O Caminho passa pela Rua Colorida
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O Caminho passa pela Rua Colorida

O Caminho passa pela Rua Colorida

Património Cultural das rotas portuguesas a Santiago de Compostela
A História, as Lendas e o Património dos Caminhos de Santiago

Da Mealhada a Oliveira de Azeméis, por rios e uma avenida enfeitada de chapéus-de-chuva...

Capítulo XI – Pelo Caminho Central, de Lisboa ao Porto tanto património para descobrir – Parte 7

Desengane-se que pensasse que depois de se deliciar com o leitão da Bairrada logo se iria encantar com as famosas tripas à moda do Porto ou apimentar o paladar com a típica francesinha da Invicta. Mais de cento e vinte quilómetros separam a Mealhada da cidade à beira Douro. Antes de alcançar a urbe das seis pontes é preciso ainda ultrapassar um último grande rio, o Vouga, que junto ao Atlântico forma uma imensa ria, que proporciona uma das mais bonitas paisagens fluviais de Portugal, oferecendo uma alcunha apetecível à última cidade que encontra antes de alcançar o mar: Aveiro — A “Veneza de Portugal”.

Saímos da terra dos leitões em direção a Anadia (terra de condes), passando por Alpalhão, numa paisagem verdejante marcada pelos vários afluentes formados por muitos dos rios da região centro de Portugal, como o Mondego, o Águeda, este último afluente do rio Rio Vouga, chegando a Avelãs de Caminho, que apesar do nome, a origem da sua toponímia não se encontra ligada à rota jacobeia, ao contrário do que acontece por exemplo, com as localidades de Hornillas del Camino ou Boadilla del Camino, no Caminho Francês, mas sim ao facto de, no séc. XII a antiga via romana que ligava Olissipo a Bracara ter sido desviada de Sangalhos para Avelãs e rebatizada com o nome de Estrada Real.

Pouco mais de uma dezena de quilómetros chegamos à bonita cidade de Águeda.

Conhecida pela riqueza das suas artes tradicionais como a olaria, os bordados ou a cestaria, Águeda é uma das localidades mais pitorescas do Caminho Central, desde logo porque aqui podemos aproveitar a tranquila panorâmica da Pateira de Fermentelos, uma das maiores lagoas naturais da Península Ibérica, alimentada pelo rio que dá nome à cidade, e onde é tradição apanhar o moliço, planta aquática muito utilizada na agricultura e que dá nome ao famoso barco que passeia pelos canais de Aveiro: o moliceiro.

Águeda guarda-chuvas coloridos

Em Águeda vale a pena descobrir o Panteão dos Lemos, cuja obra se atribui a um dos grandes mestres da arquitetura coimbrã João de Ruão e passear pela rua Luís de Camões, a célebre “rua dos Chapéus de Chuva” coloridos, eleita, em 2012, pela CNN, como uma das avenidas mais bonitas do mundo, a par das ruas azuis da cidade marroquina de Chefchaouen, Caminito de la Boca, em Buenos Aires, Argentina ou a Lombard Street, na cidade americana de São Francisco.

E porque não há tempo na vida do peregrino para descobrir muito mais (até porque as pernas exigem descanso depois de quase 300 quilómetros percorridos desde que deixou Lisboa para trás), voltamos ao caminho rumo a Albergaria-a-Velha, ultrapassando a ponte medieval do rio Marnel, que nos voltará à memória quando, mais lá para a frente alcançarmos a ponte D. Zameiro, em Vila do Conde ou Ponte de Lima, por encontrarmos nestas (pontes) semelhanças arquitetónicas notórias.

Placa Hotel Rainha Teresa

Fotografia | Lápide Rainha D. Teresa – Lápide do século XVII em calcário originalmente existente na fachada do Real Hospital de Albergaria. Com a demolição deste edifício, para aí ser construído o Palacete da Boa Vista, foi guardada para servir de primeira peça de um futuro museu. Desde meados do século XX encontra-se exposta ao cimo da escadaria dos Paços do Concelho. Fonte | CM de Albergaria

Fundada pela mãe de D. Afonso Henriques, a rainha D. Teresa terá mandado construir em 1117 uma albergaria junto à estrada que ligava Coimbra ao Porto, a chamada Estrada Real (mas que também se chamou de Mourisca ou Coimbrã), que possibilitasse a assistência a pobres, viajantes e peregrinos e cuja memória histórica ainda se encontra presente a partir de uma lápide do séc. XVII, que podemos descobrir junto aos Paços do Concelho, com a seguinte inscrição em português arcaico: “Albergaria de pobres e passageiros da Rainha D. Thareia, com 4 camas e 2 enxargois e esteiras , lume, agoa, sal, foco, e cavalgaduras e esmola e ovos, o frango aos doentes”. Por essa razão o albergue municipal de peregrinos que encontramos nesta cidade leva o nome da rainha.

Vale a pena explorar duas referências documentadas que ligam Albergaria-a-Velha ao Caminho Português de Santiago e que reforçam a importância do Caminho Central (ou Via Lusitana) no contexto histórico das rotas jacobeias: em 1594 o padre italiano Confalonieri, quando chega a Albergaria, com destino a Santiago Compostela, descreve a povoação banhada pelo rio Caima, como uma “aldeia de 100 casas, pequenas e pobres”. Em 1627, um peregrino vindo de Lisboa, de seu nome Jorge Domingues, “indo para Santiago de Galiza”, encontra a morte ao chegar a este lugar.

Para trás deixamos a “Velha”, para passarmos em passo rápido por Albergaria-a-Nova e daí até alcançarmos, quase uma vintena de quilómetros depois, Oliveira de Azeméis, localidade cujo território pertenceu à Ordem de Cristo, foi lugar de mercadores (conhecidos como almocreves) berberes e árabes. Do património há a destacar a igreja matriz (de traça barroca), o mosteiro de Cucujães e ainda o cruzeiro e pelourinho da Bemposta.


Lê toda a rubrica  | 
Capítulo I – Entre a história e a Tradição, um nome para a eternidade
Capítulo II – Antes do Caminho de Santiago, o Caminho pré-cristão
Capítulo III – Fernando I de Leão, o primeiro peregrino do Caminho Português
Capítulo IV - Os Caminhos Portugueses a Santiago
Capítulo V – Rota do Património da Costa Atlântica Portuguesa
Capítulo VI – Da Capital do Gótico ao Reduto dos Templários
Capítulo VII – Tomar: O bastião Templário que salvou Portugal
Capítulo VIII – O Tesouro da Rainha Santa na cidade dos Estudantes
Capítulo IX – Em Santiago para Agradecer o Milagre das Rosas
Capítulo X – O Caminho na rota da Gastronomia
Capítulo XII - O Caminho Ganha Nova Dimensão
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