
O Drama de Comprar Casa
Eu “queria” comprar uma casinha...
Comprar casa é um dos passos mais importantes na vida de um jovem Português. Ao contrário dos povos da Europa de norte, os habitantes do mediterrâneo para se sentirem verdadeiramente em casa, precisam mesmo de comprá-la, o aluguer parece não aquecer a alma dos “sulistas”.
Por incrível que pareça, este simples ato que é comprar um imóvel para habitação está cada vez mais difícil e, certamente contra vontade, tem vindo a ser adiado pelos jovens.
A necessidade de deixar o teto e as regras dos pais nunca perdeu fulgor, continua a ser uma realidade na sociedade moderna, não creio que tenha havido mudanças sociais a esse nível.
Longe vai o tempo em que raro era o caso em que um filho de 20 anos ainda vivia com os seus pais. Primeiro, o facto das novas gerações estudarem mais anos (o que é bom) veio atrasar 5 a 6 anos a saída do ninho, mais recentemente, uma série de dificuldades e constrangimentos relacionados com o mercado imobiliário tem vindo a acrescentar uns anos extra. Feitas as contas, a nova realidade é: Viver com os pais até aos 30 anos (pelo menos). Neste momento, Portugal já é o quinto país da União Europeia onde os jovens saem mais tarde da casa dos pais.
O que poderá justificar esse fenómeno?
Jovens têm salários baixos
Em Portugal os jovens recebem salários cada vez mais próximos do salário mínimo. À medida que as gerações mais velhas vão dando lugar aos trabalhadores mais jovens, que auferem salários mais baixos, tendencialmente o salário médio tem diminuído.
Os jovens com ensino superior completo foram o grupo em que se verificou a maior descida do salário médio, uma quebra de cerca de 24%. Embora com mais qualificações do que as anteriores gerações, os jovens são o segmento populacional que tem sido mais afetado pelas “crises” dos últimos anos. Esta tendência tem contribuído para termos uma classe média cada vez mais fraca.
Em concreto? Quase três em cada quatro jovens (72%) recebem menos de 950 euros líquidos por mês.
Preço das casas
A procura de imóveis mantém-se maior do que a oferta, principalmente nas grandes cidades, onde é cada vez mais difícil comprar casa.
Portugal é o único Estado-Membro onde os preços da habitação aumentaram mais de 6% todos os anos desde 2016.
Se nos focarmos apenas no ano de 2022, segundo o INE, no primeiro trimestre os preços das casas aumentaram 12,9% e no segundo trimestre mais de 13%, tais subidas são provavelmente resultado da inflação, da guerra na Ucrânia e da falta de materiais de construção.
Mercado de arrendamento
Os preços das casas têm vindo a subir um pouco por todo o país e, esta tendência obviamente reflete-se nos preços de arrendamento. A realidade portuguesa não é favorável aos senhorios, claramente desincentiva o investimento no mercado do arrendamento, ao contrário do que está a acontecer com o mercado do alojamento local. Temos uma legislação que protege fundamentalmente os direitos dos inquilinos e que força o proprietário a fazer o papel que o Estado Português deveria fazer, para além de uma fiscalidade muito pesada.
Consequência? A oferta de casas para arrendar é escassa. Dizem as leis do mercado que quando a procura é superior à oferta, o preço sobe… A título de curiosidade, fiz hoje (dia 7 de Outubro) uma pesquisa numa das plataformas online com mais visibilidade. Procurei por “apartamento para alugar em Lisboa”. Não coloquei qualquer filtro, nem em relação ao tamanho do imóvel ou sequer zonas concretas de Lisboa. Resultados: O motor de busca encontrou 65 imóveis, sendo que o mais barato pede uma renda mensal de 690 euros. Há que dizer que desses 65 imóveis, apenas 12 pedem uma renda inferior a mil euros mensais…
Crédito à habitação
Tudo leva a crer que as condições de acesso ao crédito à habitação, que já não são “meigas”, sejam agravadas. Dá para prever que a dificuldade de aprovação de crédito bancário veio para ficar.
A obrigação de ter pelo menos 10% do preço do imóvel em capital próprio, a exigência de uma situação financeira e vínculo laboral estável e a subida das taxas de juros… Uma conjetura que tornará o início da vida dos jovens ainda mais complicada.
Feitas as contas, há muitas famílias que vão ter de continuar a arrendar, e estar sujeitas às flutuações e incerteza do mercado, cujos preços altos não acompanham os rendimentos da média dos portugueses.
Casas caras + Rendas altas + Salários baixos + Dificuldade em aceder ao crédito + Inflação = Filhos mais tempo em casa dos pais!
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