É urgente apostar numa economia sustentável
Sustentabilidade Ambiental - uma prioridade global
Com o aproximar do dia Mundial do Ambiente, dia 5 de junho, data que se celebra desde 1972, quando foi criado pela Assembleia Geral das Nações Unidas, na Conferência de Estocolmo, naquela que foi o primeiro passo para o que agora é um movimento global, que pretende caminhar para uma economia com zero emissões de gases com efeito de estufa até 2050, na qual é reconfortante ver o envolvimento e os progressos conseguidos nos últimos anos.
Este movimento teve numerosos desenvolvimentos nos últimos anos, após se constatar a urgência de uma ação conjunta, por forma a evitar o aumento do aquecimento global do planeta, que tantos efeitos nefastos tem para a nossa qualidade de vida, não só pelo aumento das catástrofes naturais, como pelos efeitos negativos na nossa saúde e bem-estar, e como limitador do nosso futuro e das gerações futuras.
Assim, o primeiro grande passo de uma forma concertada foi o Acordo de Paris de 2015, ratificado por 195 países, cujo um dos aspetos mais importantes é manter o aquecimento global abaixo de 2ºC, tentando mesmo delimitar este aumento a 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais.
Como é fácil de se perceber, um objetivo mundial desta magnitude, requer o envolvimento de todos, governos, empresas e famílias de todos os países do mundo, e aqui reside um fator de união bastante interessante, uma vez que são poucas as vezes em que todos lutam por um objetivo comum.
Outro fator muito interessante desta caminhada para a sustentabilidade ambiental, é que vem associada a uma série de objetivos bastante nobres que nos forçam a caminhar para um mundo mais equilibrado e justo, também, em 2015 foram definidos por 193 países chamados os ODS da ONU, Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável, incluídos na agenda para 2030, que incorporam outras preocupações como a erradicação da pobreza, igualdade no acesso à educação, igualdade de género e de oportunidades, entre outros aspetos.
Desta forma, não só caminhamos para uma economia mais sustentável com redução da pegada ecológica, como também para uma sociedade mais equitativa e estável. Para esta transformação, o investimento dos governos não será suficiente, e é neste ponto que o papel dos agentes financeiros e bancários se destaca, por forma a conseguir captar investimento e direcionar as poupanças das famílias para investimentos sustentáveis.
Para todas as pessoas que lidam com os mercados financeiros e investidores, os temas da Sustentabilidade Ambiental, da transição para uma economia com reduzidas emissões de carbono, os investimentos ESG, a economia circular, a "Green Economy", são temas cada vez mais presentes, contudo, com informação muito dispersa e com falta de sistematização.
Todo este esforço de captação de economias com a criação dos mais diversos instrumentos financeiros e seu acompanhamento, teve o mérito de fornecer bastante informação contribuindo de uma forma decisiva para a consciencialização de todas as pessoas sobre a urgência do tema, de tal forma, que hoje é impensável criar novos produtos ou desenvolver atividades comerciais que sejam penalizadoras para o meio ambiente, pois a procura é bastante informada e exigente.
Esta noção é bastante clara em alguns estudos, onde consumidores não se importam de pagar mais ou consumir menos, por forma a terem produtos ambientalmente sustentáveis, e a incorporação de todos os outros valores, que são bastante escrutinados, como podemos ver pelo “boom” dos produtos chamados ESG, sigla em inglês para se referir aos fatores Ambientais, Sociais e de Governança, que as empresas têm de revelar as suas políticas nestas áreas, por forma a serem consideradas para produtos deste tipo, que têm um crescimento bastante acentuado. Ou seja, para além das empresas terem de revelar os seus investimentos relativos à redução da sua pegada ambiental, também têm de revelar os investimentos para melhoria da sociedade onde estão envolvidos, bem como composição e políticas relativas à sua própria administração.
Esta consciencialização da população em geral é tão vincada, que neste momento as politicas ambientais e de critérios ESG, na minha opinião, devem ser considerados como um fator chave na própria retenção de talento das empresas, e deve ser um dos fatores mais relevantes daquilo a que se designa por salário emocional, pois para além do bom ambiente de trabalho, do respeito pela condição de cada um, para qualquer pessoa, hoje, é um orgulho fazer parte de uma organização que é sustentável, que faz investimentos para melhorar a sociedade, que adere a movimentos e causas sociais.
A mudança de atitude e de interesse pelo tema já é algo bastante reconfortante, como afirmei no inicio, e esta união para se conseguir aquele que é para mim o grande objetivo mundial, é algo de bastante encorajador, mas para além dos diversos movimentos voluntários de inúmeros investidores e empresas, do envolvimento dos governos e das próprias obrigatoriedades por motivos regulatórios, ainda temos um longo caminho a percorrer.
É visível para todos o que evoluímos em termos de energias renováveis, em termos de práticas sustentáveis, da chamada economia circular, no entanto, precisamos de um envolvimento maior, pois tudo o que conseguimos fazer até agora não é condição bastante para se atingir o objetivo da neutralidade carbónica, é sem dúvida condição essencial, mas não suficiente.
Para termos uma noção melhor disto, basta perceber que Portugal, este ano atingiu a 13 de maio o seu dia de crédito ambiental, o que significa que a partir dessa data já estamos a consumir recursos que só deveríamos utilizar no próximo ano, e apesar de todas as evoluções, este dia tende a ser mais cedo de ano para ano.
Trata-se de uma transformação gigantesca, como refere Bill Gates no seu livro “Como evitar um desastre climático” o que pretendemos é reduzir 51 mil milhões de toneladas de emissões de gases com efeito de estufa para zero, para isso é necessário tudo o que já fazemos, bem como novas invenções, como energia limpa e barata, como empresas que façam captação de gases estufa da atmosfera, o que é muito difícil, mas possível.
Mais uma vez, apresento-me como um entusiasta desta luta, que acredita que vai ser possível conseguir o objetivo, para bem do nosso planeta e das futuras gerações, com o envolvimento de todos, e como referi no inicio, é reconfortante ver nesta data os progressos conseguidos, em termos de investimentos e acima de tudo de consciencialização, de união, de melhoria ambiental, uma sociedade mais justa e equilibrada, com um objetivo comum, que é a sustentabilidade ambiental.
Autor | Carlos Traquino - Especialista em Mercados Financeiros
Fotografia | Nattanan Kanchanaprat