A Alimentação do Futuro
A Alimentação do Futuro
A Alimentação do Futuro
A Alimentação do Futuro

A Alimentação do Futuro

Pensar no futuro, não é propriamente uma característica que faça os políticos Portugueses perderem o sono, em norma o horizonte mais longínquo dos nossos decisores é 8 anos, o equivalente a duas legislaturas. É uma triste realidade que impede o País de definir um rumo estratégico a médio e longo prazo. Se não tivermos uma ideia do que será o futuro, como nos podemos preparar? Pergunta retórica…

A população do planeta cresce a um ritmo alarmante de 83 milhões de pessoas por ano, mantendo esta tendência, em 2050 já haverá 9 biliões de pessoas no planeta, e até o final do século seremos mais de 10 biliões.
O clima está a mudar, basta apenas uma ligeira subida do nível do mar para que desapareça uma quantidade significativa de terrenos agrícolas férteis.

A sobrepopulação é a principal causa da maioria dos problemas mundiais. Seja uma questão de falta de comida, falta de água potável ou falta de energia, cada país do mundo já é, ou será, afetado. Na atualidade, a utilização de fertilizantes artificiais e a alimentação artificial de animais, dá-nos a falsa sensação que estamos um passo à frente da fome, mas, em bom rigor, atualmente cerca de 820 milhões de pessoas passam fome.

A Humanidade vai ser confrontada nas próximas décadas com o desafio do crescimento populacional versus a escassez de recursos alimentares. Para conseguirmos fazer face ao aumento de população, seria necessário pelo menos duplicar, se não mesmo triplicar a produção agrícola nos próximos 40 anos. Será possível alcançar essa meta com os recursos limitados do nosso planeta? E de uma forma ecológica?

É preciso reinventar o que comemos, o nosso padrão e cultura alimentar terá obrigatoriamente que mudar, para que seja possível, de uma forma sustentável, garantir uma disponibilidade alimentar com qualidade e em quantidade adequada para todos os habitantes do planeta.

O que vamos comer amanhã?

Graças aos avanços na indústria alimentar e ao desenvolvimento tecnológico, deixo aqui uma perspetiva sobre o que poderá estar no nosso prato no futuro.

1 - Insetos

Farinha de Grilo

Hoje em dia, pelo menos 2 milhões de habitantes do planeta já consomem insetos, prevê-se que a tendência aumente consideravelmente. Percebo a expressão facial que fez neste momento, mas é inegável que são uma excelente fonte de proteína, gordura, fibras e minerais, tem propriedades anti-inflamatórias. O consumo de insetos poderá abrir novas perspetivas no combate à obesidade e diabetes.

A utilização de insetos na alimentação humana já foi aprovada pela Direção-Geral de Alimentação e Veterinária. Para a indústria alimentar, esta pode ser uma ótima solução para incorporar proteína nos alimentos, tornando-os nutritivamente mais ricos. Além disso, a produção de insetos é “mais amiga do ambiente” quando comparada com a produção de carne, em concreto, gasta 2500 vezes menos água, é 15 vezes mais rápida e emite 100 vezes menos gases com efeito estufa.

2 - Carne produzida em laboratórioCarne Cultivada

Também conhecida como Carne cultivada, é produzida através de cultura de células in vitro proveniente de células animais, começando com a retirada indolor de uma amostra de tecido muscular de um animal vivo, sem ter que se abater animais. Em 2013, o professor Mark Post da Universidade de Maastricht, apresentou o primeiro hambúrguer de laboratório.

A Memphis Meats, é uma empresa Americana que tem sido pioneira nesta tecnologia, em 2016 produziu almôndegas (muito similares às de carne de vaca), em 2017 produziu frango e pato.
Vários estudos recentes indicam que as emissões de gases de efeito estufa e outros danos ao meio ambiente são substancialmente menores quando se produz carne cultivada, em comparação com os métodos tradicionais. Na carne cultivada é possível controlar os níveis de gordura e colesterol, também existe a possibilidade de enriquece-la com vitaminas e minerais, levando a potenciais efeitos positivos na saúde da população.

