O Futuro do Alojamento Local
I will survive — Sobreviverei
Em virtude da situação pandémica, o setor do alojamento local, tal como outras áreas de negócios, viu-se a braços com uma crise sem precedentes. Para além de sonhos destruídos, perderam-se empregos, interromperam-se investimentos e “congelaram-se” iniciativas e expectativas… Toda a estratégia desenhada na última década foi por água abaixo.
Quando se fala desta atividade comercial, convém não esquecer que para além de contribuir para o aumento e diferenciação da oferta turística em Portugal, é ainda responsável pela criação de emprego, pela valorização imobiliária, fomenta a recuperação de imóveis, e gera receitas para a economia local.
Ao longo deste ano e meio de pandemia a indústria do alojamento local tem vivido uma verdadeira montanha russa, altos e baixos que se sucedem de uma forma quase esquizofrénica e, a crise ainda não terminou. Contudo, nem tudo são más notícias:
“A esperança é o sonho do Homem acordado”
Aristóteles
Com os esforços de vacinação na Europa e nos Estados Unidos crescendo diariamente, a realidade do passaporte de vacinação a promover a abertura progressiva de fronteiras e as pessoas ansiosas por viajar, tudo parece indicar que podemos estar na eminência do tão esperado momento de viragem, aquele pequeno rasgo de luz ao fundo do túnel que nos faz crer que o pior já passou.
Devido a algumas limitações de mobilidade que se antecipam, os viajantes por motivos de trabalho/negócios e os nómadas digitais procuram cada vez mais estadias prolongadas. No cenário atual, é fundamental que os operadores de alojamento local se adaptem, não só à duração/preços das estadias, mas também, consigam seduzir novos segmentos de mercado, como os turistas nacionais, famílias inteiras ou mesmo a população que continua no regime de teletrabalho. Baixar o preço da diária com a ambição de prolongar as estadias parece que vai ser uma tendência determinante para a sobrevivência/recuperação económica do setor.
Com hóspedes de longa permanência, a pressão operacional acaba por ser menor, a gestão de reservas, o número de check-in e de check-out bem como as operações de limpeza também serão mais reduzidas.
Devido à COVID-19 a maior parte dos viajantes, agora, mais do que nunca, valoriza a privacidade e o espaço, preferem ter o mínimo contacto humano possível, ou seja, a preferência está e vai continuar a estar nos apartamentos e casas inteiras em detrimento de imóveis partilhados. As áreas rurais por estarem longe das multidões vão reunir preferência. Hoje em dia, quem sai das cidades procura o conceito de “rústico por fora” mas “moderno e confortável por dentro” e com uma boa conexão à internet, permitindo que seja possível continuar a trabalhar à distância. O cliente de hoje não dispensa o ar condicionado no verão e o aquecimento no inverno, não sabe viver sem uma boa máquina de café e da loiça, exige um colchão e almofadas de última geração e jamais abdica de uma casa de banho ultra moderna.
A necessidade de conhecer e usufruir dos produtos regionais será cada vez maior, o cliente que vem dos grandes centros urbanos está saturado dos produtos "standardizados", não conhece o sabor de um verdadeiro tomate, pensa que a salsa e os coentros têm aquele aroma e sabor “fraquinho” a que o hipermercado habituou, se calhar nunca provou um pão caseiro cozido em forno de lenha… Tudo isso são banalidades do dia-a-dia para as pessoas do campo, mas são luxos desconhecidos para os "animais citadinos". Para estas pessoas, a prova de um bom doce de tomate caseiro, dos enchidos típicos, do vinho tinto da zona e de um queijo artesanal é um verdadeiro momento “gourmet” e, como tal, estão dispostos a pagar bem por tal privilégio. Os operadores de alojamento local não podem ficar indiferentes a esta situação, em bom rigor têm aqui uma verdadeira oportunidade para gerar rendimento extra, proporcionando experiências gastronómicas ou mesmo de atividades lúdicas aos seus hóspedes.
O negócio do alojamento local tem pautado o passado e o presente e, na minha opinião pode ter um futuro risonho se, souber perceber as novas tendências e conseguir adaptar-se ao novo mundo, ao mundo pós covid. As pessoas estão saturadas do profissionalismo hoteleiro, onde o sorriso amarelo e a gentileza existem, apenas porque fazem parte de um código de etiqueta. As pessoas preferem pessoas verdadeiras, com sentimentos genuínos e consideram que o amadorismo é ternurento e cativante, deixaram de gostar de ser tratadas como números, recusam a indiferença, preferem o calor humano que o alojamento local consegue oferecer… Literalmente oferecer!