Os Caminhos Portugueses a Santiago
Os Caminhos Portugueses a Santiago
Os Caminhos Portugueses a Santiago
Os Caminhos Portugueses a Santiago
Os Caminhos Portugueses a Santiago

Os Caminhos Portugueses a Santiago

Património Cultural das rotas portuguesas a Santiago de Compostela

A História, as Lendas e o Património dos Caminhos de Santiago

Capítulo IV – Portugal dos Vários Caminhos a Santiago

Em Portugal existem, nos dias de hoje, várias rotas a Compostela. Algumas mais antigas do que outras, umas mais originais, outras que resultam do desenvolvimento turístico-económico que o ressurgimento em massa das peregrinações provocou. Certo é que a dinâmica jacobeia conhece, no nosso território, um forte incremento. 

O Caminho Português Central é o mais percorrido de todas as vias portuguesas. É um itinerário desenvolvido tendo por base a via romana XVI ou Via Marítima, que ligava a cidade de Olisipo (atual Lisboa, que na época fazia parte da província da Lusitânia), e Bracara Augusta, nome dado pelos romanos à atual Cidade dos Arcebispos, e daí seguia a via XVII em direção a outra importante cidade da Galécia, Asturica Augusta, atual Astorga.

Descrita no itinerário de Antonino (registo de todas as vias romanas redigido entre os séc. II e III da nossa era, deve, provavelmente, o seu nome, a Antonino Caracala), quem por esta via caminhava passava por cidades já tão importantes naquela época como Scallabis (Santarém) e Ierabriga (Alenquer), Seilum (Tomar), Conímbriga, Aeminium (Coimbra) e daqui até Langóbriga (atual Fiães, no concelho de Santa Maria da Feira) alcançando Portus Cale e finalmente Bracara. 

Contudo, outra estrada romana contribuiu para o futuro Caminho Central: a via XIX, rota que conectava o Conventus Bracarensis às margens do rio Lima, que à época era conhecido como Lethes, celebrizado numa das mais importantes lendas do Alto Minho, a do “Rio do Esquecimento”, que haveremos de abordar no capítulo referente às Lendas do Caminho Português. E da atual Ponte de Lima seguia para Tude (Tui), Turoquoa (Pontevedra) e Aquis Celenis (Caldas de Reis). Como nos séc. II e III Compostela não era mais que um aquartelamento romano, um pequeno castro e um campo de telas (cemitério), a via seguia para a terceira das grandes cidades da Galécia, Lucus Augusti (Lugo) até alcançar Asturica.

Fotografia | Ponte de Lima, caminho Central, banhada pelo rio que os romanos chamavam de “Lethes”, o “Rio do Esquecimento”.

Fotografia | Ponte de Lima, caminho Central, banhada pelo rio que os romanos chamavam de “Lethes”, o “Rio do Esquecimento”.

A partir de 1065, quando Fernando Magno peregrina de Coimbra a Santiago, inaugura o Caminho Central como o conhecemos. Contudo, e porque o Caminho começa em cada uma das nossas casas, a rota jacobeia portuguesa principal (a que liga Lisboa a Santiago) vai sofrer uma evolução, tendo o Porto como núcleo central, já que da Cidade Invicta partem três caminhos: o Central por Braga e o Central por Barcelos (que a partir do séc. XIV conhece enorme incremento com a construção da ponte sobre o rio Cávado, atestado ainda pela mais importante de todas as lendas portuguesas do Caminho de Santiago, a do Senhor do Galo), ambos a confluírem em Ponte de Lima e daí até Valença, Tui, Porriño, Redondela, Pontevedra, Caldas de Reis, Padrón e Santiago. Também do Porto inicia um outro caminho já documentado desde os tempos de D. Manuel I, conhecido nos dias de hoje como o Caminho Português da Costa, que parte do burgo portucalense em direção a S. Tiago de Custóias (Matosinhos), Moreira da Maia, S. Pedro de Rates e daí até à Póvoa de Varzim, percorrendo toda a orla marítima até Caminha (passando pela importante igreja de S. Tiago de Castelo de Neiva, no concelho de Viana do Castelo), até Vila Nova de Cerveira, confluindo finalmente com o Caminho Central em Valença. Refira-se ainda o surgimento, ao longo do tempo, de variantes dos caminhos junto ao litoral, como por exemplo, atravessando de barca o rio Minho, em Caminha, até A Guarda e daí por Baiona Vila Nova de Arousa em direção a Padrón, no Caminho Central.

