opção importante de tratamento.
Outro aspeto relevante nos tratamentos de obesidade é atuar nas possíveis alterações hormonais e intestinais que tendem a acompanhar o processo, tais como as disbioses intestinais (alterações da flora microbiana intestinal) e as deficiências de hormonas da tiróide, de hormonas sexuais e nas resistências insulínicas e leptínica.
Dia Nacional de Luta Contra a Obesidade
A Draft World Magazine conversou com duas mulheres que sofreram com excesso de peso e obesidade, Liliana Reis e Sandra Marques, não perca os seus testemunhos na próxima semana, quinta-feira.
Veja já parte da conversa com Sandra Marques
Autor do texto | André Luis A. Castro
Fotografia de capa | Tumiso