Portugal Tem Potencial Verde

Portugal Tem Potencial Verde

“E tudo o vento levou”

Corria o ano de 1986 e a euforia por pertencer ao “clube” dos ricos dominava todo o mediatismo. Portugal aderiu à CEE! O país finalmente abria-se para o exterior, uma brisa fresca veio contrariar o “cheiro a mofo” que nos atormentava há décadas.

A Europa estava apreensiva, nunca tinha aberto as suas portas aos mais pobres, de certa forma fomos encarados como uma “experiência” social e económica e, como tal, deram-nos 5 anos e uns trocos valentes para nos pormos finos.

A palavra modernização dominava, da Europa só podem vir bons ventos. Foi nesse clima que a nossa história de hoje nasce…

Tudo começou no Porto Santo, foi construído o primeiro parque eólico do país! Era importante Portugal mostrar aos membros do “clube” que os políticos nacionais tinham ambição, mas acima de tudo uma visão estratégica para o futuro, uma verdadeira política energética digna dos melhores.

A festa ia começar, tal era a importância do evento, que os Alemães trouxeram prendas… 8 aerogeradores de 30 kW cada, sensivelmente metade da capacidade dos topo de gama da altura. Que felicidade, que generosidade! Provem o nosso bolo…

Costuma-se dizer que “o mais difícil é o primeiro”, o que se aplica perfeitamente a esta história, 2 anos depois surge o segundo parque eólico na ilha de Santa Maria (a mais velhinha dos açores), 4 anos depois o terceiro, em Sines. O negócio do vento começava a ganhar forma e dimensão, todos os anos sem exceção foram acrescentados mais parques eólicos, a um ritmo desenfreado que faz lembrar a “febre do ouro verde”.

Em 2009, tínhamos 191 parques eólicos com 1826 aerogeradores, o que representava uma potência instalada de 3,43 GWh, o que nos garantiu o segundo lugar mundial no que toca ao contributo de energia eólica. À nossa frente? Só mesmo a Dinamarca.

Em 23 anos fomos do zero ao topo, nunca o mundo tinha visto um país tão determinado e empenhado, Portugal estava embrenhado numa espécie de nova era dos descobrimentos, a era do vento, a Europa aplaudia.

Atualmente em Portugal existem 250 empreendimentos eólicos, correspondendo a uma potência instalada de cerca de 5,3 GW, sendo que, neste momento, um em cada cinco parques eólicos já têm uma idade compreendida entre 15 e 20 anos. Dito de outra forma, a idade começa a “pesar” e, caso não seja feito um investimento significativo neste setor, o envelhecimento dos equipamentos terá como consequência uma diminuição drástica ao longo dos próximos anos.

Sem qualquer dúvida que a energia renovável tem de ser o caminho, não podemos voltar aos combustíveis fósseis. A energia é essencial para o desenvolvimento sustentável de todos os países, a produção, distribuição bem como o seu consumo, exige que se siga um modelo que garanta a sustentabilidade e a proteção do meio ambiente e travar ainda as alterações climáticas.

Segundo a Rede elétrica nacional (REN) e a Associação Portuguesa de energias renováveis (APREN), entre janeiro a agosto deste ano, foram gerados 31 595 GWh de eletricidade em Portugal Continental, dos quais 68,8 % foram de origem renovável, sendo que a energia eólica teve uma contribuição de 25%.

Quando o assunto é energias renováveis, há que destacar que apesar da grande evolução das eólicas, a energia hídrica continua a liderar (33%) e a energia solar tem uma contribuição marginal (cerca de 4%).

Convém não esquecer que ainda há muito que fazer, apesar de tudo, a energia elétrica produzida através dos combustíveis fósseis representa 30%, o futuro exigirá a redução dessa contribuição.

A meu ver temos uma dependência grande da energia eólica, se durante algumas semanas o vento por teimosia não aparecer, deixa-nos numa situação delicada. A aposta na energia solar deve ser reforçada, a meu ver, o ideal seria ter uma contribuição similar às eólicas, mas para isso terá de haver um crescimento de mais de 20%, o que exigirá um investimento significativo.

Um país ventoso e solarengo, tem certamente um grande potencial verde.