Rodrigo Serrão: "Que a tua Musa te Leve Longe"
Rodrigo Serrão: "Que a tua Musa te Leve Longe"
Rodrigo Serrão: "Que a tua Musa te Leve Longe"
Rodrigo Serrão: "Que a tua Musa te Leve Longe"
Rodrigo Serrão: "Que a tua Musa te Leve Longe"
Rodrigo Serrão: "Que a tua Musa te Leve Longe"

Rodrigo Serrão: "Que a tua Musa te Leve Longe"

Música, cães e árvores, as três grandes paixões de Rodrigo Serrão. Conhecido como um músico erudito, compositor e poeta, Rodrigo destaca-se como stickista, considerado, por muitos, um trovador moderno que através da sua música e poesia leva aqueles que o ouvem a viajar por um mundo infinito de emoções.

Desde cedo, a música sempre foi a grande atividade que Rodrigo Serrão desejou prosseguir: “comecei a ter aulas de música com 5 anos e desde logo sempre respondi que seria músico quando crescesse.”, relembra. “O apoio dos meus pais, nessa e em todas as outras áreas em que demonstrei interesse, foi muito importante: ofereceram-me sempre o acesso ao maior número de experiências possíveis o que facilitou o processo de escolha quando chegou a altura.”.

O interesse pela música não se esvaiu com a idade, pelo contrário, “atravessa toda a adolescência até à descoberta do meu primeiro grande amor aos 16 anos: o contrabaixo.”. É nessa altura da vida que Rodrigo Serrão sai de Coimbra, a sua cidade natal, e muda-se para Lisboa que na época era o único sítio em Portugal onde se podia aprender esse instrumento. Aos 17 anos já era contrabaixista profissional e assim se manteve até há 5 anos, ao descobrir por acaso na internet um vídeo de alguém a tocar Chapman Stick: “voltei a encantar-me por algo novo, telefonei para o inventor nos Estados Unidos e percebi que começava ali uma nova fase da minha vida, desta vez com o Chapman Stick. Assumi a mudança radical, deixei tudo o que tinha construído e abracei sem olhar para trás o novo desafio.”.

Rodrigo Serrão abriu-nos a porta da sua história, conheça as suas paixões, o seu estilo de música favorito, quais os desafios para aprender a tocar Chapman Stick e muito mais. O músico na primeira pessoa...

Rodrigo Serrão

Como se sente quando está a tocar Chapman Stick?

A música é algo de muito concreto e um universo fechado em si só. A forma mais aproximada de descrever o que acontece será aquilo o que os atletas chamam de "estar na zona" - é mais ou menos o equivalente a alcançar um estado em que não existe a primeira pessoa do singular, não existe um "eu" nem as preocupações inerentes ao indivíduo. É como uma rede a que estamos ligados, feita de sons provocados pelo movimento de partes do nosso corpo, impulsionada pela necessidade de beleza sonora e que resulta numa exaltação com a sua presença ou numa irritação quando algo nos perturba o processo. – É complicado!

Qual é a maior dificuldade na aprendizagem deste instrumento?

Há várias coisas que tornam a aprendizagem do Stick em algo bastante desafiador, desde logo o facto de estarmos a tocar o equivalente a 3 instrumentos (2 guitarras e um baixo) em simultâneo: se cada um deles é exigente por si só, imagine os três ao mesmo tempo. Depois há uma série de particularidades, desde logo o facto de a afinação de metade do instrumento ser diferente da outra metade.

Rodrigo Serrão a tocar

É um instrumento que já tem vários adeptos em Portugal?

Ao longo dos anos, em Portugal existiram três outros instrumentos para lá dos que possuo: um está no Porto, outro foi vendido e está no norte da Europa e há um grande músico Polaco, Roman Gizza, que faz "busking" nas ruas de Lisboa com o seu Stick. Como se percebe, não é um instrumento comum.

Hoje em dia, com o advento da internet, há muitos pedidos do estrangeiro para aulas individuais online, mas o meu tempo não me permite lecionar de forma consistente. Assim a minha experiência "letiva" acaba por ser a de professor convidado em workshops internacionais. Tive a honra de ser o professor na última "Free Hands Academy", em Los Angeles, ao lado do inventor do instrumento, Emmett Chapman foi, ao fim de uma vida de contactos com as pessoas mais extraordinárias do planeta, a primeira vez que fiz questão de ter um autógrafo de alguém: hoje todos os meus Sticks têm uma dedicatória escrita por ele. Faleceu em Novembro passado, mas deixou uma comunidade internacional gigantesca, uma legião de admiradores e marcou de forma singular a história da música, tal como Cristofori ao inventar o piano ou Adolfo Sax ao criar o saxofone. O nome que deu ao instrumento que inventou é simplesmente "stick", o facto de ser universalmente referido como "Chapman Stick" diz muito do orgulho com que usamos e levamos o seu nome.

