
Os Artistas e os seus Perfis
No artigo anterior, "Arte é Cura" apresentamos o projeto da exposição "Mães do 27" e a Associação 27, uma associação de órfãos do 27 de maio de 1977 e de pessoas solidárias com a causa, na busca da verdade histórica. Um evento com a curadoria de Kassessa Gandara e Aura Dragulanescu, com Maura Faial na direção de projeto e membro da associação das vítimas do 27 de maio.
Agora, chegou o momento de partilhar o perfil dos artistas que participam na exposição. Os artistas inspiraram as suas obras no conceito: CURA / CURE. Uma homenagem anual aos perdidos e aos que perderam os seus familiares, com o objetivo de trazer conforto e de se aproximar do povo de Angola. São 8 os artistas visuais presentes na exposição que está aberta até dia 31 de agosto: Armanda Alves, Isabel Baptista, Jorge Sistelo, Kassessa Gandara, Leda Baltazar, Lino Damião, Nelo Teixeira, Zizi Ferreira.
Vamos conhecer um pouco mais sobre cada um dos artistas?
Armanda Alves
Armanda Alves, angolana, vive há alguns anos em Portugal, e durante muito tempo pintou por prazer, para si e amigos. Toda a energia que passa para a tela, o jogo das cores é um prazer para a artista. Sendo autodidata, foi encontrando várias e diferentes técnicas e está sempre numa descoberta constante e num crescer interior. Buscando novas técnicas para exprimir a sua obra, numa descoberta do mundo que a rodeia, através da utilização de utensílios e ferramentas de pintura, entre as quais, a pintura de telas aplicando apenas os dedos e a ausência de pincéis, estando de momento numa maturidade da sua técnica por forma a definir uma linha condutora do seu trabalho artístico. Armanda, absolutamente apaixonada pelas suas pinturas, com uma linha marcadamente abstrata, e eclética, seja nas formas, na técnica e nos suportes por si utilizados, dá-nos imagens de perfeito deleite através, da luz, das cores e da linguagem tão serena e poética, estilizada em cada uma das suas obras.
Grácia Ferreira
Engrácia Ferreira dos Santos (Grácia Ferreira) nasceu em 1973 em Luanda, Angola. Depois dos estudos primários e preparatórios, concluiu o ensino médio de artes plásticas defendendo o trabalho final de escultura com o tema “Diferença conceptual entre estatueta e estátua”. Atualmente, aluna da Universidade Lusófona no curso de Arquitetura em Lisboa. Em Angola foi professora de Educação Visual e Plástica e Formação Manual Politécnica nas Escolas Ngola Mbandi, Colégio Sol Nascente, entre 1998 e 2001.
Isabel Baptista
Nascida em 1957, Isabel Baptista de Luanda, onde reside, estudou Artes Visuais na escola industrial de Luanda nos anos 70. Tem o seu trabalho exposto na Europa, América Latina, Ásia e África. Participou em exposições nacionais e internacionais, igualmente em Angola em Instituições privadas e do Estado. Tem uma Galeria de arte em Luanda, o Cenarius. Tem obras patentes em vários colecionadores.
Jorge Sistelo
Nascido a 18 de outubro de 1967 em Nova Lisboa, foi a cidade onde viveu com a sua família até agosto de 1975, altura em que por força das demais vontades, se muda para a “Metrópole” em busca de uma nova vida. Longe da guerra, mas também da já experimentada tranquilidade, encontra um novo mundo de cidade em cidade procurando pela sua nova casa. Em 1988, ruma a Florença, onde frequenta a Accademia Cappiello, importante escola Italiana de Arte e Design onde se gradua. Tendo demonstrado as competências necessárias, trabalhou com alguns dos seus mestres que aliás atualmente representa em Portugal, ao mesmo tempo que dirige a Mural D’Autor, empresa dedicada às artes decorativas e ao restauro. Tem visto o seu trabalho publicado em obras de referência da arte portuguesa e está representado em diversas galerias europeias, nas cidades de Florença, Siena, Rimini, Leon e Barcelona. Tem obras espalhadas pela Europa e Estados Unidos sendo que neste momento prepara uma próxima exposição, a realizar em Bruxelas, no Parlamento Europeu.
Kassessa Gândara
KassessA nasceu em 1976, em Lubango, Angola. Ele é um artista visual autodidata. Desde cedo, KassessA desenvolveu sua paixão pelas artes desenhando, elaborando ou criando brinquedos. Com uma expressividade versátil, ele cria e\ou traduz conceitos em mundos únicos, por meio de eventos ao vivo, palcos e exposições ou por meios impressos, digitais e pintados. KassessA assinou alguns eventos culturais internacionais, entre os quais: Expo Shanghai 2010, Korea 2012, Astana 2017. Gosta de trabalhar com uma vasta gama de materiais, destacando e alertando para as questões sociais, bem como para as pessoas que afetam.
Leda Baltazar – Ledani
Leda Baltazar nasceu em Luanda. Começou desde cedo aos 5 anos de idade com iniciativa do seu pai, que comprava livros de desenho e pintura para os seus tempos livres. Foi aperfeiçoando o seu traço até que na 7ª classe o seu professor de Educação Visual e Tecnológica incentivou a seguir o curso de artes. E desde então, começou a seguir a sua carreira artística passando pelo Infac Escola Nacional e Formação Artística Cultural e pela Faculdade de Artes em Luanda. Reside atualmente em Lisboa.
Lino Damião
Nasceu em Luanda, em 1977. Encorajado pelo pai, começou desde muito cedo a desenhar e a pintar, tendo recebido o seu primeiro prémio de pintura em 1989 - União Nacional de Artistas Plásticos (UNAP). Fez o curso de Desenho e Pintura no Barracão - Escola Experimental de Luanda (1985). Formou-se em Artes Plásticas no INFAC (Instituto Nacional de Formação Artística) em Luanda (1997-2000) e fez o curso de Desenho e Gravura da UNAP - União Nacional de Artistas Plásticos (1988). É membro Fundador da Cooperativa Pró-memória dos Nacionalistas. Tem participado em várias exposições individuais e coletivas, em Angola, Cabo Verde, Macau e Portugal. Lino Damião possui obras em várias coleções públicas e privadas em África, na Europa, Ásia, América do Sul e EUA.
Nelo Teixeira
Natural de Mbanza Congo, província do Zaire, o artista trabalha sobretudo pintura e instalações baseadas na utilização de tecido, papel, madeira e "found objects", produto do desperdício da sociedade contemporânea de consumo. A reutilização de materiais encerra uma referência direta à cultura e tradição do seu país, mas também aos novos "ritmos" culturais e às vozes sociais dissonantes. Em cidades como Luanda, é frequente esta incorporação de objetos encontrados em lugares incertos. A sucata, as praias, ou as ruas são entendidos, neste contexto, como ambientes e meios de pesquisa e simultaneamente, como fonte de matéria-prima, onde se alimenta e desenvolve um conceito de "moldura" (frame), que "dessacraliza" o objeto de arte. Usando a paisagem urbana como pano de fundo, Nelo Teixeira assume uma voz crítica que explora o conceito de fronteiras (físicas e psicológicas) entre a Chicala (guetto urbano) e a cidade em construção, questionando esse próprio desenvolvimento.
Na exposição encontra também a obra de um Artista Anónimo (a fotografia de capa é uma montagem inspirada na obra). Título da obra - As Mães do 27 de Maio. Técnica – Mista. Dimensão - 160X80.
Visite a exposição "Mães do 27" até 28 de agosto, no Espaço Espelho D'Água, em Lisboa.