Em Poiares saem os andores dos muitos santos de uma festa única
Em Poiares saem os andores dos muitos santos de uma festa única
Em Poiares saem os andores dos muitos santos de uma festa única
Em Poiares saem os andores dos muitos santos de uma festa única
Em Poiares saem os andores dos muitos santos de uma festa única

Em Poiares saem os andores dos muitos santos de uma festa única

No mês de agosto, as cidades, vilas e aldeias de Portugal ganham novo colorido com as suas festas religiosas, marcadas pelo regresso de milhares de emigrantes às suas origens. Em Poiares, Ponte de Lima festeja-se três dias de festa, em honra a outros tantos santos, São Roque, São Tiago e Santo António, que, no dia da procissão, são carregados em andores pelas ruas da aldeia.

Isabel Silva, florista de profissão em Ponte de Lima, é uma zeladora orgulhosa pelo seu trabalho no embelezamento do andor do santo padroeiro da freguesia de Poiares (e da igreja matriz), São Tiago Maior, que vai na majestosa procissão, acompanhado pelos andores de S. Roque (patrono da pequena capela que encontramos à entrada da freguesia) e de S. António, naquele que será o ponto alto da mais importante festa desta aldeia, que acontece no fim de semana a seguir à data de 16 de agosto (dia de S. Roque). Auxiliada por mais duas companheiras da arte floral, Isabel revela que é um trabalho moroso, levando já duas noites dedicadas aos arranjos para que, no primeiro dos três dias de festa, as gentes da aldeia e os muitos emigrantes que, no mês de agosto, regressam à sua terra natal, possam ficar surpreendidos pelo colorido e reverência dos andores que estarão em exposição, até ao dia da procissão, na igreja paroquial atual, de típica traça barroca, construída no séc. XVIII, mas cujos primeiros registos recuam ao séc. XIII, a 1220, com as inquirições de D. Afonso II a referirem a existência de “Sancto Jacobeo de Poiares” em terras de Aguiar de Riba de Lima, na margem direita do Rio Neiva.

O Alto Minho é uma manta de recortes de paróquias, igrejas e capelas, centros fundamentais da vida cristã e social das localidades, com as festas aos seus santos patronos a servirem como polos de fervor religioso, a par com manifestações manifestamente pagãs ou profanas, e em que a atividade comercial se faz também sentir, com a montagem de feiras temporais, que findam no términus das romarias. Exemplo maior dessa realidade histórica ainda muito atual é a festa de Nossa Senhora das Dores de Ponte de Lima, que todos reconhecem como as “Feiras Novas”, a última grande festa popular do ano no Alto Minho.

Poiares igreja matriz

Fotografia de Artur Filipe dos Santos

Partindo à descoberta da igreja matriz e da capela de S. Roque, um dos membros mais ativos da Comissão de Festas (e também do Grupo de Bombos e Gaitas de Fole de S. Tiago de Poiares), Alexandre Ferreira projeta a importância destes dois cenóbios para as gentes de uma aldeia que conta com pouco mais de 700 habitantes e que, nos dias da festa, quase triplica de número, dependendo das figuras de cartaz que sobrem ao palco do terreiro paroquial. Até porque “são muitas as pessoas das aldeias vizinhas e até da sede de Concelho que se juntam aos moradores e aos nossos emigrantes para assistir aos concertos”, sublinha o eletricista de profissão.

À procissão que irá percorrer as ruas e lugares da aldeia, e que tem habitualmente lugar sábado pela tarde, acorrem também centenas de pessoas para verem os andores dos patronos da festa, mas também os de Nossa Senhora de Fátima e da Nossa Senhora da Boa Sorte, iconografias marianas de grande veneração por terras limianas e, por último, os andores de S. José e do Menino Jesus. Mais de 36 crentes (seis em cada andor) irão carregar as imagens da igreja paroquial até à Capela e terreiro de S. Roque para a missa campal, numa tradição que, segundo rezam os registos paroquiais, têm a sua origem nos finais do séc. XVII.

Já a tradição de se transportarem andores (os espanhóis chamam-lhes “pasos” ou tronos”, os italianos identificam como “macchine a spalla”) perde-se na poeira do tempo. A prática de carregar objetos sagrados ou ícones religiosos em estruturas transportáveis tem raízes profundas em várias culturas e religiões ao longo da história, havendo registos do transporte de ídolos, ícones ou imagens deuses desde o período mesopotâmio até à época de gregos e romanos. Ficaram famosas as descrições do historiador e crítico literário grego Dioniso de Halicarnasso sobre as procissões realizadas em Roma no Séc. I A.C, descrevendo a utilização dos andores para carregar imagens dos deuses. 

santo e nossa senhora da boa sorte

Fotografia de Artur Filipe dos Santos

Na tradição cristã, a prática de carregar imagens ou relíquias em procissões remonta aos primeiros séculos do cristianismo. Durante os tempos em que os cristãos eram perseguidos, existem relatos de procissões secretas para venerar relíquias de mártires ou ícones sagrados. Com o tempo, à medida que o cristianismo se tornou uma religião mais institucionalizada, as procissões tornaram-se uma parte importante da liturgia e da devoção popular e, à medida que a iconografia dos santos ia crescendo, também a utilização dos andores foi-se intensificando. Os andores (em outras regiões de Portugal são chamados também de charolas ou padiolas) evoluíram a partir dessas práticas antigas.

S. Roque

Fotografia de Artur Filipe dos Santos

Originalmente, os objetos sagrados eram carregados em simples estruturas de madeira, que foram sendo gradualmente decoradas e ornamentadas ao longo dos séculos. Com o renascimento artístico e as influências culturais do fim da Idade Média, os andores começaram a ser elaboradamente esculpidos, pintados e adornados com elementos decorativos. 

O que seria, nos dias de hoje, das magníficas procissões do Senhor Jesus Santo Cristo dos Milagres, nos Açores, da Senhora dos Remédios de Lamego ou a Semana Santa de Braga sem a beleza e sumptuosidade dos seus andores, que, tal como no passado, continuam a desempenhar um papel fundamental, na dinâmica simbólica e iconográfica das procissões, estas que, por sua, vez, são, provavelmente, das tradições religiosas mais populares do mundo católico.


Gostou do texto? Deixe abaixo a sua reação e comentário... smiley


Ver também |

Da brevidade e da demora

Da brevidade e da demora

Ilha de Ustica: O paraíso que nunca ouviu falar!

Ilha de Ustica: O paraíso que nunca ouviu falar!

Vai viajar? Reserve o seu Alojamento com o Selo Draft World Magazine... Juntos Conhecemos o Mundo  AQUI