A carne de laboratório surge como uma opção sustentável que tem potencial para mudar de uma forma irreversível a forma como comemos e encaramos os alimentos. O preço de produção e consequentemente de venda ainda é muito elevado, mas tudo indica que no futuro poderá tornar-se acessível à maior parte das pessoas.

3 - Algas

Salada de Algas

As algas podem ser consideradas um alimento de elevado potencial, natural, abundante, com elevado valor nutritivo e em simultâneo baixo valor energético. São um garante de sobrevivência, a que o ser humano, mais tarde ou mais cedo, irá recorrer, no presente mais por capricho e curiosidade mas, no futuro, por evidente necessidade.

Os países asiáticos são os principais consumidores de algas e produtos à base das mesmas, absorvendo cerca de 60% da produção mundial.

As algas correspondem a uma fonte alternativa de proteína, ácidos gordos polinsaturados, fibra, vitaminas e minerais. A presença de fibra em quantidades significativas pode facilitar uma maior sensação de saciedade e, por sua vez, ser uma ferramenta eficaz no controlo do peso e glicemias. Para fomentar uma maior absorção das proteínas é necessário sujeitar as algas a processos físicos como a congelação, moagem ou cozedura, ou mesmo a fermentação.

A indústria alimentar tem vindo a desenvolver, cada vez mais, formas para incluir as algas na alimentação humana, principalmente nas populações ocidentais que não têm hábitos de consumo deste alimento. Alguns exemplos da aplicação de algas em produtos alimentares são: o pão, as bolachas, as tostas, a massa, o azeite e o sal. Outro exemplo é o caso de uma empresa Inglesa que, através das algas, está a desenvolver garrafas de água comestíveis. Para além de água, será possível usar esse tipo de embalagem sustentável com outras bebidas. As algas marinhas, quando usadas como material de embalagem, para além de não causarem impacto negativo no ambiente, são mais baratas do que o plástico.

No que toca às embalagens de géneros alimentícios, a empresa Sueca Tomorrow Machine criou recipientes para óleo feitos de açúcar caramelizado e cera, potes para shakes feitos de algas e pacotes de arroz fabricados com cera de abelha biodegradável. Estas embalagens têm exatamente o mesmo prazo de validade que os alimentos que contêm. A empresa New Wave Foods já criou camarão à base de um substituto de algas e atualmente está trabalhando na criação de lagosta e caranguejo.

4 - Outras tendências

Scanner para medir os nutrientes da amendoa

Fotografia | Tellspec

Tudo indica que chegaremos ao dia em que as impressoras 3D consigam cozinhar, imprimir e servir alimentos. A designer holandesa Chloe Rutzerfeld sugere misturar alimentos, jardinagem e impressão 3D. Primeiro, uma carcaça externa é impressa com base numa massa que contém terra comestível e várias sementes. Depois de alguns dias, as sementes começam a crescer e saem de pequenos furos do invólucro. Por enquanto, o projeto ainda é uma utopia.

Se o processo de sequenciamento do ADN ficar mais acessível em termos de custos e for possível fazê-lo em casa, poderíamos usar uma aplicação de forma a saber que alimentos devemos ou não comer para sermos mais saudáveis, produtivos e para melhorar a qualidade do sono. Não existe uma dieta ideal para todos, certamente aparecerá o conceito de dietas altamente individualizadas com base no ADN.

Já se encontra à venda um scanner de alimentos desenvolvido pela empresa TellSpec que, ao apontá-lo para o alimento consegue detetar contaminações, presença de químicos, ou mesmo substâncias com potencial alergénico. Uma verdadeira análise de inteligência artificial, em tempo real usando sensores portáteis de baixo custo. Um dispositivo espetroscópico com capacidade de análise de alimentos líquidos ou sólidos, solo, combustíveis e tabaco.

A comida do futuro decerto será produzida com recurso a uma agricultura diferente com especial ênfase nas plantações verticais, aperfeiçoamento genético de sementes, mas também valorizando os processos artesanais, os pequenos produtores e a origem dos ingredientes. Vamos comprar, cozinhar e comer de forma consciente e sustentável, dando privilégio aos produtos locais e, respeitando a sazonalidade.

Rumaremos ao futuro sem perder de vista o passado!