Feira de São Mateus: Seis Séculos de Tradição e Transformação

Feira de São Mateus: Seis Séculos de Tradição e Transformação

A Feira de S. Mateus...

A Feira de São Mateus, em Viseu, é uma das manifestações comunitárias mais enraizadas na história e na cultura portuguesas, sendo reconhecida como a feira mais antiga da Península Ibérica em atividade contínua, com a sua fundação a recuar a 1392, pelas mãos de D. João I. 

As cidades são entidades vivas porque são feitas pelas gentes e as gentes mudam conforme o tempo e, de acordo com o tempo vivido, mudam-se também as vontades. Testemunho intemporal da transformação de uma cidade, as feiras e os mercados marcam o compasso do tempo e das necessidades comuns. E será interessante, de forma a enquadrar o surgimento da feira de S. Mateus, perceber a origens das feiras e mercados no contexto das dinâmicas sociais humanas, desde logo percebendo a diferença entre feira (palavra nascida do latim “feria”, que significaria “dia de festa e de descanso”) e mercado (também originário do latim, sendo famosa a expressão “mercatu in forum”, lugar onde, de forma organizada, localizada e consentida pelas autoridades, se trocavam bens entre vendedores e compradores).

Quanto à história daquela que é para muitos a mais antiga feira em atividade no território português, a Feira de S. Mateus, foi fundada em 1392 por uma Carta de Feira, redigida pela chancelaria de D. João I a 10 de janeiro, aquando da visita (a segunda, de acordo com vários registos históricos) que o Mestre de Avis realizou com a sua corte a Viseu. Assim, institui-se na cidade de Viriato uma feira franca, de periodicidade anual, com privilégios semelhantes à (naquele tempo) famosa feira de Trancoso, outorgando-lhe a isenção de portagens e outras obrigações fiscais, direitos que caracterizavam este tipo de feiras no contexto da Idade Média.

A Feira de S. Mateus conheceu, ao longo dos séculos, diferentes datas ao longo do calendário: se no tempo do esposo de Filipa de Lencastre a chamada feira franca de Viseu se realizava a partir do dia 3 de Maio (coincidindo com o dia de Santa Cruz), na Cava de Viriato, já no tempo de D. Afonso V teve lugar entre os dias 12 e 28 de outubro. Em 1449 conheceria novo calendário, desta feita entre 20 de outubro e 4 de novembro. 

É no séc. XVI (em 1510 segundo alguns relatos) que a feira franca de Viseu obtém o seu nome, devido a nova mudança da data da sua realização, passando a mesma a inaugurar-se no dia de S. Mateus, a 21 de setembro, já no centro da cidade.

A feira evoluiu ao longo de mais de seis séculos, conhecendo altos e baixo, mesmo em períodos de enorme estagnação, como os vividos no séc. XIX, face aos câmbios sociais daquela época. Transformou-se a partir de um simples mercado de troca de mercadorias numa verdadeira festa popular e cultural, que, nos dias de hoje, atraem milhares de visitantes todos os anos. Mas essa realidade começou a ser desenhada a partir dos anos 20 da centúria passada, pelas mãos de corajosos viseenses, entre estes o capitão Almeida Moreira, que, na qualidade de autarca, construiu um ambicioso projeto de modernização, conferindo à feira um caráter festivo e expositivo. Esta mudança não apenas salvaguardou a continuidade desta tradição como também a expandiu, introduzindo novas dinâmicas, como por exemplo o primeiro cartaz publicitário, em 1928, e o estabelecimento de entradas pagas no ano seguinte. A própria alteração do calendário, desta vez coincidido com o mais icónico dos meses de verão, agosto, proporcionou um enorme incremento de visitantes, alinhando-se com o regresso dos emigrantes à sua terra natal.

Hoje, a Feira de São Mateus tem a duração de cerca de um mês, entre o início de agosto e o arranque do mês de setembro, onde centenas de expositores e feirantes oferecem produtos que vão desde o artesanato local até à mais variada gastronomia, com as famosas farturas e enguias a serem particularmente populares. O evento é também um palco cultural, com concertos, exposições e uma infinidade de atividades que se estendem por toda a cidade, desde o campo da Feira, junto ao Jardim da Ribeira, passando pelo pavilhão multiusos até à Cava de Viriato, onde a velha feira franca nasceu.


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Imagem de capa apenas ilustrativa, criada por AI.


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