Emmett Chapman e Rodrigo Serrão

Pode partilhar as dedicatórias que recebeu de Emmett Chapman?

As dedicatórias do Emmett foram evoluindo ao longo dos anos e da amizade. O primeiro estava só assinado, o segundo dizia algo como: "Para o Rodrigo, que a tua musa te leve longe", o terceiro, que foi um presente especial é impossível de traduzir e soar bem em português, até porque o trocadilho só faz sentido em Inglês: "A golden Rod for Rodrigo" sendo que Rod é um pau ou uma verga e é também o diminutivo de Rodrigo, que é a forma como ele me chamava.

Se tivesse que escolher apenas uma música, qual seria?

Uma música não sei, mas um compositor seria definitivamente J. S. Bach: está lá tudo, não é preciso mais nada.

O Chapman Stick e a poesia fazem o par perfeito, quantas horas de trabalho são precisas para que fiquem em sintonia?

O Chapman Stick, nas palavras do seu próprio inventor, é "tão só" uma ferramenta musical. Nesse sentido e porque é uma ferramenta absolutamente extraordinária, faz o par perfeito em e com qualquer linguagem artística. A poesia serve-o e serve-se dele, como aliás deveria ser em todas as expressões artísticas: comunicação e transcendência.

As horas de trabalho não são fáceis de quantizar mas posso-lhe dizer que desde 2015 um dia normal de trabalho tem pelo menos 8 horas passadas em atividades relacionadas com o Chapman Stick: desde estudo, ensaios, arranjos, escolha e adaptação de repertório, desenvolvimento técnico...é uma vida ritualizada muito parecida com a de um atleta de alta competição...com a vantagem que a longevidade é muito superior.

Paixões além da música?

Em suma, treinar cães e plantar árvores, em 2021 bati o meu recorde pessoal: plantei 400 árvores.

Conte-nos mais sobre esse feito, só em 2021 plantou 400 árvores?

Na verdade sou um apaixonado por árvores e no meio delas é onde me sinto confortável. Como tenho o privilégio de morar no campo e ter um terreno relativamente grande, comecei a plantar árvores aqui há quase 20 anos - a ideia é que no futuro possa haver o que no passado já aqui houve. A maior parte delas já não verei crescidas nem verei isto transformado em floresta mas consigo imaginar como estará daqui por 50 ou 100 anos.

Primeiro fui plantando algumas já desenvolvidas que ia comprando e depois, com o passar dos anos, passei a ir também colhendo sementes que deposito em pequenos vasos no outono para que germinem na primavera e mais tarde passo para a terra - desta forma fico a saber onde as ponho e consigo ajudá-las melhor durante os meses de verão. Planto apenas árvores autóctones, principalmente carvalhos (dos quais há 8 espécies autóctones em Portugal, sendo o sobreiro e a azinheira os mais conhecidos). Há dois anos a colheita de bolotas apanhadas do chão foi tão grande e eu talvez tenha exagerado na compra de recipientes pelo que acabei com 800 sobreiros envasados, dos quais plantei aqui 400 e ofereci outros 400 a um senhor a quem ardeu um bosque no verão, na zona de Faro.

Vivo rodeado por árvores e quase acho, às vezes, que elas me conhecem – Afirma sorrindo.

Espetáculos previstos para este ano...

Desde o início deste meu percurso que sinto necessidade de intercalar um ano de concertos com um ano fechado em preparação de novo repertório, novos vídeos e um disco: conto ter, no final de 2022, um novo disco por isso este ano não haverá concertos, apenas pequenas participações pontuais.


Tertúlia

Aproveite a oportunidade para usufruir da música de Rodrigo Serrão já no dia 5 de março, a partir das 17 horas nas "Tertúlias de enCONTrOS", no Casual Lounge Caffé, em Belém. O evento tem a curadoria da Marchand d`Art Olga e Sousa que abraça com a alma cada encontro que promove, de forma a deixar as emoções dos presentes à flor da pele. Ainda poderá ver a exposição “Just Me” do artista plástico Davide Susca, assistir à atuação de José Augusto Coelho com a sua guitarra e voz. Sem esquecer a poesia com Manuel Branco.


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