Os jovens e os seus dilemas com a tecnologia
SELFIE é o nome do projeto desenvolvido pelos espanhóis Juan Ayala e Miguel Oyarzun que juntou, no cineteatro Constantino Nery, cerca de 30 jovens de escolas de Matosinhos e do Porto e os colocou a refletir sobre os desafios da tecnologia na sociedade do espetáculo.
Naquela que foi, para muitos, a sua primeira experiência no mundo do teatro, o palco não poderia ser melhor, o do “Meu primeiro FITEI” (Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica). Depois de Madrid e Barcelona, o projeto idealizado por Juan Ayala e Miguel Oyarzun alcançou Portugal pelas mãos dos promotores do prestigiado certame, (fundado em 1978), com a realização de duas sessões, que decorreram nos dias três (para as escolas) e quatro (público) de novembro, no cineteatro municipal Constantino Nery, em Matosinhos.
Ferramenta indispensável e fonte de preocupação para muitos pais, a tecnologia é hoje em dia, um tema incontornável, gerando discussões no foro da psicologia, mas também em campos como a segurança e as dinâmicas sociais, enfatizadas no conflito entre gerações.
Estas são as premissas que, segundo Juan Ayala, estão na base da criação do projeto Selfi - Ser Joven En La Sociedad Del Espectáculo: “refletir sobre a tecnologia e o seu impacto nos jovens, nas suas relações com os pais, com a escola e os amigos”. Já Miguel Oyarzun destaca a importância destes projetos para a criação de novos talentos e novos públicos para o teatro, mas ao mesmo tempo figurando como um retrato das novas gerações: “nas duas apresentações que realizamos tivemos sempre casa cheia, plateias compostas pelas mais diversas idades, acreditando que o teatro está vivo e rejuvenesce”, destacando o caráter dos jovens atores:
“se julgarmos pelo empenho e gozo que os jovens de Matosinhos e Porto demonstraram então o futuro do Portugal está garantido”.
O também ator sublinha as novas relações que se forjaram com a participação neste projeto: foram dez dias de trabalho, de dedicação plena, ao mesmo tempo em que se foram criando novas amizades. Acredito que esta experiência lhes marcará para a vida inteira”.
Juan Ayala, escritor e reconhecido guionista, acrescenta o caráter reflexivo do argumento: “criar o texto para esta peça foi um desafio, na medida em que buscamos confrontar os jovens na sua relação com a tecnologia e os seus perigos, numa sociedade marcada pelo espetáculo, a imagem e a conectividade, e foi interessante ver como tinham tanto em comum com a juventude de Madrid e de Barcelona”, apesar de, confessa o autor, “ter sido bem mais fácil trabalhar com os jovens portugueses, foram incansáveis na sua entrega ao texto e às cenas”.
O projeto contou com a participação de alunos vários estabelecimentos de ensino de Matosinhos e do Porto, entre estas a Escola Secundária da Boa Nova e o Colégio Luso-Francês, no Porto.
Maria Filipe Loureiro dos Santos foi uma das trinta participantes. Naquela que foi a sua estreia no mundo do teatro, a estudante do Colégio Luso-Francês destaca a oportunidade, não se sentindo vergada pela responsabilidade: “Já piso o palco desde os três anos de idade (a nível musical e teatral), mas confesso que esta peça foi, para mim, a experiência mais inesquecível, que me permitiu conhecer uma dimensão mais séria do teatro”. “Foi trabalhoso”, confessa, “tanto ao nível do foco com que nos empenhamos nos ensaios, como na exigência que Juan Ayala e Miguel Oyarzun sempre procuram incutir-nos em cada momento da peça”.
A jovem atriz de 12 anos destaca a camaradagem que se forjou nos dez dias que levaram à preparação da peça:
“sinto que criamos amizades para a vida, e que, apesar de virmos de escolas e idades diferentes parecia que estávamos juntos desde sempre, conseguimos criar um espírito de grupo espetacular e isso notou-se em muitas cenas da peça”.
Confrontada com a reflexão que o texto suscita, Maria Filipe mostra-se tranquila quanto à utilização da tecnologia, nomeadamente dos telemóveis: “são uma ferramenta útil para comunicar com os amigos, para jogar e procurar informação, não sinto que seja viciada em telemóveis, consigo passar perfeitamente um ou mais dias sem tocar na tecnologia”.
Gostou do texto? Deixe abaixo a sua reação e comentário...