O Património Cultural da Ordem de Santiago em Portugal
Património Cultural das rotas portuguesas a Santiago de Compostela
A História, as Lendas e o Património dos Caminhos de Santiago
A Ordem de Santiago foi uma das mais importantes ordens militares presentes no território português. Fundamentais na preservação em mãos cristãs dos territórios conquistados aos mouros, os Espatários tiveram várias sedes ao longo dos séculos, como Alcácer do Sal, Mértola ou Palmela. Atualmente a Ordem de Santiago d’Espada é uma ordem honorífica cujo grão-mestre é o presidente da República.
As ordens religiosas representaram um papel fundamental na fundação da nacionalidade portuguesa na manutenção da soberania territorial e da expansão do cristianismo no nosso país e territórios ultramarinos. Foram muitas as ordens religiosas que tomaram lugar em Portugal, algumas das quais se fundaram no nosso país ou criaram ramos independentes no nosso território.
A mais antiga ordem presente em Portugal de que há registo é a de S. Bento. Tão antiga é a Monástica Religião Beneditina no nosso país, que há mais de mil de duzentos anos que teve nele princípio no Mosteiro de Lorvão, vivendo ainda o Proto-Patriarca S. Bento, como se deduz de uma antiga memória, que alega Frei Bernardo de Brito. Segundo o relato deste frade “de Itália mandara o glorioso Patriarca a Hespanha doze Monges, pelos anos de 537, por súplicas que lhe fez a Rainha D. Sancha, mulher de Teudes ou Teodorico, rei Godo, a qual, tendo fundado o Mosteiro de S. Pedro de Cardenha, distantes duas léguas de Burgos, meteu de posse dele os tais Monges”.
Deve-se às ordens religiosas militares grande parte do crédito do nascimento e preservação do reino de Portugal no contexto peninsular e da cristandade, nascendo estas oficialmente por motivos da necessidade de proteger os peregrinos cristãos nas suas movimentações, em especial na Terra Santa.
Braços armados da Igreja Católica, as ordens militares surgiram como forma de combater o avanço da religião islâmica, ao mesmo tempo que praticavam a proteção dos caminhos que levavam os peregrinos aos lugares de maior veneração religiosa cristã: Jerusalém, Roma e Santiago de Compostela.
É neste contexto que nos surge, no reino de Castela e Leão, em 1161, instituída por Afonso VIII de Castela e aprovada pelo Papa Alexandre III, por bula papal outorgada em 5 de julho de 1175 a Ordem de Santiago.
A Ordem foi fundada com o propósito de lutar contra os invasores muçulmanos na Península Ibérica, segurar os reinos cristãos, bem como proteger os peregrinos do Caminho de Santiago. A ordem foi fundada por volta de 1164, sob a denominação inicial de Ordem de Fratres de Cáceres, tendo alterado para Ordem de Santiago em um de agosto de 1170, quando, após um encontro com o arcebispo de Santiago de Compostela, Pedro Gundestéiz, tomaram a cruz da Santiago Apóstolo.
Os Cavaleiros de Santiago, chamados Santiaguistas ou Espatários (por ser o seu símbolo uma espada em forma crucífera – ou uma cruz de forma espatária, dependendo do ponto de vista), fizeram votos de pobreza, de obediência e "castidade conjugal". E embora tenha sido fundada no reino que veio a ser posteriormente Espanha, precisamente em Castela, mais tarde veio a ser separada, a pedido do rei Dom Dinis em 1288, e atendido pelo papa Nicolau IV, para ser considerada como ordem portuguesa. Contudo, a bula do papa Nicolau IV obrigava os cavaleiros portugueses a prestarem obediência ao mestrado de Castela.
Seguindo a regra de Santo Agostinho ao invés da de Cister, os seus membros não eram obrigados ao voto de castidade e podiam como tal contrair matrimónio (alguns dos seus fundadores eram casados). Em 1320, o papa João XXII determinou a separação definitiva da ramificação portuguesa da castelhana.
A Ordem rapidamente chega a Portugal, por volta de 1172/1173, onde recebe a vila de Arruda, os castelos de Monsanto, Abrantes, seguindo-se a doação de Alcácer e Palmela.
Deve a Ordem Militar de Santiago a sua introdução neste Reino a D. Afonso Henriques, o qual vendo o socorro e valimento que o Apóstolo Santiago fazia nos exércitos dos Cristãos contra os Mouros, começou a invocá-lo, existindo uma lenda em que o rei advoga que o Apóstolo lhe terá surgido no momento crucial da Batalha de Ourique, voltando a evocá-lo na tomada de Santarém, cuja vitoria agradeceu, admitindo e favorecendo a partir desse momento os cavaleiros santiaguistas, oferecendo-lhes terras e Comendas.
Depois, seu filho D. Sancho I manteve essa relação iniciada pelo seu pai, colocando nas mãos dos Espatários as Vilas de Palmela, Almada, Arruda e Alcácer do Sal.
A Ordem de Santiago foi responsável pela conquista de grande parte do atual território português a sul do rio Tejo e promoveu as principais ações de povoamento e o ordenamento socioeconómico de vastas extensões do Alentejo e do Algarve durante a Idade Média.
Na próxima edição vamos partilhar mais sobre as diversas ordens e toda a evolução até ao mandato do Presidente Sidónio Pais.
Fotografia de capa | Igreja de São Tiago - Palmela ►Vitor Oliveira
Leia toda a rubrica |
Capítulo I – Entre a história e a Tradição, um nome para a eternidade
Capítulo II – Antes do Caminho de Santiago, o Caminho pré-cristão
Capítulo III – Fernando I de Leão, o primeiro peregrino do Caminho Português
Capítulo IV - Os Caminhos Portugueses a Santiago
Capítulo V – Rota do Património da Costa Atlântica Portuguesa
Capítulo VI – Da Capital do Gótico ao Reduto dos Templários
Capítulo VII – Tomar: O bastião Templário que salvou Portugal
Capítulo VIII – O Tesouro da Rainha Santa na cidade dos Estudantes
Capítulo IX – Em Santiago para Agradecer o Milagre das Rosas
Capítulo X – O Caminho na rota da Gastronomia
Capítulo XI - O Caminho passa pela Rua Colorida
Capítulo XII - O Caminho Ganha Nova Dimensão
Os Caminhos que Ligam o Porto a Santiago
O Caminho de Santiago e o Porto Medieval
A Sé Catedral do Porto: o Primeiro Bispo e o Primeiro Padroeiro
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