A Historicidade da Páscoa
Todos os anos, no primeiro Domingo a seguir (ou coincidente) com a Páscoa Judaica, os cristãos celebram a sua maior e mais importante festa: a Páscoa (de Jesus). Fazem-no nesse dia para mostrarem, seja a sua vinculação com o judaísmo, seja o facto de a perceção histórica da histórica Ressurreição de Jesus ter ocorrido num Domingo.
A palavra Páscoa significa, literalmente e indo-se à sua raiz hebraica, “passagem”. No caso de Jesus, a Sua passagem da morte à Vida; não mais aquela vida (em grego, “zoé”) que se mede pelo “chrónos”, mas a Vida plena (em grego, “bíos”) na alegria e na beleza insofismáveis do Amor que Deus é. A Vida no “kairós”, portanto, que atrai a Si todos os que se desejarem unir, justamente pelo amor verdadeiro, à luminosa generosidade incessante da bondade.
Mas será que a Páscoa de Jesus existiu realmente? E Jesus? Não serão uma invenção? Longe vão os tempos em que, pseudo-historiadores arrivistas holandeses (Pierson; Bolland) e marxistas (Lunacharsky; Tokarev) tentaram mostrar a inexistência de Jesus. Contudo, até estes últimos, inclusive ante possíveis repercussões terríveis, tiveram que negar o dogma maxista-leninista de que Jesus fora apenas uma construção mitológica (Kublanov).
Nos nossos dias, as ciências históricas, aplicando os seus próprios métodos científicos que por elas são empregados em todas as outras averiguações, são absolutamente claras: Jesus existiu e foi crucificado, e quem o nega (Doughty; Detering, Lataster) é facilmente rebatido, inclusive por estudiosos ateus (Ehrman). O que vou dizer pode parecer estranho a quem não vive a trabalhar nestes assuntos, mas, do ponto de vista histórico mais rigoroso (seguido por ateus ou não), há mais certezas acerca do que acabou de ser mencionado, do que, por exemplo, a respeito de quase qualquer outra figura coetânea de Jesus, ou mesmo da antiguidade (Wright).
As argumentações teóricas mais comuns entre os historiadores coevos, nas suas sínteses acerca das suas posições afirmativas a respeito da vida e morte de Jesus, orbitam a seguinte alegação: nunca ninguém, no contexto sociocultural em que se começou a escrever sobre Jesus (10 na 20 anos após a Sua morte), diria o que se disse acerca d’Ele, se, em vez de estarem preocupados apenas com a verdade – e uma verdade eventualmente custosa (até à morte) para os mesmos –, quisessem passar uma mensagem atrativa, sedutora, popular.
Mas a existência e a morte de alguém (Jesus ou outra pessoa) não faz dele extraordinário. E nunca nenhum outro “fundador” de qualquer religião, que não tenha sido fraudulento ou louco, afirmou e agiu como Se fosse, na verdade, o próprio Deus. Buda, Moisés, Zoroastro, Maomé, Musafir, Calvino e, para não se prolongar mais esta lista, Bahá’u’lláh não o fizeram.
Jesus pôde, face ao que fez e disse, ter sido “maluco” ou “mentiroso” e, assim, dificilmente poderemos considerá-Lo *1, desde qualquer ótica, Alguém exemplar e modelar. Alguém diante do Qual a nossa vida Se decide consoante optemos pelo amor ou pelo desamor modelado por Ele. Ocorre que, dizem-nos as ciências humanas, não há a mais pequena evidência de Jesus não ter sido sempre verdadeiro e são em toda a Sua vida. Assim sendo, ficamos – porventura revoltados ou estarrecidos ou admirados ou encantados – com a única alternativa séria que resta: Jesus foi e é, na verdade, Deus. É isto que faz Jesus ser Jesus.
