História dos Mercados do Porto
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Ciclo “Histórias que o Porto Conta”

Do Antigo Mercado da Sé ao Renovado Mercado do Bolhão

Em setembro reabriu ao público o mítico Mercado do Bolhão, uma das mais importantes montras de comércio tradicional da cidade do Porto, reconhecida pela sua história e arquitetura. Obra do século XIX, o Mercado do Bolhão é o testemunho histórico de um passado mercantil da cidade Invicta que, ao longo dos tempos, conheceu várias feiras e mercados um pouco por toda a cidade.

Sábado de manhã. Os sonoros pregões das peixeiras e das floristas, os impropérios e calões de uma ou outra exaltada feirante ajuda-nos a recordar que só podemos estar num lugar da cidade do Porto: o Mercado do Bolhão. Ainda cheira a fresco a tinta que cobre as paredes do secular mercado, que fechou para obras em 2018 e, volvidos cinco anos e cerca de 26 milhões de euros de investimento depois (mais quatro milhões do que estava previsto), já não se veem os andaimes que, desde 2005, suportavam as coberturas degradadas e os pilares já há muito corroídos pelo tempo. Sob pena de se degradar ainda mais, por mais de oito anos esteve coberta a célebre escultura de Bento Cândido da Silva, que encima a entrada do Mercado desde a Rua Formosa. Conhecida como o Elogio ao Comércio e Agricultura, neste monumento, realizado entre 1914 e 1917, encontram-se esculpidas as personagens míticas de Mercúrio e Flora, além do brasão da cidade. É uma das obras emblemáticas do escultor nortenho, reconhecido também pela notável obra em granito e bronze do busto do bombeiro portuense Guilherme Gomes Fernandes, inaugurado em 1915 e colocado na praça de Santa Teresa e que atualmente leva o nome do comandante que se notabilizou no combate ao fogo do Teatro Baquet. Esta escultura constitui o primeiro lugar de memória da cidade a ser projetado e executado depois da implantação da República.  

Mercado do Bolhão com Fachada

Ao olhar para o renovado “Bolhão” o amante pela história e pelo património não consegue deixar de viajar pelo tempo, em busca do passado mercantil do velho burgo, já que o mercado que se encontra entre as ruas de Sá da Bandeira (a oeste), de Fernandes Tomás (a Norte), Alexandre Braga (leste) e a Rua Formosa (a sul) é apenas um dos muitos mercados e feiras que foram surgindo pelas muitas eras que leva já o Porto.

Os historiadores são unânimes quanto ao local onde terá surgido o primeiro mercado da cidade, nada mais nada menos que junto à atual Sé Catedral, onde podemos ver, inclusive, as marcas das medidas-padrão de superfície que se encontram desenhadas num dos contrafortes da fachada do templo e que dizem respeito às antigas medidas conhecidas como o “côvado”, a “vara”. No caso concreto das marcas que ainda hoje se encontram bem preservadas na pedra, e que serviam para medir tecidos, linhas e fios, as medidas correspondiam a unidades de “meia-braça” (92 cm) e “meia-vara” (55 cm).

Ao lado da Sé, na Rua Escura (mas que já se chamou Rua Nova), a história recorda-nos dois mercados que ali tiveram lugar: o Mercado Semanal, onde se vendia peixe, frutas e legumes (vindos provavelmente das hortas do Bispo, mesmo ali ao lado, onde atualmente se encontra a Praça da Liberdade) e o “Mercado do Levante”, de natureza ambulante, que se estendia até à rua de S. Sebastião. Como testemunho histórico, encontra-se desde 1990, aberto de forma permanente o atual mercado de S. Sebastião, uma estrutura coberta, mas que se encontra hoje em dia num estado de degradação calamitoso.

Mercado da Rua Escura e do Levante

Fotografia de Artur Filipe dos Santos | Mercado da Rua Escura e do Levante

Um pouco pelo centro histórico podemos encontrar pelos anos fora vestígios de antigos minimercados e feiras comunitárias que serviam de lugar para os artesãos da cidade, como os bainheiros, cordoeiros, passamanes, canastreiros mercarem os seus produtos como é o caso do Largo de Penaventosa, onde se encontraram vestígios da antiga muralha de origem romana e, junto à mesma, provas da existência de tendas montadas por mercadores.

Descendo o rio, aviva-se a memória do antigo Mercado da Ribeira. Aqui, junto à praça com o mesmo nome, descarregava-se e vendia-se o bacalhau e peixe fresco, o açúcar e as especiarias, o arroz e frutas. Em 1849 o mercado seria deslocalizado para a zona dos Guindais, em virtude da cerimónia de embarque do corpo do rei Carlos Alberto do Piemonte e Sardenha. Quis o imbróglio entre a Câmara do Porto e a Alfândega que o mercado não voltasse mais ao cais da Ribeira, mantendo-se nos Guindais até 1950.

