8 Calendários que Medem os Anos

8 Calendários que Medem os Anos

Como os povos mediram o tempo ao longo dos tempos?

Nas vésperas de entrada num novo ano importa refletir sobre a forma como a passagem do tempo influenciou a cultura humana, gerando rituais, despertando crenças, superstições.
Perdem-se nas raízes das eras a necessidade de o ser humano fazer contas ao tempo. Reconhecer os dias que passam, perceber a mudança das estações, o início de um novo ciclo fértil. Assim, desde que a sociedade humana surgiu enquanto sistema organizado em comunidade, tendo por base uma cultura comum, um conjunto de leis e costumes, desde logo surgiu a vontade de organizar a sucessão dos dias e das noites, da mudança das fases da Lua, gerando os conceitos de dia e mês e, consequentemente, de ano.

Deixando a questão dos dias (e das noites) para uma outra crónica e focando-nos na mudança dos anos, existem pelo menos oito calendários centrados nas mais diferentes culturas à volta do globo, para além de vários calendários regionais (como o calendário hindu) ou calendários históricos, que ainda hoje são alvo de amplo estudo e de construção de teorias do fim do mundo, como o calendário maia (ainda hoje utilizado por algumas comunidades da Guatemala).

Calendário Maia

Imagem | Calendário Maia

Construídos à medida que os conhecimentos astronómicos se iam desenvolvendo, ainda hoje grande parte desses oito calendários se inspiram nos exemplos primevos, que eram fundamentalmente lunares, solares ou lunissolares, isto é, construíam a noção de meses tendo por base as fases da Lua, ao mesmo tempo em que se estabeleciam os anos contabilizando a posição do astro-rei no céu, estabelecendo o período dos ciclos agrícolas.

Exemplo de calendário lunar é o calendário islâmico, composto por doze meses, diferindo o número de dias entre 29 e 30 dias, em anos de 354 e 355 dias. Refira-se ainda, a título histórico e cultural, que este calendário tem origem na “Hégira”, episódio fundamental da religião islâmica personificada na fuga do profeta Maomé de Meca para Medina e que, de acordo com o nosso calendário (Gregoriano), teve lugar a 16 de julho de 622.

Como exemplo de calendário solar refira-se o persa, conhecido também como calendário iraniano. Com origem no calendário zoroastriano da Pérsia pré-islâmica, é muito semelhante ao calendário gregoriano, também divide o ano em 12 meses, os primeiros do ano de 31 dias, os cinco seguintes com 30 e o último, 29 ou 30 dias. Os especialistas convergem na ideia de que o calendário persa é mais preciso que o gregoriano, já que neste último há um erro de 1 dia a cada 3236 anos, enquanto no calendário persa (que, à semelhança do islâmico, quantifica o número de anos a partir do episódio histórico da “Hégira”), há um erro de 1 dia a cada 110 mil anos. 

Como calendário luni-solar destaque-se o calendário hebraico. Diferente ao longo das eras (por essa razão quando nos recordamos da figura bíblica de Abraão e nos focamos no número de anos que viveu – 175 – os investigadores acreditam que nesse período o número de dias contabilizado num ano era francamente menor), o calendário hebraico encontra-se atualmente no ano 5782, encontra-se dividido alternadamente entre 12 e 13 meses, com o número dos dias de um meses organizados de acordo com os ciclos da Lua ao passo que o número de meses ao longo do ano é calculado de acordo com o ciclo solar.

Outro exemplo luni-solar é o calendário chinês. Provavelmente o mais antigo da História, este calendário desenvolve-se em torno das doze lunações que ocorrem ao longo de um ano lunar, acrescentando, contudo, um mês a cada três anos (com variações), de forma a coincidir com o ciclo solar. É esta organização que está na base dos signos do Zodíaco Chinês, com os meses e os anos identificados com o nome de animais (Rato, Boi, Tigre, Coelho, Dragão, Serpente, Cavalo, Cabra, Macaco, Galo, Cão e Porco). Atualmente os chineses vivem o ano do Boi.

Quanto ao restante mundo ocidental encontramos dois calendários fundamentais apenas separados por questões histórico-religiosas: o calendário Juliano e o Calendário Gregoriano. O primeiro tem origem em 46 a.C. por intervenção de Júlio César que solicita ao astrónomo egípcio Sosígenes uma adequação do calendário em vigor, bastante irregular, já que dependia de uma sequência intercalada de anos: 355, 377, 355, 378. Como um ano do calendário tinha apenas 10 meses, não raras vezes os mais importantes festivais romanos (que ocorriam em março, o primeiro mês do ano) aconteciam em pleno inverno, obrigando a uma normalização do calendário com o ciclo solar, acrescentando dois novos meses: janeiro (em homenagem a Janus, deus romano com duas caras, uma virada para o passado, a outra para o futuro) e fevereiro (em evocação do deus etrusco Fébruo, divindade associada à purificação e à morte).

Papa Gregório XIII

Fotografia |  Papa Gregorius XIII, estátua de bronze do Papa bolonhês por Alessandro Menganti (1576-1580). Palazzo d'Accursio, Bolonha, Itália.

Em 1577, um grupo de especialistas convocado pelo Papa Gregório XIII procurou corrigir um erro de 10 dias do calendário juliano, de forma que o equinócio da primavera coincidisse novamente com o dia 21 de março. A partir de 1581 o mundo católico passou a utilizar o calendário que ficou conhecido como Gregoriano. A sua aceitação não foi, contudo, consensual, já que a mudança para este calendário foi gradual em países protestantes como a Alemanha (1700) e a Grã-Bretanha (em 1752) ou de minoria cristã como a Turquia (1926). Ainda hoje, por razões religiosas que têm a ver com conflitos dogmáticos, algumas comunidades ortodoxas russas e gregas seguem o calendário juliano apesar da Rússia ter adotado o calendário Gregoriano em 1918 e a Grécia em 1924.

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