Mas algo tão radical, precisa de uma evidência tão ou mais radical. Jesus sabia-o e foi disseminando os alertas para essa evidência ao longo da Sua vida pública: a morte e o desamor iriam querer tragá-Lo *1 e sepultá-Lo *1, mas o Amor, que Ele era de uma forma inexcedível a quem também era um ser humano, não desapareceria. Jamais. Ele ressuscitaria e, na realidade e de modo distinto a todos os pré-sinais mitológicos (que, de alguma forma e pelo interagir contínuo entre Deus e todo e qualquer ser humano, já apontavam para algo da verdade contida na Verdade), Ele ressuscitou.
Jesus ressuscitou. Jesus está mais Vivo do que nunca. Não será isto uma afirmação demasiado ousada? Uma afirmação tão extraordinária que requer evidências (ainda mais) extraordinárias? Acredito que não se deve pedir acerca deste assunto mais provas do que a qualquer outro evento que saia fora do que o nosso senso comum nos diz ser possível, como, por exemplo a possibilidade: de Maomé ter, segundo os seus seguidores, cortado a Lua a meio; de Abraham Lincoln ter continuado a ser visto após o seu assassinato; etc.
Para se averiguar a veracidade destas questões, as mais diversas ciências, seguindo os seus próprios processos dedutivos e (ou) indutivos, utilizam métodos como: o “Teorema de Thomas Bayes”; a “Inferência da Melhor Explicação” de Behan McCullagh; etc. E o facto é que, querendo-se ou não crer na Ressurreição de Jesus, esses métodos afirmam-na.
Restringindo-me apenas aos métodos sugeridos, e convidando os meus possíveis leitores a aplicá-los e comprovarem o que mencionarei, o primeiro diz que há uma probabilidade de 97% de Jesus ter ressuscitado e o segundo atesta que não há melhor explicação possível para os factos que conhecemos quando lidos através dos critérios mais exigentes.
É possível que um tal exercício proposto por mim, requeira (muito) tempo, mas diante de uma questão tão essencial como a da Ressurreição (e divindade) de Jesus (com todas as consequências que daí decorrem), não será, certamente, tempo mal despendido. Mas sempre se pode ler apenas a obra “The Ressurrection of the Son of God” do historiador Nigel Thomas Wright, a qual, acerca do que motiva estas minhas palavras, pode ser sintetizada no seguinte.
1 ► Os primeiros cristãos (e temos evidências disso logo 5 a 10 anos após a morte de Jesus) acreditavam na Ressurreição Corporal de Jesus (algo que ninguém – repito: ninguém – esperava poder acontecer do modo que é descrito como tendo ocorrido);
2 ► A melhor e mais provável (93%) explicação para tal realidade é a “hipótese” da descoberta inesperada do túmulo vazio de Jesus e as Suas aparições "post mortem";
2.1 ► Esta “hipótese” tem um poder explicativo necessário e suficiente para explicar o dito no primeiro ponto: atestações múltiplas coerentes entre si sem outra base senão tal “hipótese”; diferenças face às expectativas comuns; apresentação de dados embaraçosos; traços semíticos; efeitos dessa “hipótese”; ausência de enfeites; congruência histórica; etc.
2.2 ► Esta “hipótese” tem uma probabilidade de ser verdadeira muitíssimo maior do que as rivais (ideia espontaneamente gerada em contexto judaico; conspirações; morte aparente; rapto do cadáver e (ou) dissonâncias cognitivas: etc.);
3 ► A melhor explicação para o túmulo vazio de Jesus e as aparições d’Este após a Sua morte é a “hipótese” da Ressurreição de Jesus.
Claro que um crente cristão não precisa de dar todos estes passos para afirmar a sua fé na Ressurreição de Jesus, mas como a fé não é, nem pode ser, irracional, não ficaria nada mal que os desse, conhecesse e desse a conhecer, pois é perfeitamente impossível, do ponto de vista científico, que a fé cristã tivesse surgido se Jesus não tivesse Ressuscitado.
Nota: O uso do "L" maiúsculo é propositado, representando Jesus ► Considerá-Lo, tragá-Lo e sepultá-Lo, entre outros.
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