Holodomor e a Página Mais Negra do Séc. XX Ucraniano
Holodomor e a Página Mais Negra do Séc. XX Ucraniano

Holodomor e a Página Mais Negra do Séc. XX Ucraniano

Para muitos é considerado o holocausto do povo ucraniano, para outros a falência económica e social da União Soviética que fez alastrar a fome por todas as repúblicas. O Holodomor, também conhecida como a “fome-terror” terá provocado a morte a mais de três milhões de descendentes do povo varegue.

Corria o ano de 1922. A União Soviética acaba de sair de um período de crise alimentar que terá ceifado a vida de mais de seis milhões de pessoas, com destaque para a região entre os rios Volga e Ural. A enorme escassez alimentar terá sido provocada por diversos fatores políticos, diplomáticos e climáticos, com destaque para a participação da Rússia na I Guerra Mundial, a revolução de 1917 e a guerra civil que se seguiu, e ainda uma forte seca que terá assolado o país durante 1921, com a produção agrícola a cair 22 por cento.

Holodomor Pessoas na rua

A situação vivida pela União Soviética entre os anos de 1921 e de 1922 provocou uma corrida aos suprimentos alimentares, com os bolcheviques a amealharem grande parte da produção disponível com vista a alimentar os seus partidários, deixando o pequeno campesinato de mãos vazias, enquanto os agricultores mais ricos (conhecidos como os kulaks) escoavam a sua produção no mercado negro.

Quando Estaline chega ao poder, precisamente no ano de 1922, empreende uma série de reformas económicas conhecidas como os planos quinquenais e uma poderosa reforma agrária levada a cabo em 1929, com vista a diminuir as flutuações na produção de bens alimentares e o fim da influência dos kulaks, com a criação das explorações agrícolas conhecidas como os kolkozes, que se caracterizavam por serem aglomerados coletivos de cultivo, e as explorações agrícolas estatais conhecidas como os sovkhozes. Acusados de pertencerem ou colaborarem com a classe dos camponeses ricos (vistos como inimigos do regime soviético), milhares de pessoas são votadas ao desterro em territórios como a Sibéria, com o objetivo de servirem como mão-de-obra na extração de minério.

Naquela época a Ucrânia era um dos principais “celeiros” da União Soviética e uma das repúblicas onde se sentia uma oposição mais feroz face ao regime dos bolcheviques. Grande parte do povo ucraniano vivia da agricultura (ao todo 82 por cento da população da antiga URSS trabalhava nos campos, na década de 20) e, perante as mudanças sociais e de produção alimentar orquestrada pelo regime, estava dado o mote para os partidários de Estaline extirparem a oposição ucraniana.

Considerados resistentes à nova ordem soviética, mais de 400 mil ucranianos foram enviados para os gulags, campos de trabalho forçado que terão inspirado, acreditam muitos historiadores, a criação dos campos de concentração nazi. Um período marcado ainda pela execução sumária de cerca de 30 mil opositores à coletivização forçada da produção agrícola.

Perante a escassez alimentar resultante das reformas agrárias falhadas e de períodos severos de seca, a fome alastra por toda a URSS, fazendo-se sentir com mais severidade na Ucrânia, resultado ainda da deslocação de bens para outras repúblicas de forma a vergar a oposição que se fazia sentir neste território.

Entre 1932 e 1933 terão morrido à fome três milhões de ucranianos, naquele que foi reconhecido, em 2010, por mais de 15 países (incluindo a Ucrânia) como um verdadeiro genocídio, um autêntico “holocausto” pré-II Guerra Mundial, já que o Holodomor terá tido como consequência indireta a perda de mais de seis milhões de vidas por défice de natalidade provocada pela “fome-terror”.

Num momento em que se vive um novo conflito entre a Rússia e a Ucrânia, as feridas provocadas pelo Holodomor rompem e voltam à atualidade como uma das questões mais sensíveis de uma relação atribulada entre Moscovo e Kiev que se arrasta pela História e sem fim, aparentemente, à vista!


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