Humildade: O Ponto de Equilíbrio entre o Saber e o Ser

Humildade: O Ponto de Equilíbrio entre o Saber e o Ser

Humildade: uma ordem de medida

A humildade é uma ordem de medida. Ela coloca-nos na medida certa daquilo que acontece, de como acontece – aqui e agora. Como estou nas situações e contextos vividos? Como me coloco perante o outro? Como me sinto como parte de um todo maior e complexo? 

Com humildade reconhecemos que apesar de tudo o que conhecemos é muito mais o que não conhecemos do que aquilo que sabemos. A humildade marca o ponto no mapa da existência, ela situa-nos e faz-nos compreender que o mapa aponta para um território maior. 

Trata-se de uma postura de simplicidade que mantém a nossa mente aberta, porque não saturada e sempre disposta a mudar e a crescer. A crescer em conhecimento, em sabedoria e humanidade. Uma sabedoria que é – um sabor a degustar em conjunto, em comunidade. Uma sabedoria que é um sabor a ser partilhado na grande mesa do mundo. 

Todos na mesma mesa, uma mesa onde todos se servem uns aos outros, onde tudo é para todos. Trata-se de uma atitude que nos permite valorizar os outros, a vida, o mundo, o planeta, o universo. 

É utopia! Não, apenas uma forma de caminhar, um destino a fazer, uma arte a realizar. 

Hoje vivemos tempos de arrogância, tempos de um pertenço saber. Parece que tudo se pode, que tudo é alcançável e facilmente realizável. Na era da Inteligência Artificial querem-nos fazer crer que as qualidades humanas que demoraram milhares de anos a maturar e a eclodir estão obsoletas. 

Capacidades humanas como escrever, pensar, acertar, errar, criar, memorizar, lembrar, parecem fadadas a uma obsolescência programada (com data e tempo marcado). Brotam aos magotes os gurus prontos a nos indicar o destino, a forma e o meio para alcançar o sucesso, seja lá o que isso for. São os modernos vendedores de liberdade. 

São vendedores de uma liberdade que só pode ser à sua medida, e quando assim é, é opressão. Trata-se de uma ditadura do comportamento, com a sua métrica própria do sentir, do pensar e do agir. Aqui lembramos a escritora Lya Luft que nos recorda que pensar, um pensar livre e próprio, é um pensar que transgride. Pensar é transgredir. Um Pensar e agir livre é um ser-sendo que vai além da agressão que lhe impõe limites e modos alheios.

Humildade implica abertura, arejamento, encontro. Com humildade aprendemos com os demais. O outro pode ser alguém com quem aprender. Se estou aberto posso vir a experimentar a sensação de gratidão, porque senti o gesto do outro, pois apenas desse modo também eu posso sê-lo. Ser grato é uma experiência e uma vivência em primeira pessoa, é uma experiência que se encontra e que se faz no laço interpessoal. Ninguém é grato por decreto ou “mantra” popular. A prática da gratidão é uma prática de autoconhecimento que nos coloca com os pés na terra fértil do Encontro humano.

Na imensidão do conhecimento possível, lembra-nos que somos apenas um grão de areia, um pó cósmico que flutua neste universo magnífico do qual fazemos parte. Vivemos o paradoxo de nos acharmos finitos e de poder escutar o anúncio daquilo que é infinito. Esta é a condição agridoce de ser humano, um ser finito que se deixa tocar pelo infinito. Isto deve-nos colocar numa atitude de reverência e reconhecimento, não nos deve tolher, apequenar ou amedrontar, pois é precisamente essa pequenez que nos faz preciosos. 

Somos um barro a esculpir, somos terra que se insufla com ânimo e que se faz arte. Ser Homem é ser em construção, é ser criado e criador, é ser a arte e o artista.

“Como um rio poderoso, a experiência de ser humano é um fluxo constante que nos alimenta e enriquece a cada momento que passa”.

A vida, é fluxo, é chama vital e parte da nossa tarefa é aprender a acolher e sentir o calor desse movimento. Viver é descobrir a vida em nós e fora de nós, é vir a saber que lhe pertencemos. 

A Vida é um Todo do qual somos parte. Somos a parte e o todo numa dança constante. somos chama que se enlaça e ilumina.

Viver é dar-se à experiência do que acontece para que a experiência possa vir a ser sentida como própria, para que possa vir a ser vivência. Se a experiência não nos toca, se não nos afeta não é verdadeiramente vivência. 

A experiência pela forma que ganha na vivência humana, define-nos, ela pode vir a ensinar-nos e a inspirar-nos. Ela pode levar-nos pelos picos e vales da vida, ela expõe-nos aos vários matizes das emoções e dos afetos possíveis.

A experiência requer, compreensão, tenacidade e resiliência e uma mente aberta e humilde. 

“Cada experiência é uma semente que pode florescer e vir a tornar-se numa árvore de conhecimento e sabedoria. É preciso apreciar cada passo que se dá. É necessário desenvolver a capacidade de observar, de ver verdadeiramente e de compreender.”

Ser humildemente fértil é estar aberto e desenvolver uma Abertura propicia ao que vem. Cada pessoa está na sua própria viagem, a Vida é uma aventura para ser vivida em plenitude.

Cada caminho é único, não é um destino, mas uma viagem. A cada passo que damos aproximamo-nos mais de nós, do que somos e do que podemos vir a ser.

Na vida e existência humana a verdadeira sabedoria não é um destino ao qual chegamos, mas uma viagem que nunca termina. É um deixar ir, é um desapegar-se do passado e acolher o presente e o futuro que se anuncia.

Ser humilde é vir a reconhecer o trânsito e a transição. A cada “nova folhagem” uma nova abertura para o inédito.


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