Os Teatros do Porto de Antigamente
Públicos ou privados, os teatros foram uma realidade prolífica no contexto cultural portuense desde o séc. XVIII até aos nossos dias. Conheça a história de alguns dos mais importantes palcos da invicta.
O Porto foi, desde sempre, palco de manifestações culturais e artísticas. Apesar de ser, desde sempre, apelidada como a “Cidade do Trabalho”, o velho burgo descobria a cultura inicialmente ligada às tradições e festas religiosas como o Corpo de Deus ou o S. João, onde, por todo o centro histórico, gaiteiros e muitos outros músicos conviviam com teatros de rua, malabaristas, entre outros artistas ou entretinham-se, nas “tardes e noites mais acaloradas”, em passeios de barco pelo Douro (os mais abastados acompanhados por músicos), a bordo de embarcações cobertas por toldos, convívios que eram apelidados como as “Fúrias do Rio”.
Não era raro ver peças itinerantes serem montadas no claustro gótico da Sé Catedral e era habitual assistirem-se a performances em barracas montadas junto às mais importantes feiras e mercados da antiga “Civitas Virgins”.
É com a chegada dos célebres Almadas que o Porto vem a descobrir o teatro numa dimensão até aí conhecida pela cidade: a partir da edificação de um espaço próprio.
Se, anteriormente, os espetáculos eram apresentados em barracas, ruas ou largos, com João de Almada e Melo (primo de Sebastião José de Carvalho e Melo, imortalizado na história como Marquês de Pombal, e que recebeu deste o título de Governador de Armas do Porto) surge o primeiro espaço físico adaptado para receber o primeiro teatro da cidade: o Teatro dos Celeiros da Cordoaria. Obra do mestre João da Maia, de 1699, os Celeiros da Cordoaria, foram, como o nome indica, erguidos com o objetivo inicial de recolher e proteger os cereais e alimentos fundamentais para o abastecimento da cidade e os seus limites mais próximos. Localizado onde hoje podemos encontrar o Palácio da Justiça, rapidamente abandonou essa finalidade, para, a partir da década de 50 do séc. XVII, ser convertido em palco, com vista a receber a companhia do produtor polaco Félix Kinsky, que nos anos 40 desse mesmo século já se havia notabilizado em Espanha e que neste espaço levou à cena “comédias, danças e cantos”.
Em 1760 o Porto assistiria ao nascimento do seu primeiro teatro lírico e, mais uma vez, num edifício adaptado para o efeito, desta feita o Palácio dos Duques de Lafões, mais concretamente as cavalariças do palácio, adaptadas por João Glama Ströberle, pintor (notáveis as suas obras inspiradas pela tragédia do terramoto de 1755) e arquiteto português de origem alemã. A esse espaço foi dado o nome de Teatro do Corpo da Guarda.
Antigo Teatro de S. João. Fonte | Centro Nacional de Cultura
Só com Francisco de Almada e Mendonça (o filho mais novo de João de Almada e Melo e que viria a suceder ao pai como governador da cidade) é que o Porto assistiu ao nascimento, em 1798, do primeiro edifício dedicado em exclusivo às atividades teatrais: o Teatro S. João. Projeto de Vicente Mazzoneschi, foi inaugurado a 13 de maio, com a peça «A Viandeira», num espetáculo em homenagem ao príncipe regente D. João que, nesse dia, celebrava o seu aniversário. Por essa razão a sala ficou conhecida popularmente como o “Teatro do Príncipe”. Em 1908 viria a ser destruído por um incêndio. Em 1920 foi inaugurado o atual teatro de S. João, obra do notável arquiteto Marques da Silva.
Teatro Gil Vicente (Palácio de Cristal) | Fonte
E tanto haveria para falar sobre os muitos teatros que as autoridades portuenses foram erguendo ao longo dos anos, onde se destacam as notáveis histórias de cenários como os do Palácio de Cristal (com destaque para o Teatro Gil Vicente), o Príncipe Real (atual Teatro Sá da Bandeira) ou ainda o “Nacional” e que hoje conhecemos como o Teatro Municipal Rivoli.
Contudo, a história das artes de palco na cidade não se ficou apenas por espaços dinamizados pelas instituições públicas. Entre o séc. XIX e XX foram inúmeras as salas privadas que despontaram no Porto, algumas dinamizadas por figuras notáveis como foi caso do Teatro Minerva (também conhecido como o Teatro da Rua da Fábrica) pelo poeta David Castro (filho da baronesa de Nevogilde, importante personalidade do Porto oitocentista, proprietária do Palácio dos Carrancas, onde atualmente se encontra implantado o Museu Nacional Soares dos Reis) ou o Teatro Ateneu Portuense, do intelectual e escritor José Pereira Sampaio (mais conhecido como “Sampaio Bruno”), que se encontrava localizado na Rua do Bonjardim.
Teatro Baquet | Biblioteca Nacional de Portugal - "Diario Illustrado", n.º 5370
Para além de figuras ilustres, outros, de origens mais humildes, foram responsáveis pela promoção de vários espaços teatrais, espalhados um pouco por toda a cidade, e que atingiram destacada notoriedade, dando como exemplos o Teatro Recreio da Família, que teve como principal diretor um ferroviário, de nome Júlio Moutinho, ou ainda o famoso e famigerado Teatro Baquet, mandado construir pelo alfaiate portuense António Pereira Baquet, em 21 de fevereiro de 1858, entre a Rua Sá da Bandeira e Santo António (atual Rua 31 de Janeiro) e consumido por um trágico incêndio na noite de 20 de março de 1888, que levaria à morte de mais de 120 pessoas. No cemitério de Agramonte encontra-se, ainda hoje, um monumento evocativo, construído a partir de materiais recolhidos dos escombros do edifício do Teatro Baquet, em memória das vítimas que pereceram na tragédia que levou ao desaparecimento de uma das mais saudosas casas de espetáculo do Porto.
Gostou do texto? Deixe abaixo a sua reação e comentário...