Onde o Oriente encontra o Ocidente

Onde o Oriente encontra o Ocidente

Hong Kong tornou-se uma Colónia Britânica, por incrível que pareça, devido ao ópio. Não fosse a China, em 1839, ter proibido os comerciantes ingleses de vender ópio (proveniente da Índia) em território chinês, provavelmente a história deste território teria sido muito diferente do que é hoje. À luz dos valores atuais, esta cedência de território parece obra de ficção, mas a verdade é que devido à primeira guerra do ópio, Hong Kong passou a integrar o império Britânico.

Começou por ser apenas a ilha de Hong Kong (80 km²), mas ao longo dos 57 anos seguintes (até 1899) e de forma progressiva, o tamanho da colónia foi aumentado em mais de 10 vezes.

Após esse momento, com a interrupção causada pela ocupação japonesa de 4 anos na 2º Guerra Mundial, Hong Kong viveu 150 anos como Colónia Britânica, até 1997 altura em que regressou ao domínio chinês. Atualmente, este território situado na costa sul da China, é uma das duas regiões administrativas especiais da República Popular da China, sendo a outra Macau.

Quando 7 milhões de pessoas vivem em 1104 km², tornam Hong Kong numa das áreas com maior densidade populacional do planeta, não é de estranhar a paisagem dominada por arranha-céus. Dada a escassez de solo, a conquista do céu tornou-se inevitável. De forma a compreender melhor este fenómeno, a área metropolitana de Lisboa quando comparada com Hong Kong, tem o triplo do tamanho e menos de metade da população, claramente vivemos bem mais à larga.

No acordo celebrado entre a China e a Grã-Bretanha em 1984, ficou assente que Hong Kong teria as suas liberdades e estilo de vida próprio garantidos durante 50 anos, ou seja, até 2047. Estamos ainda em 2021 e os “beliscões” ao acordo estão a ser uma constante nos últimos 7 anos!

Em setembro de 2014, após uma reforma eleitoral que apenas pretendia que a China aprovasse os candidatos em quem os habitantes de Hong Kong iriam votar, deu-se a que ficou para a história, a revolução dos guarda-chuvas. A População em massa, manifestou-se em frente à sede do governo e ocuparam vários dos principais cruzamentos da cidade. Não houve gás lacrimogéneo e balas de borracha suficientes para que aceitassem tal mudança, a população obrigou o governo a recuar.

Em 2019 e de 2020, mais uma vez, o povo teve de vir para a rua, desta vez, veio exigir a retirada do projeto de lei de extradição que foi proposto pelo Governo de Hong Kong. Caso a lei fosse promulgada, temia-se que os habitantes de Hong Kong ficassem sujeitos a um sistema legal diferente, o que permitiria às autoridades locais deter e extraditar pessoas que são procuradas em territórios com os quais Hong Kong não possui acordos de extradição, como a China continental e o Taiwan. A ameaça de ficarem sob jurisdição da China, prejudicando dessa forma a autonomia local e os direitos dos cidadãos, foi o “fuel” necessário para haver quase que de forma incessante, protestos desde a primavera de 2019 até ao início de 2020, tendo muitos deles escalado de forma violenta devido à brutalidade policial.

Após o cerco feito à Universidade Politécnica de Hong Kong, a vitória sem precedentes da pró-democracia nas eleições do conselho distrital em novembro e a pandemia de COVID-19 no início de 2020, vieram trazer algum descanso, mas 5 meses depois as tensões voltaram a aumentar devido à decisão de Pequim em promulgar uma lei de segurança nacional para Hong Kong.

Quais são as principais exigências da população de Hong Kong?

Que ocorra uma retirada completa do projeto de extradição do processo legislativo;

Libertação e exoneração de manifestantes presos;

A formação de uma comissão de inquérito independente que investigue a conduta policial e o uso da força durante os protestos;

Que a chefe do executivo de Hong Kong (Carrie Lam) Renuncie ao cargo;

Implementação do sufrágio universal para as eleições do Conselho Legislativo e do Chefe do Executivo.

A vida quotidiana vai coexistindo com a sombra iminente do autoritarismo, têm sido muitas as lutas e creio que muitas mais irão acontecer nos próximos anos, é de enaltecer o poder de resistência da população de Hong Kong. Nasceram e viveram em democracia, não creio que seja possível submeter a população de Hong Kong a uma ditadura autoritarista, nem agora, nem em 2047. Vai ser um verdadeiro teste à paciência de Chinês!