Pontevedra, no Caminho Português. A capela da Virxe Peregrina, séc. XVII, tem a forma de uma concha de vieira, símbolo das peregrinações a Santiago

Fotografia | Pontevedra, no Caminho Português. A capela da Virxe Peregrina, séc. XVII, tem a forma de uma concha de vieira, símbolo das peregrinações a Santiago.

O fenómeno da peregrinação jacobeia não foi nem é um exclusivo do litoral, já que outras importantes rotas recortavam o interior português com epicentro em Viseu. Rotas estudadas por investigadores fundamentais no que à história das vias lusas dizem respeito, historiadores como Baquero Moreno ou Arlindo Ribeiro da Cunha identificaram rotas que atravessavam a Serra da Estrela rumo a Belmonte, de Salamanca a Trancoso, com as mesmas a confluírem na cidade de Viriato. É da capital da Beira Alta que parte, agora como no passado, o Caminho Português do Interior, em direção a Castro Daire, Lamego, Régua, Vila Real, Vila Pouca de Aguiar até alcançar Chaves e passar a fronteira em direção a Verín, Ourense, Cea, Ponte Ulla e Santiago.

Nos dias de hoje outras importantes rotas do passado têm vindo a ser estudadas e reconhece-se o seu contributo para o crescimento do culto jacobeu no território português (comprovado pela enorme quantidade de povoações que têm como hagiónimo ou padroeiro Santiago Maior), como por exemplo o Caminho da Geira e os Caminhos do Alentejo.

Ribadavia caminho da Geira

Ao Caminho da Geira, os galegos chamam de “Caminho da Rainha Santa”, rota que a esposa de D. Dinis terá percorrido numa das duas peregrinações que terá realizado a Compostela, entre os anos de 1325 e 1335. O atual caminho, conhecido também como o da Geira e Arrieiros, parte de Braga, atravessa a antiga geira romana (ou Via VII), por Terras de Bouro até à Portela do Homem, e já em terras espanholas, passando pela vila termal de Lóbios, entrando novamente em território português na povoação de Castro Laboreiro, seguindo uma vez mais por terras galegas até Ribadavia, A Estrada, Pontevea e, finalmente, Compostela.

Mértola, no caminho do Alentejo, foi a primeira sede da ordem de Santiago em Portugal_Igreja (antiga Mesquita) de Mértola

Fotografia | Mértola, no caminho do Alentejo, foi a primeira sede da ordem de Santiago em Portugal. Igreja (antiga Mesquita) de Mértola.

Os Caminhos do Alentejo têm como centro fundamental a cidade de Mértola, que de 1248 a 1482 foi a sede da Ordem de Santiago em Portugal. Por essa razão, as rotas conhecidas hoje em dia como “Caminho Nascente” e “Caminho da Raia” partem da antiga urbe muçulmana passando por importantes localidades como Beja, Évora, Estremoz (Caminho Nascente) ou Serpa, Vila Viçosa ou Elvas, confluindo as duas vias em Alpalhão e a partir daí por Nisa, Castelo Branco até alcançar Viseu e seguir pelo Caminho do Interior até Santiago.

Allariz via de la Plata

Por fim, importa lembrar ainda o tramo da Via de la Plata (que liga a Andaluzia à cidade do Apóstolo) e que, partindo de Zamora, entra por território nacional em Bragança e daí até Vinhais e, já no concelho de Chaves, passa a fronteira em direção a Verín e Allariz, passando pela lendária povoação de Santa Maria de Augas Santas até Ourense e dai até Santiago de Compostela, meta final de todos os caminhos portugueses.


Fotografias | Artur Filipe dos Santos

Lê toda a rubrica  | 
Capítulo I – Entre a história e a Tradição, um nome para a eternidade
Capítulo II – Antes do Caminho de Santiago, o Caminho pré-cristão
Capítulo III – Fernando I de Leão, o primeiro peregrino do Caminho Português
Capítulo V – Rota do Património da Costa Atlântica Portuguesa
Capítulo VI – Da Capital do Gótico ao Reduto dos Templários
Capítulo VII – Tomar: O bastião Templário que salvou Portugal
Capítulo VIII – O Tesouro da Rainha Santa na cidade dos Estudantes
Capítulo IX – Em Santiago para Agradecer o Milagre das Rosas
Capítulo X – O Caminho na rota da Gastronomia
Capítulo XI - O Caminho passa pela Rua Colorida
Capítulo XII - O Caminho Ganha Nova Dimensão
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