Mistérios da Sé Catedral
Mistérios da Sé Catedral

Mistérios da Sé Catedral

Ciclo “Histórias que o Porto Conta”

A Sé Catedral do Porto é um dos mais notáveis monumentos da Cidade Invicta e um dos mais visitados. Com um passado milenar, é um “livro” vivo de história da arquitetura e da arte.

Típica manhã de sábado. São 8h45 e o número de transeuntes que se acerca do terreiro da Sé adensa-se, à medida que os grupos de excursões vão sendo despejados junto à estátua de Vímara Peres, o célebre conde e cavaleiro galego que livrou o burgo do jugo muçulmano. Puxados pelos técnicos de turismo munidos de bandeirinhas e sombrinhas coloridas, novos e velhos vão-se acotovelando junto à porta do Cabido para, já dentro do reduto eclesiástico, poderem explorar, muito ou pouco, mal ou bem, os segredos da Sé Catedral.

Sé Catedral do Porto

Ao olhar à volta do lugar onde hoje se encontra implantada a sede da diocese portucalense, sufragânea de Braga, e que a história identifica como o alto do Morro de Penaventosa, o viajante mais curioso não resiste a viajar no tempo e descobrir o antes da Sé. Entre a história e a tradição oral busca-se um ponto de equilíbrio entre a natureza do real e o universo do mito e da lenda.

Ao olharmos para trás no calendário cronológico, adentramos na Alta Idade Média e alcançamos a data de 589, ano em que se realizou o III Concílio de Toledo, que buscou unificar a Hispânia visigótica, até então maioritariamente ariana (mas também nestoriana, prisciliana e gnóstica), em torno do catolicismo romano. Data fundamental que procede uma outra, transcendental se desejarmos entender a história da atual catedral, sede da diocese do Porto, que, nos inícios desta aventura, nos leva a recuar até 572, quando o II Concílio de Braga relata a presença de Viator, bispo da diocese sueva de Magnetum (atual Meinedo, freguesia do concelho de Lousada) conforme relatam as suas atas. Terá sido este prelado o responsável pela transferência da cátedra do seu local original para "Castrum Novum" e assim fundar a diocese de Portus Cale. Do outro lado do rio, Castrum Antiquum (a cidade de Gaia nos dias de hoje) pertencia à diocese de Coimbra.

Uma modesta igreja terá sido construída para abrigar a nova localização episcopal, contudo a chegada dos muçulmanos ao noroeste peninsular levou à extinção da diocese e ao abandono (ou mesmo destruição) desse cenóbio.
Com a chegada do conde galego Vímara Peres, que se tornaria presor da cidade em 868, a primitiva catedral sido reconstruída e presumivelmente destruída ao tempo da passagem de Almançor no seu caminho para Santiago de Compostela, com a data a fixar-se entre 982 e 995, esta última relacionada com a razia que o temível general terá realizado às terras de Aguiar de Sousa.

Muitos destes relatos residem mais no universo da tradição sem que haja muitos escritos que possam ser considerados realmente verosímeis no que à natureza histórica diz respeito, guardando apenas a memória em escritos como os de D. Rodrigo da Cunha, bispo do Porto entre 1618 e 1626, na sua obra “Catálogo e História dos Bispos do Porto”. Nesse documento datado de 1623, o prelado refere-se a Almançor como o “grande capitam de Cordoua”, obreiro da destruição do burgo, acabando de “arruinar tudo o que ficara de pé”.
Reconstruída novamente (provavelmente mais do que uma vez), em estilo arquitetónico pré-românico, esta versão anterior da atual catedral (que teria sido implantada ligeiramente mais a sul do que a localização dos dias de hoje) terá chegado até 1114, quando, após um período em que a diocese esteve nas mãos de arcediagos bracarenses, a mesma foi restaurada pelo bispo D. Hugo, clérigo enviado desde Santiago de Compostela pelo poderoso arcebispo Diego Xelmirez, numa clara tentativa de fazer diminuir a influência da “Primaz das Hispanias”, ao tempo da rainha D. Teresa.


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