Tesouros Comerciais: Uma Viagem Única no Porto
O Natal está à porta e nada melhor que descobrir o património do comércio tradicional da cidade do Porto, viajando pela história de espaços emblemáticos como “A Favorita do Bolhão”, o “Bazar Paris”, “Camisaria Porto” ou a famosa “Livraria Lello”, sem esquecer alguns dos cafés mais emblemáticos que durante o séc. XX ajudaram a promover a cultura na Invicta. Descubra estes e outros espaços emblemáticos do Porto num roteiro inédito pelo comércio tradicional tripeiro.
2ª parte
Não muito longe das Cutelarias Finas encontrava-se a célebre Farmácia Estácio, criada por Emílio Augusto Faria Estácio, importante professor de Farmácia da Universidade de Coimbra, em 1885 a partir de Lisboa, abrindo uma sucursal a norte em 1924. Famosa por ter a única balança “falante” em Portugal, tornou-se memorável a visita do ator Vasco Santana à farmácia que, ansioso para conhecer tão rara balança, viu-se avisado pela “voz” do instrumento que só podia subir à balança uma pessoa de cada vez. Afinal veio-se a descobrir que era um funcionário da farmácia que, escondido por debaixo do virtuoso aparelho, vociferava o peso dos utentes e visitantes. O acervo da Estácio repousa agora no Museu da Farmácia, na zona industrial do Porto.
Fotografia de Artur Filipe dos Santos | Farmácia Estácio no Museu da Farmácia, no Porto.
O café A Brasileira não passa despercebido, sobretudo pela magnífica cobertura da entrada. Fundado em 1903 por Adriano Soares Teles do Vale, um “português de torna-viagem”, ainda hoje podemos ver nas paredes deste emblemático espaço as placas de aviso “Por favor não cuspa no chão”. Passando às pressas pela Rua de Sampaio Bruno, do saudoso café Embaixador, da Casa da Sorte e dos muitos engraxadores que habitavam esta artéria e a Praça da Liberdade, na “sala de visitas” da cidade recordamos o antigo café Imperial, aberto nos anos 40 e cuja decoração em arte decaux sobrevive desde 1993 no mais bonito restaurante da cadeia Macdonald’s, segundo o site 9GAG. E por falar em café, na memória dos portuenses mais maduros subsiste ainda o Astoria, que se encontrava na esquina da Praça da Liberdade com a de Almeida Garret, no rés-do-chão do Palácio das Cardosas, hoje em dia transformado num luxuoso hotel.
A próxima paragem leva-nos ao largo dos Lóios, até à papelaria Modelo. O “lettering” que identifica a casa não esconde a antiguidade da casa fundada em 1921 e que ajudou a formar tantos estudantes de Belas-Artes e de Arquitetura ao longo dos anos.
Cruzando a recente Praça das Cardosas, ao encontrarmo-nos de frente da estação de S. Bento, lançamos o nosso olhar para a Rua do Loureiro, tão mudada do que era, conhecida há relativamente pouco tempo por ser o arruamento onde se encontrava a extinta Chapelaria Ideal, aberta em 1890, a Casa Arcozelo (muito concorrida pela qualidade da sua charcutaria, em especial os queijos) e a confeitaria Serrana (foi um dos espaços mais belos da cidade, ocupando os espaços de uma antiga farmácia e onde, ao domingo à tarde, as finas senhoras do Porto se juntavam para beber chá e “afiar a língua”. Nesta rua habitou durante largos anos a casa Andorra, especialista em eletrodomésticos. Todos os dias os aposentados da cidade acotovelavam-se para ver, a partir da montra central da “Andorra” os vídeos das vitórias do Futebol Clube do Porto nas finais de 1987 da Taça dos Clubes Campeões Europeus, na Taça Intercontinental e Supertaça Europeia. Foi aqui que nasceu a primeira casa da cadeia de lojas de eletrodomésticos Rádio Popular, em 1977.
Fotografia de Artur Filipe dos Santos | Antiga Ourivesaria Aliança.
Rumando em direção à rua Mouzinho da Silveira, não se pode perder a oportunidade de entrar naquela que foi, em tempos, a rua mais comercial da cidade, a Rua das Flores. Ainda hoje guarda pérolas de outras épocas com destaque para a antiga ourivesaria Aliança, aberta em 1925 (mais tarde abrindo uma sucursal em Lisboa, na Rua Garret, em 1944, numa inauguração em que esteve presente o presidente da República à época, o general Óscar Carmona). Fechou nos anos 90 e nos últimos anos o seu lindíssimo interior chegou a ser ocupado por uma sala de chá e loja de artigos de luxo, conhecida como a “Joia da Coroa”.
Poucos metros à frente, vale a pena desviar pela rua mais pequena da cidade, a “Afonso Martins Alho”. Uma singela e estreita (de comprimento) homenagem ao mercador portuense do séc. XIV que assinou o primeiro tratado comercial com a Inglaterra de Eduardo III, em condições tão vantajosas que ainda hoje a expressão idiomática “fino como o Alho” nos recorda a sua notável capacidade de negociação. Aqui durou até 2017 a centenária Adega do Olho, que alguns dizem que só não se chamou “do Alho” porque alguém se enganou nas finanças.
Regressando à Mouzinho da Silveira, no nº 173, onde hoje encontramos um “sushi bar” existiu até meados da década passada a Escovaria de Ermesinde, fundada por António Dias por volta dos anos 40. À semelhança da ainda sobrevivente Escovaria de Belomonte (que podemos encontrar logo a seguir ao Largo de S. Domingos), dedicava-se à venda de vassouras e escovas de piaçava (ou piaçaba), uma fibra extraída de folhas de palmeira. Ainda hoje podemos encontrar um ou outro artesão de vassouras em piaçava na freguesia de S. Romão do Coronado, na Trofa.
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