Mercado Ferreira Borges, Bolsa do Porto, Largo de S. Domingos

Fotografia de Artur Filipe dos Santos | Mercado Ferreira Borges, Bolsa do Porto, Largo de S. Domingos

Deixando as margens do Douro encontramos outro mercado emblemático, porém efémero: o Mercado Ferreira Borges. Joia da arquitetura do Ferro, ostenta o nome do primeiro presidente da Associação Comercial do Porto, cuja sede, o Palácio da Bolsa, se encontra mesmo ao lado. Construído em 1885 para substituir o já falado Mercado da Ribeira, o mercado Ferreira Borges nunca chegou a cumprir a sua função, em virtude da recusa dos mercadores em abandonar o lugar à beira-rio, alegando que o novo mercado apresentava deficiências ao nível da higiene.

Mercado do Peixe, da Cordoaria e feira dos Passarinhos

Fotografia de Artur Filipe dos Santos | Mercado do Peixe, da Cordoaria e feira dos Passarinhos

Ao subirmos em direção ao largo de S. Domingos seguindo pelas escadas da Vitória alcançamos o jardim da Cordoaria (ou de João Chagas) e, no lugar onde se encontra atualmente o Palácio da Justiça, recordamos o antigo Mercado do Peixe, cujas origens remontam ao séx. XVIII. Construído junto ao celeiro público da cidade, em 1868 o mercado do peixe viu ser edificado um novo edifício pela edilidade e que se manteve em atividade até 1950, ano em que foi inaugurado o Mercado do Bom Sucesso, na Boavista. O antigo mercado do Peixe tinha como “vizinha” a tristemente conhecida casa da “Roda dos Expostos” ou “dos Enjeitados”, onde eram colocadas as crianças recém-nascidas abandonadas por dificuldades ou vergonha pelas mães.

Mercado do Anjo

Fotografia de Artur Filipe dos Santos | Mercado do Anjo

Um pouco mais à frente, em direção à antiga praça de Lisboa, paredes-meias com a igreja e torre dos Clérigos, os mais antigos recordam o antigo Mercado do Anjo, construído em terrenos do antigo Recolhimento do Anjo doados à Câmara Municipal por D. Pedro IV. Conhecido como um dos maiores mercados da cidade, aqui vendia-se “carne de porco”, “carnes verdes de boi, vitela ou carneiro”, mas também bacalhau (o único peixe que se podia vender fora do mercado para o mesmo efeito), hortaliças e frutas. Nesse havia um conhecido chafariz, a Arca do Anjo, que nutria de água um mercado que viria a fechar no ano do seu 110º aniversário, mais precisamente em 1952.

Entre a Praça Carlos Alberto e a Praça Gomes Teixeira (também conhecida como Praça dos Leões, junto à reitoria da Universidade do Porto) conheceram-se a existência de mercados. Na de Carlos Alberto, que anteriormente se chamava Largo dos Ferradores, na confluência de duas importantes ruas, a de Cedofeita, antiga estrada que ligava o Porto à Póvoa de Varzim e a Viana do Castelo, e a das Oliveiras, milenar via romana que ligava a velha “Portus Cale” a “Bracara Augusta”. Neste lugar surgiram incontáveis feiras, com destaque para a feira dos Moços, a feira das Caixas (por neste lugar se fazerem e venderem as caixas de bagagem para os emigrantes que iam para o Brasil), e ainda o mercado dos Bois.

Mercado do Pão

Fotografia de Artur Filipe dos Santos | Mercado do Pão

A um pequeno passo, no lugar onde se encontra o já referido busto do comandante Guilherme Gomes Fernandes, ao cimo da Rua da Fábrica e de Santa Teresa, encontrava-se a Feira do Pão. Aqui, as padeiras de Avintes e de Valongo tinham a oportunidade de vender as famosas broas, a regueifa, o pão molete (cujo nome terá origem na figura histórica de um oficial francês, o general Moulet) e ainda o pão podre de Penafiel e Marco de Canavezes.

Quase de regresso ao Mercado do Bolhão, vale a pena mencionar a antiga feira de S. Bento de Avé-Maria, que se realizava no largo que hoje leva o nome de praça de Almeida Garret, em frente à atual Estação de S. Bento, no lugar onde antes existia um convento de freiras beneditinas.

Já de frente para a entrada do “Bolhão” virada para a Rua de Sá da Bandeira importa referir que estamos perante um dos maiores expoentes arquitetónicos da escola francesa, um exemplar do estilo neoclássico tardio, um prenúncio da “Art Déco” que iremos encontrar nos projetos da Estação de S. Bento, das cúpulas do Palácio dos Condes de Vizela, obras de Marques, de quem o autor do Bolhão, Correia da Silva, foi colega na “École des Beaux-Arts” de Paris. Erguido num antigo lameiro, onde se encontrava uma “bolha de água”, o atual Mercado do Bolhão foi inaugurado em 1914.


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