
O Valor da Palavra
Tempos de crise!
O valor pode ser visto como a relação entre as necessidades do indivíduo e o potencial que os objetos e/ou serviços têm ou podem vir a ter. É na apreciação desta relação que surge a designada “hierarquia de valores”, de acordo com a prioridade das necessidades de cada um. A satisfação pessoal está sempre na base deste conceito.
Quando o assunto é “valor”, o nosso cérebro quase de forma automática acrescenta a palavra “preço”. Essa é uma associação de conceitos cada vez mais natural. A sociedade atual por defeito estimula-nos a ser assim. Não nascemos más pessoas, tampouco tivemos uma educação deficitária, apenas fomo-nos deixando levar. Aceitar sem questionar leva-nos a banalizar e, com a banalização vem a aceitação e, por sua vez a aceitação leva à normalização.
Lembra-se da última vez que foi à praia e apesar de ter entrado no mar mesmo à frente da sua toalha, quando chegou o momento de sair apercebeu-se que está 100 metros à direita do local original? É isso… Uma corrente natural. Invisível? Talvez para a maioria, mas felizmente não para todos. Eu diria que está lá para quem a conseguir ver. Quiçá contrariar?
Como diria Hans Hellmut Kirst:
“Tudo tem um preço. É o retrato impiedoso do mundo em que vivemos, um mundo cruel, um mundo de compra e venda, em que o dinheiro é rei”.
Sem querer ser uma referência literária e com uma boa dose de realidade, acrescentaria que tudo tem um preço mas quase nada tem valor.
Quando o assunto é o valor da palavra, é impossível não falar de honra. A honra é um conceito difícil de definir pois existem “vários tipos” de honra, mas de uma forma geral e simplista posso dizer que é um princípio de comportamento do ser humano que age baseado em valores considerados socialmente virtuosos.
Já houve tempos em que a palavra serviu como garantia. Não uma garantia qualquer, mas sim a garantia das garantias.
Quantos negócios foram realizados tendo por base a confiança na palavra dada? Quantos empréstimos foram feitos tendo apenas como garantia a sincera promessa de devolução?
Nas antigas mercearias quantos fiados foram concedidos confiando na seriedade do indivíduo ou da sua família?
Num tempo em que a palavra tinha valor, não fazia grande sentido assinar contratos (compra, venda, promessa) ou sequer arranjar fiadores.
Será que valores como o da palavra dada, já pouco significam na atual bolsa de valores do século XXI? Será a desvalorização dos valores o melhor caminho para melhorarmos a sociedade em que vivemos?
É surpreendente a leveza com que se volta atrás com a palavra dada, muitas pessoas, não têm qualquer dificuldade em dar o dito pelo não dito. Veja-se a atual situação da política nacional! Quantas comissões de inquérito serão necessárias para voltamos a valorizar a palavra?
“As palavras levam em si fragmentos da própria existência”,
Carlos Bernardo González Pecotche, pensador e humanista Argentino
Se os valores são princípios de convivência e inalienáveis atributos de conduta, podemos dizer que vivemos tempos difíceis…
Qual é o preço de quilograma dos valores?
Qual é a evolução da cotação da conduta?
Somos a nossa política existencial!
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