
"Ruas Floridas" uma tradição que enche Redondo de cor
Vinte e duas ruas da Vila de Redondo recebem, entre os 29 de julho e 6 de agosto, a iniciativa “Ruas Floridas”, uma tradição que remonta ao séc. XIX e reavivada pela câmara municipal em 1993.
É a mais viva das expressões culturais da Vila de Redondo, no distrito de Évora. Reconhecida pelo seu núcleo amuralhado, as suas igrejas e vestígios do período megalítico e românico, a vila fundada por D. Dinis em 1318 desde cedo se destacou pelo desenvolvimento de uma etnografia própria, tanto ao nível dos mesteres como da música tradicional, como se comprova ainda com a olaria de Redondo e o seu grupo de cantares, que ganhou fama nacional ao gravar um conjunto de músicas com dois dos filhos ilustres da terra, Vitorino e Janita Salomé. Apesar de toda uma riqueza do património edificado, mas também natural (com destaque para a Serra de Ossa e a albufeira da barragem de Monte Novo), nos dias de hoje, são as “Ruas Floridas” que atraem mais turistas à vila.
A tradição faz-nos viajar até ao séc. XIX, com as “Ruas Floridas” a nascerem num contexto religioso, havendo registos que conectam esta atividade com as festas de Nossa Senhora de ao Pé da Cruz, padroeira da freguesia (Nossa Senhora da Anunciação é a patrona da vila-município). Ao longo dos anos, a tradição das Ruas Floridas foi crescendo e tornando-se cada vez mais popular e, à semelhança do que acontece com as festas de Campo Maior (que também se destacam pela ornamentação das ruas com flores de papel, à semelhança do que acontece em Redondo), torna-se realmente uma festa do povo, perdendo, ao longo do tempo, o seu cariz religioso. As festividades atraíram cada vez mais visitantes e turistas, tornando-se uma das principais atrações turísticas da região durante o verão, com o epicentro na primeira semana de agosto. Mas, apesar do sucesso da mesma, esta foi perdendo ímpeto, motivado pelo êxodo provocado pela emigração, que, entre os anos 60 e 70 assolaram a vila e o restante Alentejo. Em 1993, viria a ser resgatada pela edilidade local, promovendo-a de dois em dois anos e mantendo, em grande parte, as dinâmicas originais da tradição, como a nomeação dos “Cabeças” de rua, isto é, os responsáveis por monitorizar o andamento dos trabalhos realizados pelos moradores de cada rua contemplada; a produção das flores de papel levada a cabo em cada casa, de forma a manter o sigilo quanto à ornamentação e ao tema decorativo, um acrescento da visão contemporânea desta iniciativa: o “Cabeça”, juntamente com os moradores que irão participar nos arranjos, escolhe um tema (motivos vegetalistas, paisagens e tradições, atividades económicas, aspetos religiosos, etc.).
Nove a 10 meses antes da montagem começam os trabalhos de manufatura das flores de papel, janela de tempo essencial, dizem os participantes, para que tudo possa estar pronto para embelezar ruas e praças emblemáticas da vila, como a Rua de Alexandre Herculano, a praça da República, a Travessa de Cima, o largo dos Duques de Bragança ou a Praça D. Dinis.
Desde 2018 a vila conta com um equipamento importante para a salvaguarda e a promoção deste exemplo cultural, a Oficina das Ruas Floridas, instalada nos espaços do antigo cinema Capitólio, com ateliês de produção de flores de papel, mostras com arranjos produzidos ao longo dos anos, para além de um acervo documental que nos conta a história de mais um rico exemplo do património imaterial alentejano.
Fotografia | Fonte: 7maravilhas
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