
Polaridades: Nós e Mundo
Na relação que estabelecemos com o mundo desenvolvemos formas particulares de contacto que envolvem as várias polaridades, nomeadamente: união-separação; fluxo-estagnação; abertura-fecho; reciprocidade-Ego(ismo). Em todas as interações que estabelecemos elas anunciam-se e podem-se fazer-se presentes quer seja no âmbito familiar, laboral ou fraternal.
Em todas estas interações relacionais existem várias formas de estar a considerar, a saber: a informação, a energia, os afetos, as emoções, os sentimentos e a forma como todos estes elementos se relacionam e interatuam nesse intercâmbio mutuamente contingente. Tal consideração é decisiva para a nossa saúde e bem-estar emocional.
Cada uma dessas polaridades tem o seu ponto de interceção, o pendor extremado é que origina o seu desequilíbrio. Para o ser humano o grande desafio foi sempre conhecer-se, situar-se no mundo e encontrar a justa medida nas relações, nos apetites, na gestão das emoções, para que estas se reflitam em comportamentos mais salutares.
Vejamos, somos energia como a guardamos? Como a reprimimos? Como a libertamos? Como a expressamos? No fundo como a utilizamos e a transformamos. Por energia, entenda-se carga emocional e afetiva, pois as emoções e os afetos são vida em movimento e em interação.
A palavra emoção significa mesmo isso - movimento — aquilo que se move — de dentro para fora e na própria interioridade. As emoções preparam-nos para a ação em resposta aos afetos sentidos e experimentados na interação que estabelecemos com os outros e com o mundo.
No âmbito afetivo-emocional é necessário conhecer a nossa natureza, apurar necessidades e identificar limites para que nos possamos proteger de tudo o que nos faz mal e aproveitar aquilo que nos é benéfico.
Há que cuidar das necessidades emocionais, e há que ter o cuidado de as reconhecer, legitimar e validar. Ter necessidades é sinal de vida e ao desprezá-las pode-se estar a desperdiçá-las, menosprezando aquilo que a nossa experiência de vida nos pede nesse momento e desse modo impedindo o fluxo dos afetos, das emoções e dos sentimentos.
Depois de identificar as necessidades há que descobrir como as suprimir, como realizá-las, quando e sempre que possível. A sua realização vem do equilíbrio entre o que é de dentro e aquilo que é de fora.
Recordando. A princípio a emoção é informação, uma informação íntima. É uma chamada de atenção que situa cada um no presente que está a viver. É referente ao que vivemos e sentimos agora neste instante concreto, como referia Vergílio Ferreira: “vive o instante que passa. Vive-o intensamente até à última gota de sangue. É um instante banal, nada há nele que o distinga de mil outros instantes vividos. E, no entanto, ele é o único por ser irrepetível e isso o distingue de qualquer outro. Porque nunca mais ele será o mesmo nem tu que o estás vivendo”.
A emoção leva-nos a estabelecer contacto connosco (interioridade), desencadeando também a necessidade de gerir a interação e o contacto com os outros (exterioridade). Ao tomarmos contacto com aquilo que nos ocorre no acontecer da vida permitimo-nos poder vir a reconhecer, e depois poder decidir o que fazer com isso que nos ocorre.
As emoções estão sempre relacionadas com algo ou com alguém, seja algo interno ou externo. Elas estão aqui (corpo) e agora (presente), e é a partir desse lugar de vida que podem ser vividas, integradas e expressas na sua plenitude possível.
Quando assim é dançamos a dança das polaridades, e aquilo que era oposto, união-separação, vira polo e complemento.
Sugestões de leitura |
• Bizkarra, K. (2005). Encrucijada emocional. Bilbao: Desclée de Brouwer.
• Sousa, José Antunes. (2010). Vergílio Ferreira e a filosofia da sua obra literária. Edições Piaget.
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