
Feliz Natal: Desejo ou Necessidade?
Por vezes nesta época, que se quer natalícia, de abertura, de cuidado, de acolhimento e em fraternidade o que fica para muitos é a ausência e a falta. Para alguns é apenas o desejo, para outros uma realidade, a confirmação de uma experiência vivida.
Sente-se o espírito natalício no ar, a saber, uma maior atenção, um movimento da procura do outro, seja pelo contacto em presença, seja pelas mensagens, pelos telefonemas e videochamadas recorrentes e insistentes.
Pressente-se a necessidade de procura e o desejo do encontro. Não é um movimento qualquer, é a comoção da procura, da troca afetiva, que se consuma pelo encontro entre familiares e amigos que se reconhecem mutuamente.
Apesar da aura amorosa este movimento passa, e por vezes passa rápido. Com a passagem do ano, com o início do novo ciclo solar, o ímpeto dessa procura de encontro em reconhecimento mútuo esvai-se, deixando para trás a força da sua vitalidade inicial.
Este movimento que busca a genuinidade do encontro e do reencontro que este período pode proporcionar (agora menos pela situação pandémica), denota a necessidade gregária do ser humano, e o desejo de afeto, um afeto que nos toque com saúde e em saúde.
Além disto, este período, precisamente pela força da cena natalícia, expõe de uma forma mais veemente o seu contrário, a falta, a ausência. A falta e a ausência dessa experiência de cuidado e amor primordial.
Envoltos nesta experiência desejante, o desejo, precisamente ele, confronta-nos com a falta, como o que nos falta. Desejamos sempre o que de algum modo nos falta e o que nos escapa.
No contacto com as ausências quotidianas, deparamo-nos com o descuido e o descaso em que anda grande parte da humanidade. Necessitamos de atenção, mas deparamo-nos com a indiferença, invocamos o Amor, mas confrontamo-nos com o desamor.
Através dos presentes natalícios desejamos a lembrança, a presença e o reconhecimento humano, mas deparamo-nos com a escandalosa ausência de humanidade que nos circunda. Festejamos a fraternidade, mas “batemos de cara” com as injustiças” que teimosamente persistem e se repetem compulsivamente natal após natal.
Então, para quê desejar um feliz natal? Porque essa é a esperança seminal para o futuro, mais do que uma espera, o que desejamos é que seja um caminho. Não um caminho qualquer, um caminho novo e renovado. Uma nova relação com a vida, com o outro e com o mundo. Feliz Natal para todos.
Texto | Vítor Fragoso - Psicólogo Clínico e Psicoterapeuta