Sabedoria Celta: um olhar profundo sobre a intimidade humana

Sabedoria Celta: um olhar profundo sobre a intimidade humana

“Que meus olhos abençoem tudo o quanto veem…”

Sabedoria Celta

A tradição celta tem uma bela conceção de amor e amizade. Uma das suas ideias fascinantes é a do amor à alma, que no antigo gaélico diz-se Anam Cara, «Anam» significa «alma» e «Cara» é «amizade». Para os Celtas a interioridade do Eu, a mente e o coração podem ser revelados na Anam Cara. Essa amizade era um ato de reconhecimento e enraizamento entre humanos.

Então, “Anam Cara" no mundo celta representava uma amizade espiritualizada, um espaço de escuta e acolhimento, um lugar inter-humano de partilha. Uma partilha genuinamente humana, onde a relação de escuta e cuidado surgiam como momento de aprendizagem e ampliação de consciência.

Quando uma pessoa estava confusa ou preocupada com o futuro, quando a angústia e ansiedade a assaltavam, visitava um sábio para se aconselhar, na esperança de que com o seu aconselhamento aprendesse a enfrentar o seu destino, a viver mais profundamente e a sentir-se mais protegida do perigo iminente e da destruição.

A angústia coloca-a em contacto consigo, mas expunha-lhe a vulnerabilidade no amparo, no amparo de si ou de outro. 

A angústia convoca-nos a entrar em contacto connosco, ela “aponta” para o que está (medos, faltas, vazio, finitude, o medo de morrer). A angústia caracteriza-se por um vazio de linguagem e um vazio de significação. A angústia é constitutiva. Para Lacan a angústia é um único afeto-sentimento que não mente, porque nos faz entrar em contacto com a verdade — não dá para fugir.

Embora, por vezes o que façamos é tentar anestesiá-la, podemos aprender com ela. A angústia ensina-nos, ela permite-nos expandir, permite-nos conhecermo-nos. 

Ela relaciona-se com o sentimento de desamparo original que nos remete para a solidão e dependência que todos experimentamos (só nós podemos fazer e assumir as nossas escolhas, no entanto deparamo-nos com a falta de garantias exatas e isso angustia-nos). Este sentimento também pode ser de amparo, quando o bebé se sente acolhido nos braços de mãe, pai, cuidadores e comunidade de pertença. Tanto um sentimento como outro podem definir tendências desenvolvimentais futuras. 

Regressando aos Celtas, para eles a sabedoria é a arte de equilibrar o conhecido com o desconhecido, o sofrimento com a alegria. Ela é uma maneira de integrar a vida numa nova e mais profunda unidade. Eles associavam-na ao tempo de colheita na vida.

A alma deseja expressar-se. Para esta comunidade a presença da vida interior é entendida como textura da alma, algo que se tece em conjunto, em diálogo, na escuta, no ritual sagrado de contacto com íntimo da natureza humana, na ponte entre o natural de dentro e a natureza de fora.

“Que encontres uma harmonia entre a tua alma e a tua vida.”
(…) Que haja benevolência no teu olhar quando contemplares o teu íntimo.
Que nunca coloques muros entre ti e a luz”.

Do livro "Ecos Eternos" de John O'Donohue

A noção de individualismo era-lhes estranha, pois a vida só lhes fazia sentido em comunidade de pertença e em espírito de partilha. Uma vez que o que está disperso carece de unidade. Saibamos regressar ao círculo da vida comum.


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