
O Sonho e a Realidade
É humano e quotidiano misturar estes dois conceitos: Sonho e Realidade. Na maior parte das vezes não o fazemos de forma intencional. Sem nos apercebermos vamos criando uma realidade alternativa e desengane-se quem atribuir essa “confusão” aos otimistas. É redutor (podia dizer: é fruto de otimismo) pensarmos assim, na verdade é um fenómeno transversal a todos.
É natural e saudável que cada um veja o mundo à sua maneira, que organize os “imputs” sensoriais numa forma muito própria, faz parte de uma construção de caráter. Se todos temos experiências e vivências diferentes, ninguém esperaria que pensássemos da mesma forma ou que tivéssemos todos as mesmas ideias e opiniões. Não quero aqui hoje colocar em causa a individualidade humana, muito pelo contrário, apenas enfatizar um pormenor do nosso pensamento que sem dúvida se irá refletir no comportamento.
Vamos imaginar que a realidade é um puzzle, um conjunto de pecinhas que quando organizadas de uma certa forma resultam numa imagem concreta. Partindo desse princípio, acredito que todas as conversas que temos, todos os noticiários a que assistimos, todas as manchetes que lemos, todos os “opinion makers” que veneramos, vão dando de forma lenta e gradual as já referidas pecinhas. Diariamente vamos encaixando-as de acordo com a nossa sensibilidade ou mesmo “feelings”. No final do processo conseguimos ver a nítida imagem de uma praia paradisíaca quando na realidade o puzzle que compramos era alusivo ao trabalho industrial.
Como é possível? Caro leitor, lamento mas também não consigo explicar… Mas que acontece, acontece!
O sonho...
1 - O mundo está a viver uma exceção, a atualidade é fruto de circunstâncias específicas e, como tal, em breve tudo vai mudar no sentido de voltar aos moldes anteriores, aqueles que nos faziam sentir confortáveis.
2 - Queremos muito que a Ucrânia vença este conflito, monte uma gigante e poderosa contraofensiva que oblitere os Russos, que os faça chorar muito. Estamos à espera do dia em que a abertura do noticiário das 20 horas se faça com imagens do último Russo a ser expulso de forma humilhante do território ucraniano.
3 - Os salários e pensões em Portugal vão subir de forma consistente, levando a que nos aproximemos da média Europeia. As taxas de juros impostas pelo Banco central Europeu vão diminuir brutalmente levando a que as mensalidades que pagamos aos bancos desçam para metade. O glutão invisível a que chamamos inflação não tarde em desaparecer, obrigando à descida acentuada dos preços dos bens e serviços. A carteira dos Portugueses vai poder relaxar, começará um tempo de “super hábito tuga”, vamos prosperar e vivermos desafogados.
4 - Os preços das casas e do aluguer depois de ter atingido um pico altíssimo, vai descer e voltar aos níveis que nos habituamos no passado. Os jovens antes dos 30 anos vão todos conseguir comprar ou alugar facilmente a sua casa de sonho e, também devido a isso, vão-se reproduzir loucamente o que levará a um rejuvenescimento da população nacional, o que por sua vez resolverá uma série de problemas.
A realidade...
1 - O mundo mudou (evoluiu? Regrediu?) apesar de a mudança ter tido com base circunstâncias específicas, rapidamente entranhou-se em tudo, em todo o lado quase ao mesmo tempo. Nada voltará a ser como antes, começamos a trilhar um caminho que não tem volta, o desconforto da incerteza será permanente.
2 - Nem a Rússia nem a Ucrânia vão ganhar esta guerra, a contraofensiva vai-se fazendo a conta-gotas, vão-se reclamando pequenas e temporárias vitórias. Estas nações provavelmente vão continuar a medir forças nas próximas décadas, com todos os custos humanos e financeiros que daí advêm. Não se vislumbra um fim para este horror, ninguém consegue arriscar qual será o último dia de guerra, nem sequer quem fará a marcha triunfal. O exército Ucraniano está bem apetrechado (graças à União Europeia, Reino Unido e Estados Unidos da América), mas não devemos menosprezar o poderio e a arrogância dos Russos em nenhum momento de análise apaixonada.
3 - Os salários e pensões em Portugal nunca subirão de forma a anular o aumento do custo de vida. A utopia da aproximação aos salários do resto da Europa vai continuar. Não se prevê que as taxas de juros diminuíam no próximo ano, podendo mesmo ainda aumentar mais ainda a mensalidade que pagamos aos bancos. A inflação vai descer, embora não se espera uma descida gigante nem sequer rápida. Para os preços dos bens e serviços voltarem aos níveis do passado não basta só que a inflação diminua, é preciso que haja deflação. Portanto, os supermercados vão continuar carotes. Poucos serão os Portugueses que conseguirão viver de forma desafogada e relaxada,
4 - O preço das casas e do aluguer vai manter-se alto (talvez ainda suba mais). Os jovens antes dos 30 anos jamais vão conseguir comprar ou alugar o T0 desenrasque. Casa de sonho? Nem em sonhos! A natalidade continuará nas ruas da amargura, no meio de tantas dificuldades e constrangimentos quem optar por ter mais do que um filho é louco ou um herói. Os desequilíbrios etários são para continuar.
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