Mais do que palavras... Profecias!
Nos momentos mais delicados da economia nacional, é importante reparar que por norma sobressaem sempre duas palavras. Duas palavras-chave que conseguem caracterizar o ataque e as tormentas que os bolsos do cidadão comum sofre, duas palavras que tentamos sem sucesso esquecer e que, ganham assim o estatuto de “fotografia para memória futura”.
O mais “engraçado” é que de crise em crise as palavras mudam (evoluem? Talvez…), à época são moda, tornam-se nas palavras mais pesquisadas nos motores de busca online, mas rapidamente passam de moda e são substituídas por outras, reflexo de uma sociedade de consumo imediato?
Em 2012, há cerca de dez anos atrás, decerto se recorda das palavras “austeridade” e “troika” … Como é possível esquecer? Não foi certamente um momento bom para a maioria das pessoas, tivemos que abdicar de muito para que o país conseguisse voltar a gatinhar.
Andar? Ainda está para nascer o governo que consiga tal façanha! Não perca a esperança… Por enquanto, a aproximação à zona da cauda continua.
Mesmo sabendo que vou ser altamente criticado por alguns, gosto de apelidar esse momento da economia nacional de “emagrecer carteiras para pagar devaneios socráticos”.
Em 2022 a história é outra, inflação e juros conquistam sorrateiramente as nossas bocas, casas e automóveis. Não esperávamos nem queríamos, mas a verdade é que não é possível fechar as fronteiras a esse vírus, nem sequer há nenhuma máscara cirúrgica que consiga evitar esse contágio.
Agora Sócrates “é brasileiro” e já passou do prazo de validade (impróprio para consumo), todos os devaneios foram concentrados num novo produto que já está a ser comercializado na Rússia há quase 4 meses.
Será assim tão difícil de prever o futuro da economia?
Será possível antecipar as armadilhas e buracos que vamos encontrar?
É um grande elogio do leitor, nem que seja por um segundo, se acreditar que eu consigo dar resposta a estas questões tão importantes e estruturais para a humanidade. Infelizmente não tenho capacidade para tanto! Agradeço a consideração e, com verdade e humildade posso porém, ainda que de uma forma superficial e simbólica trazer alguma luz a este assunto.
Normalmente quando se quer perceber o futuro espreita-se o passado, bem sabe que não é uma frase nova, mas nunca passa de moda e com o passar dos anos o sentido continua bem atual.
Fez no domingo (dia 5 de junho) 299 anos que nasceu em Kirkcaldy, Fife (Escócia), o economista e filósofo Adam Smith, por muitos considerado pai da economia moderna. Relembrar Smith é recuar aos pilares da economia, principalmente ao que ao liberalismo diz respeito. Este grande teórico do século XVIII nas suas obras, amplamente acreditadas, estudadas e difundidas, defendia um mercado livre, sustentado numa competição entre as partes trabalhadoras, beneficiando os cidadãos e a sociedade com um controlo de preços implícito, ao mesmo tempo em que criava uma oferta variada e diversificada. Adam Smith acreditava que com um mercado competitivo e dinâmico, é possível criar crescimento suficiente para suprir as necessidades de todos, tendo em conta as capacidades produtivas de cada um e a possibilidade de alocar um maior número de trabalhadores para áreas de maior procura.
Contudo, já na sua obra (relembro que foi publicada no século XVIII) manifestava algumas preocupações com este modelo económico, eu acrescentaria que não eram meras preocupações, mas sim verdadeiras profecias.
No campo profético, bem sei que a primeira personalidade que vem à cabeça é Michel de Nostredame, geralmente latinizado como Nostradamus, mas defendo que nessa lista cabe perfeitamente Adam Smith, ora vejamos...
Em relação ao mercado liberal, Smith temia que:
► Alguns dos grandes empresários pudessem conspirar ou especular de forma a que os preços subissem;
► Que aparecessem monopólios, precisamente por terem um poder de controlo desmesurado nos preços, manipulando-os a seu bel-prazer;
► A interferência das grandes empresas no sistema político, podendo fomentar a formação de lóbis, capazes de influenciar a legislação e a própria atuação das forças políticas vigentes.
Cheira-lhe a alguma coisa?
Adam Smith apesar de defensor do liberalismo reconhecia que os interesses são vários, plurais, e o seu conflito deve ser devidamente mediado, sem colocar em causa o bem-estar e a prosperidade da sociedade. Hoje chamaríamos de regulação eficaz dos mercados.
Alguém sabe do paradeiro da designada “mão invisível”?
Eu não a consigo ver…
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