As 3 Variantes do Caminho Central
De costas para a Porta Santa da Sé Catedral do Porto, o peregrino depara-se com uma incógnita saudável:
Qual das três variantes do Caminho Central escolher?
Fotografia ► Igreja Românica de Santiago de Antas, Famalicão
► O Caminho Central original por Braga, que o levará até Covelas, na Trofa, Santiago de Antas (com a sua fascinante igreja românica, integrante de um antigo mosteiro dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, erguida no séc. XIII e que conserva um impressionante quadro alusivo à Nossa Senhora do Pilar, de autor desconhecido), em Famalicão e daí até à cidade dos Arcebispos.
► O segundo, em termos históricos, mas primeiro em número de peregrinos a optar por esta variante na atualidade, é o Caminho Central por Barcelos, partindo da Invicta até Vairão (com o seu notável albergue, idealizado por um casal de peregrinos que se conheceram no Caminho, e instalado no antigo mosteiro beneditino de S. Salvador, cujas primeiras referências a esta comunidade monacal data de 974), seguindo para S. Pedro de Rates. Esta localidade, pertencente ao concelho da Póvoa de Varzim, é fundamental para todos os que realizam o caminho português, seja numa perspetiva religiosa, seja num contexto de estudo do património, já que a sua igreja, de arquitetura românica, conserva a memória de S. Pedro de Rates, que a tradição refere como primeiro bispo de Braga, ordenado pelo Apóstolo Santiago por volta do ano 45.
Fotografias ► (1 e 4) Núcleo Museológico de S. Pedro de Rates. (2) Igreja Românica e escultura de S. Pedro de Rates. (3 e 5) Albergue e Mosteiro de S. Salvador de Vairão.
A história deste templo remonta originalmente ao período suevo-visigótico, mais concretamente do séc. VI, possivelmente como parte do um núcleo conventual. O atual conjunto arquitetónico é posterior, do séc. XIII, de influência beneditina clunicense, ordem que recebeu por parte dos condes portucalenses D. Henrique e de D. Teresa (pais de D. Afonso Henriques), largas doações de território. Merece também destaque o Núcleo Museológico, que se encontra a escassos metros da igreja, inaugurado em 2004, e que conserva, entre outras relíquias e imagens do passado, uma das primeiras representações pétreas de D. Afonso Henriques.
Fotografia ► Barcelos, sinalética, Cruzeiro do Galo e Ponte sobre o Rio Cávado.
► Daqui o peregrino segue rumo a Barcelos, meta basilar do Caminho Português. Mesmo aqueles que, numa primeira fase, não optam por esta variante, acabam sempre por aportar em Barcelos, a cidade da mítica lenda do peregrino injustiçado, que viu a sua vida resgatada pelo cacarejar milagroso de um galo e que ainda hoje conserva a memória desta tradição, num cruzeiro que podemos avistar à entrada do centro histórico. Mas esta lenda, bem como a extraordinária cidade que a conserva, serão motivo de uma crónica própria.
Fotografia ► Ponte sobre o rio Lima, o "Rio do Esquecimento".
Seguindo rumo ao norte, as variantes de Braga e de Barcelos confluem na bonita vila de Ponte de Lima, num exercício de paralelismo entre o Caminho Português e o Caminho Francês (atualmente os mais percorridos de todas as via a Compostela), já que este último vê as duas variantes mais conhecidas, o Caminho Navarro, por Saint Jean Pied-de-Port, e o Caminho Aragonês, por Somport, unirem-se na enigmática localidade de Puente la Reina.
O Caminho Central segue em direção a Valença, não sem antes passar pela desafiante serra da Labruja (onde encontramos a mítica “Cruz dos Franceses”) e por Rubiães até encontrar, finalmente, a fronteira natural do rio Minho, já com os olhos e alma no lado galego.
Fotografia ► Ponte Eiffel com vista para Viana do Castelo e Basílica de Santa Luzia
Por fim a variante conhecida como o Caminho da Costa, partindo da Invicta em direção a Matosinhos, mais concretamente a São Tiago de Custoias, que ainda hoje conserva uma igreja em honra ao seu orago, datada de 1733 (em substituição de uma anterior, erguida no séc. XIII). Originalmente a rota seguia para S. Pedro de Rates, onde se unia com a variante por Barcelos ou seguia em direção a Esposende. Atualmente os peregrinos percorrem o itinerário desde o antigo concelho de Bouças (como era conhecido Matosinhos até 1909) rumo a Vila do Conde, passando por S. Tiago de Labruge e daí até Esposende, ultrapassando a Póvoa de Varzim.
Fotografia ► Ferryboat em Caminha para a Guarda.
Com o mar a servir de companheiro fiel, o Caminho da Costa segue em direção à “Princesa do Lima”, atravessa a icónica ponte Eiffel e alcança Viana do Castelo. Segue para Vila Praia de Âncora, Caminha (onde pode entrar no ferry que o levará a atravessar o rio Minho até à Guarda, se optar pela variante que permitirá explorar a costa galega e encontrar novamente o Caminho Português em Redondela) e daí até Seixas (onde deve obrigatoriamente pernoitar no albergue de S. Bento), Vila Nova de Cerveira até confluir com o Central em Valença.
Fotografia ► Albergue de Peregrinos de S. Bento, em Seixas, Caminha
Três variantes de um mesmo caminho, com tanto para descobrir, seja no contexto do património seja no ponto de vista da natureza, mas que guardam experiências diferentes que farão de cada senda uma via especial no exercício da transcendência que apenas os Caminhos de Santiago podem oferecer.
Fotografia ► Cruz dos Franceses, Serra da Labruja. Fotografia obtida aquando da peregrinação a Santiago com a Universidade Sénior Contemporânea do Porto.
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