Lojas Emblemáticas que Contam a História do Porto
3ª parte...
Das vassouras à horticultura é um salto, ou não estivéssemos perto da mais prestigiada casa de venda de sementes e utensílios, A Sementeira, estabelecida em 1933 pelos irmãos Alípio e Guilherme Dias, um negócio que vai já na sua terceira geração.
Ao chegar ao Largo de S. Domingos encontram, felizmente, a digníssima papelaria Araújo & Sobrinho, aberta em 1849, em pleno reinado de D. Pedro IV. Orgulhosamente intitula-se como uma das mais vetustas lojas de Portugal e a papelaria mais antiga do mundo, ainda em atividade.
Fotografia de Artur Filipe dos Santos | Araújo & Sobrinho.
Seguindo para Rua de Belomonte, apontamos a data de fundação da farmácia Moreno, que abriu portas em 1804, cotando-se assim como uma das mais antigas do país a laborar. Funcionou primeiramente com a designação de “Drogaria Félix & Filho”. Mais tarde foi adquirida pelo médico e farmacêutico Rodrigo Moreno, que inicialmente lhe apelidou de “Farmácia S. Domingos”. Apenas em 1928, quando o estabelecimento passa para as mãos de António Moreno (sobrinho do referido farmacêutico) é que a farmácia adquiriu o nome atual.
Uns passos mais acima e damos de caras com uma das placas publicitárias mais “retro” do Porto, precisamente a da escovaria que leva o nome do arruamento onde se encontra. Atualmente funcionando como uma loja, mas também com um pequeno núcleo museológico, a Escovaria de Belomonte foi criada por António Silva, em 1927, primeiramente em Massarelos, rumando 13 anos mais para atual localização. Ainda hoje a loja pertence à mesma família, gerida pelos netos do fundador.
E porque uma paragem para café espera-nos no “Piolho”, seguimos para o trecho mais desafiante do roteiro, a subida pela rua das Taipas, aproveitando para contemplar o chafariz das taipas e, um pouco mais distante, o edifício do antigo Clube inglês, ao mesmo tempo que nos entristecemos pelo estado degradante a que chegou o antigo Palacete Leite Pereira, dos viscondes de Alcobaça, que, para além desta casa senhorial do séc. XVII, detinham ainda a Quinta de Ramalde, também no Porto.
Fotografia de Artur Filipe dos Santos | Palacete Leite Pereira.
Cruzando o largo “Amor de Perdição”, tão em voga nos dias hoje por via escultura “Os Amores de Camilo”, alcançamos o Jardim de João Chagas (mas que a “alegre gente do Porto” apelida de Jardim da Cordoaria), onde nunca existiu uma “árvore da forca”. Depois de tirar uma “selfie” com Ramalho Ortigão (escultura de Leopoldo de Almeida, inaugurada em Setembro de 1954), eis-nos chegados à praça de Parada Leitão (antigo oficial do exército e professor da Academia Politécnica do Porto, antecessora da atual universidade) para um merecido repouso de pouco mais de meia hora naquele que é um dos cafés mais amados dos catedráticos e estudantes da academia de agora e do passado. O Café Ancora d’Ouro, mas que todos conhecem como o Piolho. Lugar de acesas discussões políticas, é um dos cafés mais antigos da Invicta, abrindo portas em 1889 e passando de mãos, pela primeira vez, em 1909. Foi visita assídua o poeta Pedro Homem de Mello, entre tantas outras figuras ilustres.
Fotografia de Artur Filipe dos Santos | "O Piolho".
E porquê “Piolho” quando o nome oficial deste espaço é “Âncora d’Ouro?
Existem duas versões (e até mais): a primeira refere que o número de estudantes que frequentavam o café era demasiado numeroso para o pouco espaço que o lugar comportava, havendo o medo que uma infestação de piolhos pudesse proliferar em local tão exíguo; a segunda versão, também pouco simpática, tem a ver com a elevada concentração de comerciantes e clientes vindos do mercado do Anjo em busca do seu café com leite, transformando o lugar, segundo os estudantes, numa “piolheira”. Há quem diga até que “Piolho” seria nome ou gesto de código: no tempo da ditadura do Estado Novo (1933 a 1974) sempre que um reconhecido agente da PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado) entrava no reduto, um ou outro cliente começava a coçar a cabeça.
Vale a pena assinalar a importante curiosidade de que o “Piolho” foi o primeiro café da cidade a ter luz elétrica e, também, a primeira máquina que iria oferecer a alcunha portuense do café, conhecido como “cimbalino”, nada mais nada menos que as máquinas de café expresso italiana “La Cimbali”.
Numa entrevista ao jornal I, Edgar Gonçalves, um dos responsáveis que mantém o Piolho aberto, apesar das dificuldades, referiu histórias rocambolescas como a de um cavalo da GNR (Guarda nacional Republicana) ter entrado pelo café adentro.
Continuando o roteiro, é tempo de seguir para a praça Carlos Alberto, aos fins de semana povoado pelo mercado “Porto Belo”. Depois de contemplar os azulejos da Igreja do Carmo lançamos o olhar para a Rua de Cedofeita, palco de algumas das mais antigas lojas da cidade, com destaque para a centenária Casa Botónia, aberta em 1908, contudo, os primeiros registos deste estabelecimento datam apenas de 1936. O nome diz tudo: a Botónia, gerida atualmente por Maria Guilhermina, vende todo o tipo de artigos de retrosaria e mais alguns, com destaque para incontável coleção de botões, sobressaindo os famosos botões em madrepérola que esta loja importa de Itália e de França.
Ainda em Cedofeita encontramos a Casa dos Forros, especializada em todo o tipo de forros, desde aos de tafetá passando pelos de malha, sem esquecer as entretelas que mantém as gravatas lisas e prontas a enlaçar. Em 2018 celebrou 60 anos de vida, desde que Miguel Pinheiro adquiriu a loja ao seu dono original, Anselmo Caniceiro, que havia iniciado a atividade nos recuados anos 20.
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