Devo Prestar Atenção às Minhas Emoções?

Devo Prestar Atenção às Minhas Emoções?

Emoções nossas de cada dia. Porque devemos prestar-lhes atenção?

O que é uma emoção? Esta é a pergunta que devemos fazer recorrentemente, deixá-la em aberto e ir ampliando a resposta com a experiência e os conhecimentos científicos que as “ciências das emoções” nos vão revelando, principalmente as das áreas PSI´S e as Neurociências.

No entanto, e apesar dos avanços ocorridos nos últimos trinta anos não devemos deixar de nos questionar sobre a função e impacto de algo tão próximo como as emoções, porque nos constituem e ao mesmo tempo ainda são tão distantes, pois para muitos ainda são estranhas ou algo a evitar.

Apesar do desafio, prosseguimos com respostas que nos aproximam da experiência vivida que experimentamos quando as emoções, os sentimentos e os afetos nos acontecem. Uma emoção é uma reação primária e espontânea perante o que ocorre no meio envolvente. As emoções são estruturas funcionais nitidamente diferenciadas que nos informam sobre o estado da relação entre o organismo e seu meio.

Cada emoção está ligada a elementos fisiológicos precisos: como a respiração, o tónus muscular, a postura, os movimentos e as expressões faciais. Os padrões fisiológicos e musculares habituais determinam por si mesmos os estados anímicos.

O universo das emoções e de tudo o que orbita em torno delas é imenso, no entanto podemos caracterizar alguns elementos chave. Os elementos de uma emoção são essencialmente três:

► Uma situação que a desencadeia, as sensações, os sentimentos decorrentes, as ideias e as recordações que lhe dão colorido;

► Um estado de ânimo decorrente da sua experiência;

► Uma comoção orgânica que se expressa em gestos e atitudes como o riso ou o choro.

Antigamente as emoções eram vistas com “maus olhos”, eram encaradas como algo difuso, desconhecido e a evitar. Representavam um estorvo, metiam medo. Eram tidas como negativas ou revelavam-se um incómodo à “supremacia” da razão. Tudo era justificado pela razão e as emoções deveriam ser dominadas e subjugadas por ela.

Hoje sabemos que Emoção e Razão, no fundo são duas faces de um só rosto. Um rosto único e singular, um só rosto, uma pluralidade de expressões. Por muito tempo, as emoções foram encaradas como algo a evitar, a ultrapassar. Assim sendo teriam necessariamente de ser controladas, dominadas, e se possível eliminadas. Procurava-se como solução fácil a procura de pensamentos que promovessem emoções positivas e agradáveis, ou pensamentos que as eliminassem.

Atualmente o movimento e atitude face às emoções e seus “derivados” é cada vez mais outro, nomeadamente através do reconhecimento, do acolhimento e da valorização da experiência emocional própria.

As emoções ocorrem e transitam em nós, e por essa via são essenciais à sobrevivência da nossa espécie, mas possuem outras funções como sejam a de nos auxiliarem no processo de tomada de decisão, na comunicação, entre outras.

As emoções são quase omnipresentes, através delas somos atravessados pela experiência de viver um tempo interno que se manifesta na sua tridimensionalidade, passado, presente, futuro. Elas são elos que nos enlaçam às experiências e ocorrências da vida humana. Laços que se consolidam ao longo do processo de construção da historicidade humana. Cada um e todos nós compõe a sua história individual e coletiva, podemos dizer que somos permeados por uma ambientalidade*1 emocional e afetiva ao longo de todo o nosso ciclo vital.

Como nos diz a psicóloga e psicoterapeuta francesa Isabelle Filliozat:

“as emoções agitam-nos sempre a partir do presente, ainda que se revelem pelas memórias e lembranças. Elas sacodem-nos na relação que estabelecemos connosco, e na interação que estabelecemos com o mundo”

Agitam-nos a partir do presente, mesmo quando vindas do passado ou projetadas no futuro. Experimentamo-las no aqui (corpo) e agora (presente). São essas emoções que nos guiam na compreensão da postura a adotar perante o vivido, perante o que nos rodeia. Elas representam a nossa avaliação da experiência por nós vivida.

Pelas suas características as emoções posicionam-nos perante o tempo e o espaço. Elas podem ser agradáveis ou desagradáveis. Neste sentido é importante experimentarmos emoções agradáveis e viver a positividade que elas transportam.

Elas alargam o nosso campo de interesse, preparam-nos para novos sonhos-projeto, estimulam a nossa criatividade e a nossa produtividade e facilitam a criação de novas relações humanas. As emoções são as nossas ferramentas de e para a vida.

Eliminá-las seria como andar às cegas, sem a possibilidade de ter esse foco que nos guia e alerta. Por esses motivos é importante aprender a: (1º) Reconhecer; (2º) Conter; (3º) Gerir.

Vejamos mais pormenorizadamente cada uma destas etapas que compõem o que podemos chamar de aprendizagem emocional.

Reconhecer: todas as emoções fazem-se acompanhar de uma sensação física que posso localizar e de qualidades físicas que posso reconhecer.

2ª Conter: é importante aceitar o que sinto, sem pretender mudar, sem negar nem ampliar. Não luto nem a favor, nem contra.

3ª Gerir: posso vir a decidir conscientemente o que faço com o que sinto, como é que o expresso, e como o experimento em mim e com os outros.

Resumindo, não podemos escolher o que sentimos, mas através de um processo de educação emocional podemos vir a escolher o que fazer com o que sentimos. Este é o processo de poder vir a tornar-se presente e em contacto com a sua experiência e vivência atual. A este propósito lembramo-nos da filósofa espanhola Mónica Cavallé quando afirma: “todas as transformações de raiz, todas as libertações, respondem sempre à dinâmica de nos fazermos presentes, aceitando o que está. Quando nos fazemos presentes na experiência de vida, a plenitude regressa a todas as coisas.”

Quando seguimos este caminho, o caminho de estar presente, de prestarmos atenção e de acolher as nossas emoções e os seus correspondentes estados afetivos, algo se amplia em nós. Quando fazemos a cada momento o que tem de ser feito, o que nos convoca, em função das nossas circunstâncias, das condições, das limitações, das inclinações, da vocação e da responsabilidade assumida, aí colocamos a nossa presença plena – estou aqui, estou sendo e vivo a experiência de estar vivo.

Para finalizar cumpre-nos relembrar que edificar uma educação emocional para todos e todas é um projeto coletivo que nos convoca, emergindo a psicologia e a educação como disciplinas e práticas potenciadoras deste processo de aprender a ser humano na convivência de uns com os outros.

Sugestões de leitura |

Cavallé, M. (2019). El arte de ser: filosofía sapiencial para el autoconocimiento y la transformación. Editorial Kairós.

Filliozat, I. (1997). A inteligência do coração: rudimentos de gramática emocional. Pergaminho.

Filliozat, I. (2000). No Coração das Emoções das Crianças: Compreender a sua linguagem, risos e choros. Pergaminho.

Texto e Fotografia | Vítor Fragoso - Psicólogo Clínico e Psicoterapeuta

*1 O que significa Ambientalidade?
Ambientalidade é uma dimensão da essência humana, através da qual somos co-constituintes do universo, somos partes fundantes consubstanciais de uma totalidade através da qual tudo muda, tudo está ligado a tudo.
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